Imagine… a beleza está na diferença.
correiodesandramexia@gmail. 16.05.2013 Estamos a evoluir devagar, mas estamos a evoluir… Primeiro, como seres humanos, demorámos séculos a reconhecer as crianças como seres pensantes, dotados de sentimentos e de características específicas em diversas fases do seu crescimento. Depois, começámos timidamente a incluir diferenças étnicas e culturais apelando à não descriminação. Agora estamos no tempo de olharmos para as crianças que nascem com características individuais desviadas dos padrões aceites como normais, ou de desenvolvimento normal, como sejam as crianças com diversos graus de surdez, cegueira, autismo, afasia, paralisia cerebral, sobredotados, etc… Estas crianças não são “deficientes”. Atente-se bem nos verbos “ser” e “ter”, ao longo do texto. São crianças, serão jovens e adultos, portanto, em primeiro lugar. São pessoas com as suas características individuais, com, ou portadoras de, incapacidades e capacidades especiais. Tomemos uma criança que tem capacidades cognitivas, emocionais, sociais, e /ou de realização acima da média do seu grupo etário. A estas crianças chamamos de sobredotadas. E caímos no erro de dizer “são” sobredotadas… Não “são” - “ser” envolve grandes complexidades da pessoa… “São” sim portadoras de capacidades mais elevadas para a média do seu grupo, numa dada área, podendo não “ter” capacidades elevadas noutras áreas. Agora olhemos para uma criança com perda auditiva severa. Neste caso a criança não consegue ouvir a palavra normal, ou seja, é necessário gritar para que exista uma sensação auditiva verbal. Esta criança é “deficiente”?! Não. Tem, ou é portadora de uma incapacidade sensorial, ao nível da audição. E pode muito bem ter capacidades normais e/ou elevadas a outros níveis. Terão reparado que se evitou a palavra “deficiente”, isto porque surge, muitas vezes, ligada a concepções erróneas, mesmo depreciativas, como a que considero grave: a de limitar uma pessoa portadora de uma ou mais incapacidades às suas incapacidades, logo generalizando essa percepção à sua pessoa global – exemplo: “ele é surdo”. Uma criança, jovem, adulto, não se resume a uma “surdez”, a uma cor, a uma religião… Já muitos erros foram feitos em nome do separatismo, proveniente de formas preconceituosas, supersticiosas, obscuras, logo limitadas e unidireccionais, de ver o mundo que nos rodeia. O natural, e normal, é que existam diferenças no mundo. O não normal é uniformizarmos comportamentos, sentimentos, culturas, formas de ser, mesmo de parecer (estou a lembrar-me de quem é “escravo” dos ditames da moda…). Falta-nos ainda o caminho de maravilharmo-nos com a diferença, seja de morfologia do organismo e das suas funções, seja de cor, etnia, cultura, religião, talentos, capacidades.., e de a integrarmos com espontaneidade, aceitação genuína, no nosso dia a dia. Quando conseguirmos deslumbrarmo-nos com a "diferença", quando a valorizarmos com verdade, então sim seremos capazes já não de imaginar um mundo de todos, mas um mundo vivido em igual direito por todos. (© Sandra Cardão, Reflexões Pessoais, 09/06/2010)
* Sandra Cardão nasceu em Angola, é Licenciada em Psicologia Clínica, fez estágio na área da Psicogerontologia e tem trabalhado no âmbito escolar com crianças do Ensino Básico (integração de minorias, crianças carenciadas). Também é Facilitadora de Grupos de Jovens para a Promoção do Desenvolvimento Pessoal. É Autora e Formadora Certificada.
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