Mensagem à Guiné depois de outro som de bombolom

 

 

 

Por: Antônio Navegante de Catidi

 

 

Fortaleza - Brasil

 

19 de Janeiro de 2007 

 

 

Um outro som que veio do lado de lá, anunciando mais uma artimanha, bateu aos ouvidos alertados. Nós não queremos nos aproximar mais a esse djembrém de cansaré, os nossos olhos estão ofuscados por enxergar o infinito da morte, os nossos ouvidos já não suportam mais os gritos de defuntos em filas a dirigirem-se à profundeza do purgatório. As tragadas de cana de n´sumsum não nos consolam mais. A mão de cansaré di nô djorson está frouxa e, se um dia estiver triste, é porque a sua chibata não causa mais dores, a nação torna-se assombrada, se calhar, as causas das vidas arrebatadas tornam-se legítimas porque o desfalecimento da razão jamais rege os objectivos que sublimem a vontade da nação. Já se vê com os olhos desvendados a sensibilidade a submergir-se ao abismo do ódio.

Uma cidade caótica, sem pão necessário para as crianças, elas, às vezes, conformam-se com as suas castanhas contidas nas meias rotas e emendadas para garantirem alguns francos que são entregues às mães insones, empolgadas, ao lado de balaios de bideiras de beco, à tarefa árdua de sustento familiar. Ainda assim, o conformismo dessas crianças quebra-se, sem culpa alguma, para chorar por perda de um pai que sai de casa e não volta mais, um pai sumido pela força de factos obscuros, ou um pai que em frente da esposa e filhos esgota os suspiros sem tempo de se despedir. Pensem nessas crianças, elas não têm mais a voz para gritar, contudo, acredita-se que estão feridas na alma e no espírito. Pensem nessas esposas inocentes, se calhar, nunca foram testemunhadas pelos maridos sobre as malícias, os seus corações estão cheios de tristeza, os seus destinos estão estagnados.  Basta!

 Os olhos tristes dessas crianças contemplam as torturas de almas ao invés de apreciarem os brinquedos, as suas mãos, em vez de manusear os arcos, rimam-se aos materiais bélicos. Algumas são cercadas à vida macabra e, como se fosse em legítima defesa, recebem a orientação de se formarem em academia superior de acção violenta. Não é esse o nosso sonho, o nosso sonho é ter os professores para nos ensinar o civismo, os médicos para curar o nosso kasabi di korson, engenheiros para construir o nosso destino.  

Parem! Não queremos chorar mais, porque agora resta apenas uma gota de lágrima. A nossa existência está repleta de inquietação.

Libertem a nossa vontade de ser uma única nação. Não queremos que os remorsos continuem a atropelar os nossos sorrisos de alegria. Parem!

 

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