GUINÉ-BISSAU: QUE IMAGEM? (3)

Ontem, 23.03.2009, logo pela manhã, comecei a receber mensagens electrónicas anexadas com imagens dos cadáveres dos generais João Bernardo "Nino" Vieira e Tagme Na Waie.

Na verdade, era a primeira vez que via essas imagens. Verdade seja dita, como ser humano que sou, como adepto e defensor da vida, não podia ficar insensível a tamanha monstruosidade.

Não sei se houve alguém que alguma vez ousou desafiar quer Nino Vieira, quer Tagme Na Waie, pacificamente, como eu os desafiei publicamente ao longo destes anos.

Não sei se houve alguém que alguma vez demonstrou não ter medo destes 2 ex-todo-poderosos da Guiné-Bissau, denunciando-os e enfrentando-os perante intimidações diversas, como por exemplo ameaças de morte à minha pessoa, para além de insultos e calúnias aos meus familiares.

Não sei se houve alguém declaradamente opositor a Nino Vieira nestes últimos anos, tal como eu fui!

É claro que a minha oposição ao Nino nunca se relacionou com qualquer disputa pelo poder, mas sim, no âmbito da cidadania e, em defesa de princípios e valores universais ignorados na Guiné-Bissau durante os anos do seu exercício de poder enquanto presidente da República.

Certamente, a maioria dos guineenses sabe dos pecados, dos actos monstruosos, que Nino Vieira cometeu ao longo dos anos em que esteve no poder.

Certamente todos sabemos que alimentados por Nino Vieira, muitos outros pequenos monstros foram crescendo num viveiro próprio, feito à medida e imagem de Nino Vieira.

As imagens que desde ontem circulam na Internet não merecem destaque no site www.didinho.org (tal como as que anteriormente tinham sido divulgadas na Internet e nalguns órgãos de Comunicação Social em relação ao local onde Nino foi morto, bem como ao edifício do Estado-Maior após a explosão da bomba que vitimou Tagme Na Waie), não por condenação ao acto de fotografar, filmar e publicar imagens, sabem o que penso sobre isso, mas porque, apesar de serem imagens sensíveis, não passam de lamentáveis e condenáveis pela forma como os actos criminosos foram perpetrados.

Em contrapartida, chamo a atenção para o facto de que, desde o regresso de Nino Vieira à Guiné-Bissau, em Abril de 2005, que o site www.didinho.org exibe na sua primeira página, as imagens dos bombardeamentos do CIFAP, do último dia da guerra de 98/99, e em que morreram só nesses bombardeamentos, entre 80 a 90 pessoas. Essas imagens ainda continuam a ser chocantes, ainda continuam a mexer comigo por estar continuamente a lembrar aos familiares dessas vítimas, a tragédia que foi a perda dos seus entes-queridos, da forma brutal e, assumida que foi, por Nino Vieira, quando no seu tom demoníaco dizia: "guerra é guerra...".

Estas imagens, também são lamentáveis e condenáveis, mas são muito mais do que isso!

As imagens dos bombardeamentos do CIFAP mostram-nos a matança do nosso povo por alguém que esteve no poder, alimentou e sustentou uma guerra com vidas humanas; que foi afastado do poder, exilando-se em Portugal durante 6 anos, para depois regressar à Guiné-Bissau, como se nada tivesse acontecido...

As imagens do CIFAP foram conscientemente publicadas e mantidas no nosso site para avivar a memória dos guineenses, sobre quem fez deles bonecos para o tiro ao alvo durante a guerra de 98/99. Infelizmente, a maioria dos guineenses só aprende a lição quando a desgraça bate à porta de cada um, pois enquanto é a porta do vizinho...está tudo bem! Foi assim que Nino regressou em Abril de 2005, tornou-se presidente, houve mais mortes, até que calhou a ele próprio...para depois, os seus, pedirem para pararmos de nos matar uns aos outros. Um pedido que deve ser respeitado e, obviamente, tomado em conta por todos, pois ainda que possa parecer tardio, é caso para recordar a velha máxima: "Nunca é tarde..."!

Pergunto: Quantos se posicionaram publicamente pela condenação das matanças que as imagens dos bombardeamentos do CIFAP nos revelaram?

Onde está a sensibilidade das pessoas, muitas das quais na altura, achavam que essas imagens do CIFAP só serviam para criar fricções entre os guineenses?!

Mas acreditem, no CIFAP morreram pessoas inocentes, por culpa dos senhores da guerra, entre eles, João Bernardo "Nino" Vieira e Tagme Na Waie.

Conflito armado de 98/99, bombardeamento do CIFAP, senhor da guerra: Nino Vieira

Creio que se as imagens da residência de Nino Vieira, foram tão fortes ao ponto de conseguirem criar uma postura de condenação pela monstruosidade que se adivinhava ter sido a sua morte, certamente, as imagens do seu cadáver deixarão na maioria das pessoas apenas uma palavra: Porquê?

Quem pode desejar uma Guiné-Bissau positiva utilizando meios bárbaros, tais como usados por Nino Vieira noutras circunstâncias, para em nome de um qualquer ajuste de contas, tornar-se também num monstro vivo e escondido debaixo de uma capa, não se sabe até quando?!

Não serão os mesmos "especialistas" de um grupo original mais amplo e, de há uns anos a esta parte, reduzido pelas disputas intestinas e auto-eliminação de supostos camaradas do mesmo "bando", que estarão a cometer estas chacinas e, provavelmente, a mando de um qualquer cartel a que Nino Vieira e Tagme Na Waie teriam hipotecado o país?!

Mas é claro que os militares facilitaram na morte de Tagme Na Waie, e o próprio Zamora Induta, proposto pelo governo de Carlos Gomes Jr. como Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, admitiu-o...!

Mas também foram os militares que facilitaram ou participaram na chacina de Nino Vieira e isso deveria, igualmente, ter sido admitido por Zamora Induta e não foi!

Não preciso justificar que não estou aqui a ilibar Nino e Tagme do mal que representavam em vida, para a Guiné-Bissau. Não sou hipócrita, nem o cinismo faz parte da minha maneira de ser.

Estou aqui para diferenciar uma vez mais, o meu posicionamento sobre questões de imagem em relação à Guiné-Bissau!

Cultivamos e incentivamos o exercício da mente, desafiamos e exigimos a liberdade de expressão, pois é através da manifestação e divulgação do pensamento (ideias e opiniões), que qualquer ser humano começa por ser útil à sociedade! Fernando Casimiro (Didinho)