Identidade Nacional: Problema Africano **
Mamadú Baldé *
25.01.2010
A constituição de uma Nação moderna é, antes de mais, um processo multidimensional que envolve várias dimensões, aspectos e todos os quadrantes de uma sociedade. É um processo muito longo, no caso, por exemplo de alguns países durou séculos.
Quando falamos da constituição de uma Nação não estamos perante um país não consolidado juridicamente mas estamos num campo de Identidade Nacional, que representa aceitação generalizada e, colocado em primeiro plano, pelo povo. Não existe contradição nenhuma em dizer que grande parte dos países africanos ainda não atingiu este estádio. Alcança-lo é, por si só, um processo complicado e muito transversal aos Estados, sobretudo quando falamos em África, onde as ambiguidades aumentam, pois trata-se, sempre, de uma pretensão que visa levar várias povos, cada um com a sua cultura, língua e símbolos, por outras palavras cada um com a sua Identidade Étnica. E abdicar dele para identificar com outros conjuntos como sendo dele por representar a Nação é um processo, que não podia deixar de ser, complexo. É complicado porque são símbolos que nos habituamos a ter como primários, mas também porque envolve a questão linguística e este ponto afigura-se como uma “pedra no sapato”, demasiado difícil de resolver sobretudo porque a Educação não tem sido área privilegiada pelos governantes africanos.
No seu livro A Política Linguística: Princípios e Problemas, o Moçambicano Armando Jorge Lopes aborda esta questão de forma genial, defendendo a introdução das línguas africanas nas escolas e nos tribunais do seu país, o que é correctíssimo por entre razões pela justiça, pois para se ter acesso a justiça é preciso compreender a língua que dá justiça, que por si só, já é complicado pois envolve termos jurídicos. Mas também porque está provado linguisticamente que é benéfico para as crianças possuírem mais de uma língua e assim como apreenderem nas suas línguas maternas, por sinal línguas africanas. Falar de Moçambique é uma metáfora, uma forma de tomar parte pelo todo, este problema é, quase, generalizado da África.
Os países da África (con) vivem, hoje, com fronteiras delineadas, ou, acertadas na Conferência de Berlim, um facto que não implica que as fronteiras naturais estejam desaparecidas, antes pelo contrario, continuam lá e manifestam-se sempre, agravando a situação da construção da Identidade Nacional, quer pelo facto de separar etnias e famílias, e os que por vezes estão separados pela fronteiras estão mais unidos pois partilham identidade étnica, quer dizer que ao invés de prevalecer Identidade Nacional privilegia-se Identidade Étnica. Mas a gravidade da situação encontra-se na forma dos governantes revelarem incapacidades na monitorização de esforços conjuntos e obtenção de atenções das etnias para a criação de uma Identidade Nacional como consequência da resolução ou remédio das “Nações legais” que o fim do colonialismo não ousou mudar. E se a isso acrescentamos a questão das línguas do colonialismo é compreensível a posição do escritor Nigeriano Ngugi Wa Thiongo no seu livro Decolonising the Mind onde consta sugestão, talvez um tanto ou quanto radical mas legitima, de acabar com as línguas coloniais em África, aliás este escritor decidiu passar a escrever na sua língua materna e não na europeia.
É de pensar com serenidade e imparcialidade esta questão das línguas oficiais em África. No caso particular da Guiné-Bissau ela é a chave que encerra o círculo reduzido às elites nacionais, os mesmos de sempre, pelo simples facto de serem os que dominam a língua. Parece-me evidente que estas línguas constituem um “bem prestígio” acessível só para alguns ao invés de ser um “bem de primeira necessidade” a construção da Identidade Nacional na sua vertente linguística encontra-se barrado por este estrondoso obstáculo, que é evidente ser do agrado dos nossos governantes visto que os seus filhos têm acesso a ele e isso serve para que no futuro sejam eles a substitui-los sob ponto de vista de ser um das ferramentas indispensáveis, salvo algumas excepções de cunhas, para assumir qualquer posição de relevância.
É caso para perguntar onde está a preocupação com a educação como bem fundamental consagrado pela Carta das Nações Unidas?
A construção de uma Identidade Nacional em África, para além da questão de tempo, tal como todos, só será concretizada se:
A resolução de questões das línguas oficiais não obedecer aos interesses das elites;
Prevalecer a Unidade Nacional acima do étnico;
Governos africanos flexibilizarem a convivência nas fronteiras;
Vejo a consolidação positiva deste problema no caso
da Guiné-Bissau com algum optimismo, julgo que a questão étnica vai-se diluindo
com o tempo, fruto das mestiçagens étnicas. É caso para dizer que estamos como
Guimarães Rosa in Terceira Margem do Rio”, ou seja, a terceira via, fruto da
impulsão dos jovens miscigenados.
** Constitui parte de um trabalho elaborado ao abrigo da licenciatura de Estudos Africanos pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, 2009, cadeira de Civilizações e Culturas Africanas.
* Finalista da licenciatura de Estudos Africanos na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa
ESPAÇO PARA COMENTÁRIOS AOS DIVERSOS ARTIGOS DO NÔ DJUNTA MON -- PARTICIPE!
A TER SEMPRE EM CONTA: Objectivos do Milénio
VAMOS CONTINUAR A TRABALHAR!
Projecto Guiné-Bissau: CONTRIBUTO