GUINÉ-BISSAU: QUEM SERÁ A PRÓXIMA VÍTIMA?
Secuna Baldé * 08.04.2010 Foram longos e duros anos de luta de libertação nacional, muitos homens, mulheres e jovens deram suas vidas em troca do bem-estar do seu povo, da Liberdade, justiça, honestidade, ética, respeito, transparência e dignidade. Esses mesmos Homens e Mulheres que um dia acreditaram que essa pátria iria fluir e ser amada, que sol e suor, séculos de dor e esperança, sonhos de ter e construir uma pátria digna, na liberdade, paz e progresso como irmãos do mesmo tronco e que tinham olhos na mesma luz. Sonhos esses que levaram a unir forças para lutar e libertar a Guiné do jugo colonial português.
Hoje todo mundo questiona: onde foram parar todos esses valores, que eram verdadeira ideologia da luta de libertação nacional? A que ponto chegamos, senhores! Onde está o decoro parlamentar e a dignidade de quem foi eleito para defender os interesses da nação? Onde está o Supremo Tribunal de Justiça? E onde está a Procuradoria-Geral da República?
Caros irmãos Guineenses vamos expor nossa revolta, o país que queremos para nossos filhos e netos não é este. Um pais conhecido no mundo, como cemitério dos Generais, e como é chamado no Brasil e em outros cantos do mundo.
Em apenas 13 anos de palhaçada política e de invenções de golpes de estado na Guiné-Bissau, a sociedade política guineense perdeu Generais, Políticos e Presidente da República.
Agora resta questionar quem será a próxima vítima: eu, você ou ele?
Esses homens foram mortos em nome de quê? Quem matou ou quem mandou matar?
A Sociedade guineense quer saber a verdade, o mundo quer saber a verdade, é para isso que serve a justiça. Queremos a verdade. Ou será que estamos pedindo demais? Senhores, esposas e filhos desses homens ainda esperam por justiça, até quando tudo isso será esclarecido? Até quando será feita a justiça? E quando é que os guineenses vão tomar a consciência que matar não é solução? Ou tudo isso vai ficar impune tal como ficou o caso 17 de Outubro, em que Homens inocentes que saíram de casa para o trabalho no dia 17 de Outubro nunca mais voltaram; outros que foram acordados na cama ao lado da esposa e dos filhos, amarrados e humilhados para depois serem levados; alguns envenenados, outros torturados de várias formas, entre eles alguns que foram castrados feito animais em nome de quê e de quem?
Senhores tenham piedade, o povo de Guiné já está cansado da burrice, banhos de sangue cometidos por pessoas de baixo nível, senhores que não têm noção que ainda existem crianças que esperam pelo pai na mesa de jantar e cada vez que passa um carro elas pensam que chegou o pai, enquanto as esposas clamam, choram e questionam pela justiça.
Apesar de tudo isso ainda existem homens sem piedade, é de cortar o coração, quando escutamos homens selvagens declararem publicamente que vão matar ou vão fazer barbaridade, em nome de quê? Sinceramente é de cortar o coração, e me leva a questionar, quem será a próxima vítima?
Camaradas, a Guiné-Bissau é um pequeno Estado africano que contrariamente à sua dimensão, sempre foi dos territórios coloniais o que maior resistência apresentou face ao colonialismo e também onde a luta de libertação nacional foi a mais dura e eficaz. Foi a primeira colônia portuguesa a proclamar, unilateralmente, a Independência, no dia 24 de setembro de 1973, só reconhecida por Portugal a 11 de Setembro de 1974.
É atualmente o Estado lusófono que ocupa a posição mais baixa no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Cerca de três quartos dos seus 1,4 milhões de habitantes são atingidos pelo fenômeno da pobreza, é um dos países mais pobres do mundo e, nos últimos anos, o país transformou-se no centro da rota do tráfico de cocaína da América do sul para a Europa e altos cargos do Governo e chefes militares têm sido apontados como fazendo parte deste negócio ilegal.
Segundo o relatório do Índice Desenvolvimento Humano (IDH), criado pela ONU para avaliar o bem-estar humano, a Guiné-Bissau encontra-se em 172º lugar num total de 177 países.
Camaradas, está à vista a maior prova de que perdemos o bom senso e a noção de justiça e de ética. Os escândalos, a corrupção, os maus tratos com o povo e os comportamentos psicopatas dos nossos governantes e militares geram ainda mais incertezas. As revoltas militares, golpes de Estado, assassinatos bárbaros, perseguições políticas, acusações e detenções dentro da esfera política. Desde o levantamento político militar de 7 de junho de 1998, segundo fontes do governo da Guiné-Bissau houve mais do que seis tentativas de golpe de Estado.
