Marcas da vida

Por: Fernando Casimiro (Didinho)

 

Introdução

Há três factores que marcam indiscutivelmente a vida. Três factores que se conjugam numa linha com trajectórias inimagináveis a que, vulgarmente chamamos destino.

O princípio, o meio e o fim são, globalmente falando, os vocábulos básicos da grande enciclopédia que é a vida.

Marcas da vida não abordará o conceito de vida em pormenores teóricos, pois, a vida é a designação prática da existência destes três factores, quer seja relativamente aos seres vivos, quer seja em relação aos bens materiais (ainda que no abstracto)

É neste contexto que os assuntos a abordar em  Marcas da vida se definem como testemunhos reais e, portanto, práticos. Não são lições de vida, pois na vida estamos todos a aprender, sendo o único professor a própria vida...

Marcas da vida agrupa simplesmente relatos que se pretende, sejam enquadrados numa perspectiva de utilidade à comunidade, dada a multiplicidade de situações vividas na 1ª pessoa, por quem teve o privilégio de viajar por mais de 60 países dos cinco continentes e, fruto da convivência com  pessoas de países diferentes, ter uma visão cuidada,  reflectida, muito própria e com realismo, onde o positivo e o negativo estão presentes, o espinho e a rosa se toleram e a língua e os dentes coabitam o mesmo espaço.

Marcas da vida constitui um registo resumido e em sequência, de várias páginas de uma vida que teve início na Guiné-Bissau, concretamente em Bissau, a capital, a 15 de Agosto de 1961, data do meu nascimento.

 


Ponto de partida

 

Quando em Novembro de 1981 deixei Bissau (a linda cidade  onde nasci e vivi durante vinte anos) rumo a Angola, não fazia ideia de quando iria regressar...

Nem queria pensar nisso, mesmo sabendo que  ia só passar férias com os meus tios  que lá residiam. A viagem começou a ser preparada de forma entusiástica um mês antes, quando os meus tios me enviaram o bilhete de passagem. O ano de 1981, estava a ser fértil em viagens pois, nesse mesmo ano , tinha viajado para a Argélia, onde participara num estágio para treinadores e árbitros da União Africana de Judo e, posteriormente para o vizinho Senegal, onde participei no torneio internacional de Judo da zona 2 da África ocidental.

O entusiasmo no entanto, a uma semana da partida esmoreceu...Como  deixar para trás,  os meus pais, irmãos, familiares, amigos e,  sobretudo o país pelo qual sempre quis ter uma participação directa em prol do seu desenvolvimento...? De repente , dei comigo no sério da questão e " olhei para trás ", na  esperança de encontrar uma única resposta, que me valesse  a coragem de me ausentar, sem a sensação de estar a trair os que ficavam.

Não foi fácil, mas a resposta estava lá, nas entrelinhas de episódios marcantes do dia - a - dia no país. Regressei ao passado mais longínquo, aquele de que tinha memória, ainda menino, durante o período colonial e em que, sem saber nada de política , conseguia ter a percepção de situações que mais tarde viria a saber, tratar-se de injustiça, de exploração, de segregação, etc. Lembrei-me de quando aos cinco anos de idade comecei a aprender a ler e a escrever...Depois do meu nascimento, esta foi a primeira grande Marca na minha vida.

O nascimento de um filho, é um marco importantíssimo na vida dos pais, independentemente da situação sócio - económica dos mesmos e, em que, passada a euforia da celebração desse nascimento, se empenham na educação desse rebento, sonhando e desejando o melhor para a criatura que trouxeram ao Mundo.

É neste contexto que, dar aos filhos a possibilidade de entrarem para a escola e aprenderem a ler, a escrever e a contar, entre outras vantagens que a escola oferece, se torna na primeira grande ajuda na definição do "amanhã" dos mesmos.

Se a escola se enquadra como instrumento de formação sócio-cultural, científico, técnico, profissional etc., a aderência, a participação e aproveitamento dos educandos para além de constituir uma mais valia pessoal, capacita o espaço comum que é o país, dotando-o de recursos humanos capazes de enfrentar e solucionar os problemas que a própria vida impõe.

Creio que todos os pais se regozijam de facultarem o direito à educação/ensino, aos seus filhos, mas também há os que, fruto de vários condicionalismos sempre  ditados pelas actuações políticas e de governação acima de tudo, quer durante o  período colonial, quer nos dias de hoje, não tiveram e continuam a não ter esse privilégio, influenciando negativamente os primeiros passos dos filhos na longa caminhada que é a vida e comprometendo o futuro do país, pois a riqueza de uma nação  reside  essencialmente na capacitação e valorização dos seus recursos humanos.

À medida que desfolhava o passado mais me entusiasmava, tal como quando abrimos um álbum de recordações...Fui desfolhando...


 

Nota:

Esta secção não tem tido o desenvolvimento pretendido, porquanto o país (Guiné-Bissau) estar em constante oscilação (político, militar, social, etc.) o que faz com que toda a minha disponibilidade se centralize em primeiro lugar nos problemas do país.

Marcas da Vida tem a sua utilidade no projecto CONTRIBUTO, por isso, logo seja possível darei continuidade à secção.

Fernando Casimiro (Didinho)

28. 11. 2004