IMPACIÊNCIA OU INCONFORMISMO?

 

Augusto Tchuda

tchudaugusto@hotmail.com.br

09.01.2013

Augusto TchudaNão quero ser crítico demais, mas gostaria de abordar aspectos importantes relacionados a cíclicas crises que têm abalado o Pais desde a independência a data presente, que algumas foram encaradas com naturalidade outras ridicularizadas.

Porque então tanta impaciência e inconformismo? se uma ou outra vez somos a favor de práticas que reverteram a ordem constitucional. Para vos recordar, já houve golpes muito ovacionados em plena democracia (derrube de Nino em 1999 e derrube de Koumba em 2003), por isso, insisto a dizer que, golpes são golpes, não importa quem lidera ou quem é vitima, sobretudo no contexto actual, iniciado em 1994, com aceitação da democracia como método universal de alternância de poder, a voz do povo traduzida em voto. Certo é que as práticas contestadas, devem ser banidas com a participação de todos, com pretexto único, de garantir a paz, estabilidade e crescimento económico. Mas quando se pensa que há cidadãos imunes, porque são de primeira coluna e aqueles de quinta coluna que se lixem, não se está a contribuir para a promoção da Paz e estabilidade e, isto está visível no comportamento dos cibernautas e apoiada por proprietários de alguns blogs que deixam passar insultos.

Perante estes factos, as opiniões tendem a dividir-se, os prós compartilham alegrias e aplaudem valentias e heroísmos de autores, enquanto os contra, mantém reserva de poderem ser vítimas das suas posições. É frequente em África, sobretudo, quando mudam regimes não importa a via de alternância, coloca em perigo muitas pessoas que duma ou outra forma identificaram com regimes depostos. Em regimes de partidos únicos, muitos são perseguidos e fuzilados, em democracias são espezinhados e excluídos, mesmo revelando-se tecnocratas predispostos a contribuírem para o desenvolvimento dos seus Países. É o que tem acontecido na Guiné com muita frequência, fruto de interpretação errada da democracia.  

Torna-se então difícil contrariar as correntes de opiniões que em função das crises manifestam desagrados e apoios, as linguagens usadas, tanto para os prós como os contra, as direcções que as mesmas são apontadas as vitimam e etc. Quaisquer de formas não deixa de houver “persona non grata”, nestas condições.

Apesar de tudo isso, a visões diferem as capacidades de interpretação também, os contextos e os intervenientes mudam com o decorrer de tempo. Mas quando não muda as mentalidades, demonstra claramente regressão de valores. Portanto, não excitaria em subscrever as palavras do Dr Joaquim Chissano, segundo as quais os Guineenses devem AUTO-EDUCAR-SE.

A auto-educação referida, não é apenas para uma sociedade ou um grupo de pessoas. Os políticos, a classe castrense, a sociedade civil, os intelectuais apolíticos, a juventude, os utentes de blogs, enfim os Guineenses em geral precisam de se auto-educar, para se reencontrar e edificar valores de uma sociedade civilizada isenta de ressentimentos e clivagens desnecessárias.  

Nota-se que está mais intensa a campanha de insultos e difamações contra uma etnia, como se essa etnia é responsável por tudo o que desenrolou no País, reduzindo-o ao um estado de nomes e apelidos diversos, conotados com práticas criminosas. Pois não é apenas porque um candidato terá recusado resultados eleitorais. As clivagens internas no PAIGC, não têm expressão na crise? Será? Talvez também porque alguém terá reivindicado a liderança do golpe de estado, e este é da etnia que hoje é bicho-de-sete-cabeças.

Não é importante quem lidera, nem quem é vítima do golpe, já o disse. Acima de tudo isso, está um País, com o seu povo, que desde 1980 vem sofrendo com golpes, que jamais foram panaceia, golpes liderados por diferentes autores, certamente membros das suas etnias, sem que ninguém ponha a língua na rua contra estes. Não foi medo, nem exercícios de tolerância ou conformismo, mas a minha reflexão me permitiu chegar a conclusão que faltava que se chegasse no pau, pois andava no cavaco. Seria melhor se todos tivéssemos começado juntos a gritar não aos golpes, talvez ficávamos em 7 de Junho.

As nossas diferenças dão-nos força e coragem para enfrentar adversidades, a unidade é paradigma do nosso desenvolvimento, provou-se que ninguém em separado é capaz de tirar este Pais do marasmo em que se encontra. Mesmo como grupo étnico, quanto como partido.

Como Guineense, vivendo no coração desta pátria, quero pedir a moderação de linguagem e paciência aos críticos da situação actual, ela afectou-nos a todos, mas acreditem como eu que, é coisa passageira. Não ganhamos com golpes, antes pelo contrário, afundamos, nem ganharemos insultando os mais velhos, porque um dia podemos faze-lo em relação aos nossos pais. Mas, sobretudo, temos que aprender deixar de chorar por leite derramado. Perdoar é bom, sofrer é contribuir para edificar os pilares da Paz; o Martin Luther King dizia: O perdão é um catalisador que cria a ambiência necessária para uma nova partida, para um reinício.

Temos ainda que ter em conta que, o nosso destino é traçado pelos nossos próprios pensamentos e comportamentos, e não por alguma força que venha de fora. A Guiné deve estar no coração de todos. Esta é nossa pátria amada.

 

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