Onde estão os valores da sociedade em que vivemos? Como se distinguem? Camaradas, nesta situação que vive o nosso país, parece que já não sabemos diferenciar valor de contra-valor permissivo e passivo de hoje. O aviltamento dos padrões éticos, a falta de legitimidade das instituições e sua crescente deterioração e a falta de punição aos que legitimam os contra valores minam e paralisam nossa capacidade de reação. As besteiras cometidas pelos nossos Governantes e Políticos nos levam a não acreditar mais no fulano e nem tão pouco no sicrano.
“Reparar um assassinato com outro assassinato é impossível. A vingança ou a reparação talvez satisfaçam a um desejo, mas não conseguem trazer a paz e elevar a humanidade a um patamar mais alto”.
Gandhi
Onde foi parar, o artigo 17, alínea 1º da Constituição da República? Que diz: É imperativo fundamental do Estado criar e promover as condições favoráveis à preservação da identidade cultural, como suporte da consciência e dignidade nacionais e factor estimulante do desenvolvimento harmonioso da sociedade. O Estado preserva e defende o patrimônio cultural do povo, cuja valorização deve servir o progresso e a salvaguarda da dignidade humana.
Parece que ninguém tem mais tempo de ler, só se preocupam em eliminar o próximo, derrubar o governo, inventar golpes e escândalos, deputados eleitos por nós, nossos representantes no parlamento, trocaram sua dignidade e a confiança dos eleitores pela mercantilização da sua posição politica – favores, apadrinhamentos, cargos, tudo com o fim de garantir a permanência no poder. Tenho plena certeza que nenhum deputado ou qualquer outro governante que seja, se preocupa em agendar visitas às nossas crianças nos Hospitais ou fazer visitas às Escolas Públicas, e nem tão pouco se preocupam com outros que andam pelas ruas de Bissau vendendo amendoim (mancara) para sustentar os pais desempregados ou com salários atrasados e mal pagos.
Camaradas, estamos fartos de promessas e tão pouco surpresas, nada mais faz sentido de tudo o que dizem os dirigentes Guineenses, já provaram as vossas incapacidades e desrespeito com o povo. Falta de ética, transparência, falta de seriedade e eficiência no gerenciamento das contas e gastos públicos, essas práticas não combinam com os avanços democráticos que conquistamos. Porque a democracia implica leis funcionais, sem formalismos jurídicos.
Para onde vão os recortes da arrecadação das alfândegas e das finanças, etc.? Caros compatriotas o governo é criado para gerir e servir o povo, mas na Guiné é para recolher milhões em taxas e impostos sem devolver nada para a população. Eles mesmos consomem os 50% do PIB.
Senhores que nos envergonham, que envergonham cada bom filho daquele país. Ontem, na esquina da rua de minha casa vi passar amigos, colegas e estudantes, Guineenses comprometidos e preocupados com o futuro daquele país, envergonhados e tristes com a situação que está a acontecer e acontece na Guiné. Um colega olhou para mim e perguntou: ainda voltas para a Guiné? Quando olhei nos olhos dele, vi desespero e tristeza, fiquei paralisado e passados alguns minutos escutei o meu telemóvel a tocar era um velho amigo da faculdade na graduação - disse Baldé - você já soube o que está acontecendo na Guiné? Sim já – ele - sinto muito amigo. E eu, respondi com um tom triste - tudo bem, obrigado companheiro.
Na manhã seguinte tinha reunião marcada às 9:00 horas com alguns colegas na Pró-Reitoria de Pós-Graduação Pesquisa e Extensão (UNIPÊ), João Pessoa-Paraíba, Brasil, cheguei um pouquinho atrasado, já tinha começado a reunião, ao entrar no auditório, parou todo mundo olhando para mim, e o Diretor do Departamento se dirigiu até a mim, e perguntou, você já teve notícias da sua família? Respondi que sim, e ele disse, coragem, tudo vai dar certo, vimos na TV o que está acontecendo no seu país, tenha coragem e fé que tudo vai acabar bem.
Agora convido os senhores para refletirem um pouco comigo diante dessa situação. Nessa reunião havia outras pessoas de diferentes nacionalidades, alguns oriundos de países Africanos, principalmente Lusófonos, essa não era a primeira vez que estava sendo encorajado por situações patéticas que acontecem no nosso país, acredito que estas cenas se repetem com milhares de Guineenses espalhados pelo mundo.
Estamos cansados de ser humilhados, desrespeitados e injustiçados. Vamos levantar a bandeira dos valores que aprendemos, eliminar os contra-valores, voltar a sentir orgulho, divulgar as boas ações, as boas práticas, os valores verdadeiros e fazer da Guiné um país digno e justo, que traga futuro para todos nós. Somos a matéria-prima desse país e temos muitas coisas boas, mas falta-nos ainda muito para sermos os homens e mulheres que nossa a Guine precisa. Esses defeitos, essa ESPERTEZA GUINEENSE congénita, essa desonestidade em pequena escala, que depois cresce e evolui até converter-se em casos de escândalo, essa falta de qualidade humana, real e ruim, tem que acabar.
A responsabilidade é de todos nós!
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