Momento de acção e não de palavras
Sargento Natche * 13.08.2009 Depois do esclarecimento do povo pelo escrutínio de 28/07/09, independentemente de ser ou não um candidato da minha, sua ou outra preferência, é o momento de todos os guineenses unirem-se em torno de um projecto mobilizador, aceitando o pluralismo de ideias, a diferença de opinião, pois mesmo não se concordando com ela a pessoa tem o direito de expressá-la. Afinal o nosso objectivo é comum, rumo ao desenvolvimento.Pois a estabilidade social é fundamental e é o valor máximo para se governar naturalmente com a confiança da população na economia. É necessário tentar diminuir a grande perda de poder de compra e também a disparidade de níveis de vida (ricos e pobres), bem como melhorar o vencimento da função pública, porque isso é uma debilidade que induz as pessoas a caírem na tentação do suborno, corrupção (PA KA FUGON PAGA). A sobrevivência política resulta da capacidade desta e dos políticos conseguirem adaptar-se aos seus contextos de actuação, que reflectem cada vez maior capacidade de participação das forças vivas da nação. Nessa ordem de ideias, os políticos/governantes devem ter flexibilidade suficiente de adaptação. As instituições democráticas não devem funcionar sem uma relação de confiança com os cidadãos, por isso deve ser dada a possibilidade às pessoas de acompanharem e participarem activamente na actuação, o que se traduz numa maior confiança e responsabilidade de cada um (no seu local de trabalho, na rua, onde quer que esteja, em exercício das suas funções ou actividade profissional) e numa maior aproximação, visto que todos fomos chamados para essa missão que é de Reconstrução Nacional. Aliás, fala-se cada vez menos em Reconstrução Nacional (RN), que já foi um vocabulário essencial do discurso político e filosófico de um passado recente, que, embora bem fresca na memória de muitos guineenses, deixou de ser uma exigência da existência individual e colectiva, talvez porque se acredite que ela (RN) se encontra realizada. Não, não está. Agora que é ela é precisa mais do que nunca... Passou a estar na moda a Reconciliação Nacional, não é confusão de palavras, é isso mesmo Reconciliação Nacional. Concordo e agradeço e que o bom senso impere! Mas vou pedir uma coisa aos anunciadores desta “boa nova” e a todos nós, Guineenses, para que este anúncio não fique só de boca para fora, mas que saia do fundo do coração: enterremos os machados, as catanas de guerra. Peço humildemente que façamos este esforço ... Aprendi na catequese muitas coisas, mas algumas guardei como um guia, das quais: - O homem não se julga pelo que come, mas pelo que sai (fala) da sua boca. - O melhor ensinamento não é com palavras mas com actos. Cada coisa no seu tempo, actualmente urge a necessidade de se construir o país com estabilidade social, assente na ordem e na democracia.A democracia é uma noção mais vasta da liberdade, como a cidadania, direitos humanos, justiça social. É um conceito muito vasto. Trata-se agora de realizar a nossa democracia ameaçada por pequenos golpes quotidianos; realizá-la com os nossos meios e conhecimentos, acompanhando a evolução do mundo globalizado, numa só palavra MODERNIZÁ-LA. Por vezes é necessário repensar o sistema democrático e o modelo que nos é imposto, de modo a sabermos se é capaz ou não de responder aos inúmeros desafios da realidade do nosso país, nomeadamente as nossas tradições, a cultura, etc. Esta é a minha opinião, porque é necessário fazer uma ponte entre estas duas realidades (a democracia Vs usos e costumes), esclarecer, para melhor estabelecer nexo e causalidade de tanta confusão; um diagnóstico, prévio para uma terapia melhor, assim o doente reage ao tratamento. É preciso fazer a diferenciação, escolhendo aquilo que acharmos bom, o melhor que se enquadre, analisando o seu sentido, fazendo um acerto se for preciso de acordo com os nossos “modus vivendi”, mas mantendo a espinha dorsal da