LIÇÕES PARA A FORÇA DE ESTABILIZAÇÃO

 

 

Gustavo Gomes

gustavo.gomes69@gmail.com

04.12.2010

 Gustavo GomesCorrem mundo as notícias de combates entre forças do poder constituído, contra o poder paralelo dos narcotraficantes na Jamaica, no Haiti, no México e mais recentemente no Brasil. De similar em todos, a bárbara violência  desses criminosos que usam a extrema pobreza de populações e a pouca ou nenhuma infraestrutura para se auto firmarem em “territórios” que dominam com sangrentas mãos de ferro.

Os íngremes morros e baixadas da cidade do Rio de Janeiro, descartados da exploração agrícola pelos colonos europeus, prestaram-se ao refúgio de escravos antes e pós abolição da escravatura. Do tempo de Colónia, depois Império até à República, manteve-se o descaso governamental por esses cidadãos.

A rápida industrialização a partir da década de 40 incharam esses núcleos com migrantes nordestinos fustigados pela seca em suas regiões e ávidos pelo emprego nas fábricas e crescente construção civil. Isso debilitou as condições de habitação segura e sanitária nessas favelas.

Nos finais dos anos 70 no presídio Cândido Mendes, na Ilha Grande (RJ), a partir do convívio entre presos comuns e militantes dos grupos armados que combatiam a ditadura militar, surgem as primeiras organizações criminosas. A partir da Falange Vermelha, com o lema "Paz, Justiça e Liberdade" criou-se o “Comando Vermelho” que gerou as dissidentes facções rivais, “Terceiro Comando”, “ADA” (Amigos dos Amigos), “TCP” (Terceiro Comando Puro”).

Do legado de ideologia da libertação proletária, absolutamente nada restou, mas, esmeraram-se no aprendizado de táticas de guerrilha, ações terroristas e de assaltos.

A cocaína e outras drogas vindas dos vizinhos países produtores, foi a responsável pela ampliação do poder dessas organizações. Na virada dos anos 70 para os 80, o Brasil entrou definitivamente na rota da droga, como ponto de distribuição para a Europa e como mercado consumidor do produto de baixa qualidade.

Junto, veio armamento pesado, como pistolas, metralhadoras, fuzis, granadas, bombas e a consequente necessidade do propício “território” das favelas, para esconder e proteger a droga da ambição das facções rivais ou ponto de ataque para “tomada” de “territórios” dominados por facções rivais. O reforço de conhecimento veio de guerrilheiros colombianos das FARC e ex-guerrilheiros angolanos refugiados no Brasil.

O imenso volume de dinheiro envolvido no narcotráfico, permeou a alguns órgãos do Estado formal, criando a chamada “banda podre”. Juízes a “vender” absolvições, políticos na farsa de defender essas populações, mas aceitando “apoio” dos chefes do tráfico para ganhar eleições. “Igrejas”, “astros da mídia”, “Clubes” etc., a fazerem a lavagem do dinheiro. Membros das forças de Segurança “corrompidos”, fazem vista grossa  ao crescente negócio.

Como parte da farsa, a polícia faz violentas e sangrentas incursões nas favelas, matando a esmo. Traficantes eram presos para depois “comprarem” a fuga, drogas e armas apreendidas, depois “desapareciam” e eram “revendidas”.  Com essas operações as forças de segurança, vendiam para a sociedade (dentre os quais alguns consumidores de drogas) que cumpriam  o dever de combater a marginalidade crescente. Nessa “guerra” entre facções e incursões da polícia  as maiores vítimas muitas vezes são inocentes famílias carenciadas.

Os integrantes dessa “banda podre”, não resistem à ostentação e à ganância. São magistrados, militares, policias, políticos, pastores, etc., que nas zonas fora das favelas,  vivem em mansões, com carros topo de linha, viagens e requintes de luxo incompatíveis com os seus vencimentos oficiais.

Nas favelas, os narcotraficantes exercem o poder de vida e de morte sobre cada morador e cada família que deles “compram e dependem de autorização” para morar, para ter água,  luz, atendimento médico, batizados,  funerais ou festas. Impera a lei do “não sei, não vi e nem ouvi”, pois os traficantes torturam e matam com requintes de crueldade quem querem e entendem.

Nos últimos 10 anos, a concorrência com novas rotas e o aumento da produção, fez cair o preço das drogas, acirrando mais as “guerras” de “território” entre facções. Paralelamente partes dos territórios de favelas foram ocupadas por “milicias”  ou policias que “vendem serviços de segurança” ao comércio e moradores. Quem se negar ao pagamento dessa  “portagem”   sofre bárbaras  consequências.

