MAS AFINAL, QUEM PROTEGE E DEFENDE AS NOSSAS CRIANÇAS?
Bissau
– Uma adolescente de 15 anos de idade, foi espancada até a morte por se ter
recusado a casar com um homem muito mais velho.
A vítima, Tânia Na Ntchongo, residente na povoação de Botche
Mendy, na região de Tombali, no sul da Guiné-Bissau, era órfã e viveu toda a
sua infância junto da tia em Botche Mendy. Tânia foi espancada em plena
cerimónia de casamento, por mulheres que participavam na cerimónia
tradicional Balanta, depois de ter escapado à primeira tentativa de se
realizar o casamento.
O caso já se encontra no Ministério Público, mas os autores deste homicídio
encontram-se em liberdade sem nenhuma justificação, segundo a responsável do
Instituto da Mulher e Criança (IMC), Iracema do Rosário (na foto). A
presidente do IMC condenou a situação, tendo advertido que é urgente pôr
cobro à situação de violência contra crianças e mulheres.
Espancamentos, casamentos forçados, impedimento pelos pais dos filhos
frequentarem a escola, assim como a recusa da prática de actividades
religiosas, são entre outros, aspectos que ainda caracterizam a sociedade
guineense, com particular destaque na região sul do país.
Outro caso que merece atenção, teve lugar na povoação de Canefaque, na
região de Tombali também, e terminou com o fecho de um local onde se
praticavam actividades religiosas pela população local, como forma de
represália contra a comunidade da Igreja Evangélica em Canefaque, acusada de
ser responsável pela fuga de cinco meninas para Bissau, As raparigas fugiram
para a capital por não concordarem com o casamento forçado, imposto pelos
seus pais.
O assunto é do conhecimento das autoridades regionais e do Governo central,
mas no entanto não houve nenhuma iniciativa para pôr cobro à situação. As
raparigas têm idades compreendidas entre os 12 e os 15 anos, e neste memento
encontram-se em Bissau, a frequentar a escola.
A equipa de reportagem da PNN, deslocou-se ao Bairro de Antula, nos
arredores da capital onde se encontram as raparigas e falou com uma delas.
Bistande Na Tcharé contou à PNN que foi levada aos dois anos para a vizinha
Guiné-Conacri para se casar com um velho mas que, no entanto, voltou a casa
dos seus pais em Canefaque, de onde foi para Bissau, para escapar ao
casamento pela via da força.
Sorte diferente teve Buan Na Ban-na, um órfão que estudava na quinta classe
na Escola do Ensino Básico Elementar de Cawale. Buan Na Ban-na foi espancado
pelo seu tio por seguir a igreja como religião. Tupa Nhaá, de 14 anos, que
nunca frequentou a escola, foi obrigada pelos seus pais a casar-se em
Bissau, com um velho que disse desconhecer. Já Ngueba Nhango, uma
adolescente de 13 anos, que estuda na primeira classe em Canefaque, estava
prometida a um homem com 60 me poucos anos mas não aceitou a imposição e
fugiu para Bissau.
Sumba Nansil “
REFLEXÃO DE UM CIDADÃO INDIGNADO!
Filipe Sanhá
*
filipesanha@iol.pt
24.04.2010
Estas
notícias (em, www.bissaudigital.com
, 2010-04-23), obrigam-nos, a todos, mas mesmo a todos, a uma profunda
reflexão sobre estes comportamentos, que mancham a nobre imagem do nosso
País! Uma boa imagem de uma sociedade não se compagina com estas situações!
Muito menos, numa democracia jovem, nascida, resultante de uma Luta de
Libertação, de um jugo! Sinceramente, cada vez mais me convenço de que ainda
temos um longo caminho a trilhar. A multiculturalidade da nossa sociedade, é
uma riqueza inquestionável, pelas razões, sobejamente, conhecidas! No
entanto, situações idênticas às que aqui são relatadas, nesta página, pelo
nosso prestigiado jornal digital, ultrapassam as fronteiras de defesa de
qualquer identidade cultural. Trata-se de crimes hediondos, que exigem, uma
intervenção urgente, necessária, firme, determinada e musculada do Estado,
como um todo, na erradicação, sem dó, nem piedade, destas situações! É
sabido que as questões de natureza cultural/tribal, são quase que um tabu
nas nossas hostes, na GUINÉ - BISSAU, supostamente, inatacáveis e
incomentáveis, pela sensibilidade específica que encerram. Mas, na verdade,
se quisermos construir uma Nação desenvolvida e respeitada, no concerto das
Nações, em todos os seus domínios estruturantes, temos que ter a coragem de,
a par de uma pedagogia específica, uma posição e postura firmes,
determinadas, na defesa dos direitos, inalienáveis e inquestionáveis de
todos, sobretudo das nossas crianças, independentemente, das consequências
que daí possam advir.
Nha Mantenhas.
Filipe Sanhá
* Psicólogo, Mestre e
Doutorando pela Universidade de Coimbra (Portugal)
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