democracia, na sua essência; porque o que está em jogo é a liberdade no seu âmago. Penso que é mais um contributo a ter-se em consideração. Com isso implementa-se um modelo de coesão social como pilar fundamental de actuação numa lógica de promoção das políticas sociais que se faz coincidir com as melhorias de condições de vida. O objectivo é o de potenciar a auto-estima, através de uma participação activa da população em geral e não só dos políticos, demonstrando que estão dotados de capacidade/competência para proporcionarem serviços que correspondam à satisfação de mais alta expectativa, cada um sentindo-se assim valorizado no seu posto de trabalho, no campo, na cidade ou em qualquer lugar que esteja. Estas motivações podem resultar na criação de projectos com as suas directivas obrigatórias, as suas funções preconcebidas e os objectivos minuciosamente prescritos; assim liberta-se o Estado de assumir o papel do maior empregador, poupando receitas com despesas de pessoal e podendo estas serem direccionadas para outras coisas necessárias, porque se não, arriscamos a criar um caos pior ainda. O Estado não pode empregar toda gente, tem que haver investimentos privados, projectos e iniciativas para a criação de pequenas e médias empresas – O governo tem por obrigação criar leis orientadoras. Porque sem isso perde-se a segurança que oferece a ordem. E a insegurança que vem com o caos, bem como as possíveis rimas (como a não existência de: construção /destruição, razão/(des)razão, lei/crime, democracia/totalitarismo ou anarquia) são caminhos para uma sociedade antinominal que nos leva ao abismo se não seguirmos a única via que nos dá a solução para a (Re)construção Nacional e modernização rumo ao desenvolvimento. A solução para o desenvolvimento da Guiné-Bissau não será trazida por outros (terceiros) ou imposta por algum estado transcendente. Aceitamos ajuda dos países amigos em diferentes áreas de cooperação, ajuda monetária, material e até moral. Agradecemos com sinceridade, mas nós, os Guineenses, temos a responsabilidade de encontrar a solução. Ninguém vai inventar nada, é só escolher a melhor solução – viável para o desenvolvimento. Para se conseguir tirar o país do estado em que se encontra, é necessário consciencializar e tomar a peito essa tarefa emanada da própria realidade social que se pretende desenvolver... Quando uma pessoa fica doente, os vizinhos manifestam os seus sentimentos (ter “pena”) mas ninguém carrega a sua dor, mesmos com os nossos entes queridos a dor é mesmo suportada por eles, ninguém a tira. Podemos ter uma boa vida aqui fora no estrangeiro, mas nada melhor do que a nossa terra. (ANTIS KI PÓ NA SINTI DUR, KABACO KI TA SINTIL PURMERU). Exorto o Presidente da Republica e o Governo para que a nova ordem seja um incentivo à criação de projectos com estratégias de desenvolvimento, facilitando os mecanismos dentro das vias legais para investimentos privados com eficácia, permitindo o surgimento de uma nova fileira de pequenas e médias empresas, a concessão de créditos (se houver), para que estes possam criar empregos (sempre sob directivas orientadoras do governo que têm que ser cumpridas para que ninguém vacile), uma vasta mão de obra que crie riqueza e reduza a dependência externa, os excedentários para exportação para fazerem entrar divisas para o país – riqueza; são alguns pontos que me parecem muito relevantes para o país se mexer.
PS. Fiquei meio contente com o aumento da exportação de castanha de cajú. Pois bem, estava à espera de, ao mesmo tempo, ouvir anunciar os benefícios que o camponês teve ou que vai ter com esse aumento. Parece que eles redobraram os esforços para aumentarem a produção e devia haver uma compensação, um incentivo pelo menos com o aumento do preço de cada quilo de castanha de caju.
* Licenciado em Biotecnologia * Mestrando em Ciências Médico Legais e Ciências Forenses – Biomédica Univ. Porto
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