Alega-se que por causa das UPP´s (Unidades de Policia Pacificadora) em cerca de 10 favelas agora sob ocupação e intervenção governamental, teriam,  em represália, os traficantes encetado uma série de ataques de incêndio a veículos em diversos pontos do Rio. Pessoalmente creio que tratou-se de protesto contra algo que a “banda podre” estava a deixar de cumprir, já que as UPP´s foram assentadas ainda no ano passado.

No entanto ao terceiro dia desses ataques de terror, a favela Vila Cruzeiro foi tomada pela Policia, e em paralelo, foram presos advogados e familiares cúmplices dos traficantes e formou-se um colossal cerco ao Complexo de favelas do Alemão, o maior e principal reduto dos narcotraficantes, para retomada dessa área e hasteamento da bandeira do Brasil e do Estado no alto do morro. O Plano existia há 20 anos, mas, estava  engavetado.

Tanques de guerra, helicópteros, soldados do Exército e da Marinha, força policial civil (judiciária) para cumprimento de mandatos de captura e prisão, policia militar (segurança pública), Batalhão de Operações Especiais (BOPE), e pela primeira vez, a imprensa, o Ministério Público (para imediata apuração de quaisquer queixas de abuso dos agentes de policia ou das forças armadas), Cruz Vermelha (saúde para os moradores), e serviços públicos municipais para iniciar as intervenções de inclusão das áreas ao conjunto da cidade.

A grande diferença é que no comando dessa operação e sub-operações (coincidentemente?) não tem nenhum dos conhecidos integrantes da chamada “banda podre”. Tem membros das forças de segurança que acreditam no lema de que para “servir e proteger” é necessário inteligência da informação e não a repressão. E da parte das forças armadas estão as Chefias que se incomodam com as “dificuldades “ até então criadas para impedi-los de  cumprirem a obrigação constitucional de defenderem a integridade do território e dos cidadãos, o  que só será completado quando além da prisão dos chefes acoitados nas favelas, também se prenderem os chefões incrustados em gabinetes, quartéis e esquadras.

Claro que a guerra no Rio de Janeiro não está acabada. São cerca de 250 favelas. No morro do Alemão ainda faltam as intervenções públicas de serviços. Por enquanto apenas se devolveu a cidadania, o espaço e a liberdade aos moradores que aplaudiram e colaboraram para a retomada,  sem mortes, mas muitas prisões. As toneladas de droga apreendida foram de imediato incineradas e as armas e valores apreendidos não foram guardadas nos quartéis vinculados à chamada “banda podre”.  Certamente que isto por si só constitui enorme perda para este nefasto poder paralelo.

Também caíram por terra os “mitos” e posturas ditados pela “banda podre” que considerava a todos os favelados como marginais a reprimir com violência. As reportagens mostraram que apenas cerca de 400 pessoas (0,1%), integravam atividades ligadas ao narcotráfico. Os demais cerca de 399.600 moradores (99,9%) são constituidos de gente honesta e trabalhadora que era subjugada e refém da força das armas e do terror dos narcotraficantes.

Esmiucei o que acontece no Rio de Janeiro, mas que não difere de outras cidades no Brasil, e outros paises onde o narcotráfico exerce poder sob a égide da força das armas e da crueldade.

Gangs, gangsters, máfias, grupos terroristas, talibans, mossad, FARC, Hamas, PAIGC,  e tantos outros, padecem de ser chefiados por suas “bandas podres”.

Resta-nos esperança de que as mentes dignas e sadias de nosso País possam um dia ter a ajuda da ONU, mas daquela ONU que acredita que a construção da Paz para o concerto das Nações, não comporta mentalidades como do Sr. Mutaboba (Chefe da UNIOGBIS) que acha que todos os guineenses só querem saber de lutar para ter o poder de mandar.

Faria muito bem o Sr. Mutaboba e a Comunidade Internacional  se percebessem que o povo guineense em sua grande maioria está impotente, do mesmo modo que a maioria dos favelados no Brasil, e refém daqueles que ele acha que projectam o comportamento de todos os guineenses.

É hora de se pensar na Força Internacional de Estabilização para a Guiné – Bissau. Nosso povo merece. Livrem-nos do jugo dos narcotraficantes e possibilitem esta pequena Nação de maioria de homens e mulheres de bem erguer-se e caminhar rumo ao desenvolvimento pleno.

Nha mantenhas.


PROJECTO GUINÉ-BISSAU: CONTRIBUTO - LOGOTIPO

VAMOS CONTINUAR A TRABALHAR!

Associação Guiné-Bissau CONTRIBUTO

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