GUINÉ-TELECOM: O ALERTA
LANÇADO EM 2003/2004
Por: Fernando Casimiro (Didinho)
didinho@sapo.pt
25.07.2007
Hoje chegaram-me notícias preocupantes sobre a
Guiné-Telecom!
Guiné Bissau |
Estado deve 30
milhões de euros à Guiné Telecom, acusa a PT
O Estado da Guiné-Bissau deve 30 milhões de euros à Guiné Telecom,
detida em 40 por cento pela Portugal Telecom, estando a empresa
luso-guineense a aguardar desde Outubro de 2006 um sinal do governo
para desbloquear a situação.
A situação foi confirmada pelo presidente do Conselho de Administração
da Guiné Telecom, o português Guilherme Aniceto, que afirmou que a
empresa foi obrigada a parar com os investimentos no país.
"O Estado da Guiné-Bissau nunca pagou as contas telefónicas, nem os
serviços que lhes temos prestado. Nunca cumpriu com os contratos
assinados em 2004. O Estado da Guiné-Bissau deve-nos 30 milhões de
euros e assim é difícil continuar a investir na Guiné-Bissau", referiu
Guilherme Aniceto.
Segundo o presidente do CA da Guiné Telecom, até hoje, a Portugal
Telecom investiu na sua congénere guineense mais de 10 milhões de
euros, quer nos serviços de telefone fixos quer nos da rede móvel - à
empresa pertence também a GuinéTel, um dos três operadores de
telemóvel.
Guilherme Aniceto lembrou que a última reunião do governo guineense
com a Guiné Telecom, que incluiu uma delegação da PT, ocorreu em
Outubro de 2006, tendo durado "cerca de 15 minutos, para se chegar à
conclusão de que era inconclusiva".
O executivo da Guiné Telecom denunciou "a falta de diálogo" do
executivo de Martinho Ndafa Cabi.
A Lusa tentou contactar o ministro dos Transportes e Comunicações da
Guiné-Bissau, José Manuel Gaspar Fernandes, antigo presidente do
Instituto das Comunicações da Guiné-Bissau (ICGB), mas sem sucesso.
Hoje, num comunicado, os directores guineenses da Guiné Telecom
afirmaram que a empresa pode encerrar as portas e deixar de fornecer
comunicações fixas e móveis da sua rede, uma vez que a PT está a
suspender investimentos porque o governo guineense não quer negociar e
pagar os serviços prestados pela empresa.
"A administração propõe começar a fechar a partir de certo período de
horário determinadas estações no interior, isolando populações, com o
objectivo de economizar combustíveis", denuncia o documento da
direcção da empresa enviado a Gaspar Fernandes, com conhecimento para
a Lusa, em Bissau.
O documento refere também que a empresa se encontra num "beco sem
saída, encontrando-se incapacitada para pagar os salários do presente
mês e uma avultada dívida à Petromar (empresa fornecedora de
combustíveis), facto que põe em risco o abastecimento dos geradores,
com consequências dramáticas para as comunicações do país".
A direcção guineense da empresa defende, no documento datado de 11 de
Julho, uma "negociação urgente entre o Estado da Guiné-Bissau e a
Portugal Telecom como condição para a resolução de todos os
problemas".
A Guiné Telecom é detida em 60 por cento pelo governo guineense e os
restantes 40 por cento pertencem à PT, depois do acordo de concessão
assinado em Julho de 2004.
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Directores da
Guiné Telecom alertam para possibilidade de fecho
A empresa guineense Guiné Telecom, participada em 40 por cento pela
Portugal Telecom, pode encerrar as suas portas e deixar de fornecer
comunicações por telefones fixo e móvel, segundo um comunicado hoje
divulgado.
Segundo o documento, assinado pelos directores guineenses da empresa,
a Portugal Telecom está a suspender investimentos porque o governo
guineense não quer negociar e pagar os serviços prestados pela Guiné
Telecom.
"A administração propõe começar a fechar a partir de certo período de
horário determinadas estações no interior, isolando populações, com o
objectivo de economizar combustíveis", adianta a nota da direcção da
empresa enviada ao ministro dos Transportes e Comunicações da
Guiné-Bissau.
O documento refere também que a empresa se encontra num "beco sem
saída, incapacitada para pagar os salários do presente mês e uma
avultada dívida à Petromar, o que põe em risco o abastecimento de
combustível, com consequências dramáticas para as comunicações do
país".
A direcção da empresa defende, no documento datado de 11 de Julho, uma
"negociação urgente entre o Estado da Guiné-Bissau e a Portugal
Telecom como condição para a resolução de todos os problemas".
"Chamamos a atenção do Governo de que a situação vigente não pode
perdurar, sob pena de conduzir a Guiné Telecom a uma falência
imediata, com consequências graves para as comunicações fixas
nacionais, bem como as comunicações móveis a nível da GuinéTel
(empresa responsável pela rede móvel da Guiné Telecom), e
consequências sociais para os mais de 300 trabalhadores da empresa",
acrescenta-se no documento.
A direcção alerta igualmente que o "desaparecimento da Guiné Telecom e
da GuinéTel terá repercussões ao nível da atracção de investimento
estrangeiro, para além de ser a primeira vez na história das
comunicações mundiais em que uma empresa operadora histórica,
nacional, desaparece como consequência do desentendimento entre o
accionista Estado e o accionista estrangeiro".
Sessenta por cento da Guiné Telecom pertence ao Estado guineense e 40
por cento à Portugal Telecom, depois do acordo de concessão assinado
em Julho de 2004.
A administração da Guiné Telecom é assumida pela Portugal Telecom.
Fonte:
www.noticiaslusofonas.com |
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Do meu arquivo de 2003/2004 faço questão de
reavivar as minhas reflexões de então, no sentido de, uma vez mais, tentar
ajudar com os meus pontos de vista, pese embora os tempos serem outros.
Boa leitura!
Guiné-Telecom
O
polémico caso que envolve o Estado guineense, através da Guiné-Telecom / Guinétel e o Estado português, pela Portugal -Telecom, pode vir a clarear
situações até aqui fora do alcance de análise
directa
das influências do Poder. Quando se criam parcerias empresariais através de
comissões mistas entre países, essas parcerias assumem o estatuto de assuntos
de Estado. Qualquer assunto de Estado é delicado, porque o Estado é uma Nação,
o Estado tem o poder de decisão e de
execução
sobre pessoas e bens dentro do aglomerado que o constitui. O Estado tem ainda,
entre outros poderes e deveres, a representatividade e a defesa dos seus cidadãos
e dos seus bens patrimoniais. A Guiné-Bissau e Portugal, negociaram e
concordaram na concessão por parte
da
Guiné-Bissau, da exploração das redes de telecomunicações a Portugal, através
da Portugal -Telecom, por um período de vinte anos. Este acordo foi celebrado
em 1989 e contemplou entre outros bónus, a criação duma empresa de capitais
mistos, denominada Guiné -Telecom, com 51% de participação de capitais da
Portugal -Telecom e 49% por parte do Estado guineense. Estes acordos foram
rubricados dentro das normas do Direito Internacional e da Cooperação entre
Estados, tendo-se processado todos os trâmites legais para o efeito. Ora se
numa primeira fase, ou seja a fase de criação e estruturação da Guiné -Telecom
se deram passos acelerados para a conquista do mercado pela Portugal -Telecom,
foi porque o projecto tinha sido objecto de estudo prévio, contemplando
calculismos de acção que seriam geridos de forma lógica. Numa concepção
filosoficamente empresarial, o lucro é a essência para a estabilidade e projecção
duma empresa. Este conceito, após os primeiros anos da criação da Guiné -Telecom,
tornou-se mais que motivo de ponderação das acções de investimento em novos
projectos que visassem a expansão e modernização das redes de telecomunicações
por parte da Portugal -Telecom na Guiné-Bissau. O lucro não é um retorno de
investimento para as empresas na Guiné-Bissau, mas sim para individualidades
que dirigem os destinos do país, chegando ao ponto de se aproveitarem das posições
que ocupam para inclusivamente se intrometerem em assuntos delicados como são
os casos de empresas de capitais mistos, com estatutos especiais definidos, afim
de movimentarem as receitas correntes. Para mais, dos poucos milhares de
telefones fixos existentes no país, o grosso das altas personalidades civis e
militares bem como a totalidade das repartições do Estado, ninguém paga a
sua factura telefónica....São milhões e milhões, seja em Francos CFA, seja
em Dólares americanos, seja em Euros, que se vão acumulando e ninguém
paga...Como pode uma empresa promover a sua manutenção ou pensar em modernização,
quando os factos são mais que elucidativos...?! Se por um lado, dentro do espírito
de cooperação para o desenvolvimento, a Portugal -Telecom devia ser mais
activa nas suas responsabilidades, por outro, a inexistência dum princípio de
assunção do conceito de Estado por parte das autoridades da Guiné-Bissau
sempre
entravou
a possibilidade de discussão em local e hora próprios dos problemas que
enfrenta o sector das telecomunicações na Guiné-Bissau.
26.
12. 2003
Esta
inércia de ambas as partes, fez adormecer o espírito construtivo e
objectivo delineado aquando da criação da Guiné-Telecom, tendo os focos de
instabilidade política na Guiné-Bissau contribuído para o restante do
esfriamento, quer nas relações entre as partes envolvidas, quer na gestão e
produção de serviços da Guiné-Telecom.
Se
as infra-estruturas eram poucas, o conflito militar de 1998/99 contribuiu ainda
mais para a sua degradação e destruição.
Entretanto,
com a alegada normalização da situação e a realização de eleições em
2000, a Guiné-Bissau, fruto da inexperiência e arrogância dos seus
governantes, descuidou a análise da situação dos vários acordos
internacionais que subscreveu, bem como as parcerias em que estava envolvida por
forma a orientar, redefinir ou renegociar esses acordos e parcerias.
É
à Guiné-Bissau, na qualidade de país concessivo, que importa actualizar os
moldes dos contratos assinados, dentro dum espírito negocial pacífico,
realista e acima de tudo, objectivo. Os contratos para serem válidos têm que
ser juridicamente reconhecidos e estando, só por via jurídica se podem também
rescindir.
A
Guiné-Telecom, criada e registada como empresa de prestação de serviços na
área das telecomunicações, com estatuto próprio e administração delegada
em conformidade com os interesses de ambas as partes, foi substituída na área
que desempenha, por uma nova empresa denominada Guinétel, no período do
governo de iniciativa presidencial de Kumba Yalá. Este acto inadmissível nas
normas do Direito Internacional pela forma como foi concretizado, veio
demonstrar a prepotência reinante no país, bem como a notória falta de
sentido de Estado, na sua missão de apaziguador e não incentivador de
conflitos.
O
argumento base para justificar esta alienação e usurpação de património é
mesquinho, mas deveras esclarecedor no que à sensibilidade dos governantes
guineenses para com as realidades do país diz respeito.
A
Guiné-Bissau resolveu rescindir unilateralmente o contrato de concessão de
exploração das redes de telecomunicações com a Portugal-Telecom, bem como
decidiu criar uma nova empresa denominada Guinétel, em que o Estado guineense
é o accionista maioritário com 90% do capital, sendo os restantes 10%
pertença dos funcionários da dita empresa. Funcionários estes que, transitam
da Guiné-Telecom sem serem despedidos, nem consultados sobre as suas vontades.
Todos
estes atropelos foram argumentados com a não colocação de rede móvel (!!!)
na Guiné-Bissau, por parte da Portugal-Telecom. A nova empresa denominada
Guinétel, aproveitando o facto de já haver redes digitalizadas criadas pela
Portugal-Telecom, avançou com o processo de concurso internacional para o
licenciamento de redes móveis na Guiné-Bissau.
A
Portugal-Telecom reagiu, propondo concertação e diálogo. A Guiné-Bissau
entendeu que a decisão já estava tomada e era acertada.
Com
o golpe de Estado de 14 de Setembro e o derrube de Kumba Yalá, estando o país
num período de transição, convinha retomar esta questão, de extrema
importância a nível do relacionamento entre a Guiné-Bissau e Portugal,
pois como referi, este assunto é um assunto de Estado.
27.
12. 2003
Tratando-se
de assunto de Estado, a este diferendo foi concedida atenção especial por
parte do presidente interino da Guiné-Bissau, Henrique Rosa, que na sua visita
de Estado a Portugal, em Novembro de 2003, terá sido abordado sobre a
delicadeza do problema.
Problema
esse que teria que ser revisto pelas novas autoridades da Guiné-Bissau, como
forma de se legitimarem nas suas próprias pretensões de mostrar o espírito de
implementação da legalidade institucional no país.
Por
outro lado, a estratégia de Henrique Rosa em escolher Portugal como
intermediário de peso junto da Comunidade Europeia e outros organismos
internacionais, no sentido da intercessão pelo reconhecimento das autoridades
saídas do golpe de Estado, teria necessariamente que acelerar a revisão pela
parte guineense, do processo litigioso com a Portugal-Telecom.
De
regresso ao país, Henrique Rosa deu orientações no sentido de se encontrar
solução para o caso. Inicialmente, o presidente foi mal interpretado, tendo
inclusivamente sido apontado como defensor de interesses portugueses na
Guiné-Bissau.
Henrique
Rosa no entanto, chamou a si as partes directamente envolvidas no processo e
entre elas, o sindicato das telecomunicações, para lhes dar conta das
ilegalidades em todo o processo, ou seja: desde a rescisão unilateral do acordo
de concessão da exclusividade à Portugal-Telecom, da extinção da
Guiné-Telecom, da criação da Guinétel e dos concursos de atribuição de
redes móveis na Guiné-Bissau.
O
presidente foi mais longe ainda, quando rejeitou a promulgação do decreto da
criação da Guinétel, por considerar o processo da sua constituição lesivo
aos interesses nacionais.
O
presidente que anunciou a sua decisão ao Conselho Nacional de Transição,
argumentou a sua recusa nos pareceres jurídicos prestados por especialistas da
área, pois, disse: A Guiné-Bissau " é um Estado de Direito, que tem por
isso de pugnar pela legalidade".
Entretanto,
o governo discordou da posição do presidente, prometendo recorrer.
Aqui
deparamo-nos com uma realidade emergente, que convém analisar, que é a falta
duma instância própria para a arbitragem de disputas entre a presidência da
República e o governo. Urge criar um Tribunal Constitucional. Os Tribunais são
órgãos de soberania, não faz sentido assuntos de Estado serem encaminhados
para fora de instituições que não constam como sendo órgãos de soberania.
Face
ao ressurgir dum ambiente de bom relacionamento entre a Guiné-Bissau e
Portugal, consequente da estratégia acertada de Henrique Rosa, as várias
entidades guineenses afectas ao processo "Guiné-Telecom", acabaram
por reconhecer que era preciso dialogar, respeitando as normativas do acordo
assinado em 1989, o que não dispensa a necessidade de revisão conjunta do
mesmo acordo, dado a própria realidade actual quer da Guiné-Bissau, quer da
Portugal-Telecom.
E
é nessa ordem de ideias que se deu um passo importante com o "Acordo de
Princípio" anunciado em Bissau, depois de negociações entre ambas as
partes com vista à resolução negocial do caso.
Outros
encontros não faltarão, de modo a que rapidamente se ultrapasse esta crise e
se tracem novos desafios numa concepção mais realista dentro do espírito da
cooperação para o desenvolvimento.
Às
partes se pede
consenso, respeito
e
confiança,
para
que os erros do passado sirvam de material de consulta, num arquivo sempre
presente e denominado
"
Memórias de Aprendizagem "...
Fernando
Casimiro (Didinho)
www.didinho.org