“NADA VALE UMA
PALAVRA, SEM UM SENTIMENTO VERDADEIRO”
Iaia Turé
*
tureiaia@hotmail.com
02.05.2010
O
político guineense deve falar e agir de forma que o povo acredite, deve
falar e agir de forma que o povo, convencido da sua sinceridade, confie na
sua palavra. Pode, no entanto, acontecer que, com a experiência, o povo se vá
desiludindo e passe a ter o sentimento de que foi enganado; então, ou não
lhe perdoa e retira-lhe o seu apoio ou, numa atitude fatalista, toma o seu
partido, convencido de que dizer a verdade e sustentar as promessas não é
compatível com a conquista e com o exercício do
poder. Se se tratar de uma questão que diga
qualquer coisa, o povo resigna-se, caso contrário não perdoa.
Quando se estabelece, de facto,
uma ligação entre o político e o povo, há
nisso qualquer coisa de carnal: entregam-se um ao outro. O
êxtase das aprovações embriaga
aquele a quem o povo se dirige e embriaga os que aclamam. É um gozo
partilhado que exalta e une. Um dia virão as desilusões, o herói de hoje
será rejeitado por um povo que, muito naturalmente, ele apelidará de
ingrato. Acabou a aventura.
Nada é mais importante para o
político do que convencer da sua sinceridade. Se
assim não fosse, como suscitar a adesão? Nenhuma
das suas qualidades deve parecer factícia, artificial, construída
pela publicidade, sem corresponder a nada.
Ninguém pode duvidar de que o
político tem ideias claras e intenções precisas sobre o futuro;
ninguém pode duvidar de que está impregnado de
generosidade e de altruísmos, muito embora não
seja aconselhável proclamá-lo com ênfase e frequentemente, o que
suscitaria a dúvida e até a incredulidade; ninguém
pode duvidar de que é dotado de força e de solidez, de que não varia
segundo as circunstâncias e as influências, porque acredita no que
diz; ninguém pode duvidar de que é obstinado e
perseverante, de que as dificuldades não desencorajam, de que sabe
ultrapassar as armadilhas, fazer abortar as ciladas, convencer cépticos,
congregar os indecisos, impor-se aos adversários; numa palavra, que tem alma
de chefe capaz de suscitar entusiasmo e dedicação
ao serviço de uma grande causa - a sua causa.
Pode acontecer o que o povo confie o seu destino a um
reconhecido ladrão, a um comediante profissional ou a um comprovado burlão.
Apesar de convencido de que as promessas feitas são frágeis
e enganadoras, o coração das pessoas tende, num primeiro impulso, a
aceitá-los. O povo tem necessidade de acreditar. Em
qualquer aventura política,
há o desejo de fugir
à
realidade, de enganar, desejo a que se dá o nome
voluntarismo e que justifica que cada um imagine poder emancipar-se do
destino que a natureza parece ter-lhe traçado para
sempre.
Quem estaria disposto a
submeter-se a uma autoridade não legitimada por um projecto de futuro ou a
uma pessoa cujo propósito de acção fosse apenas e só a sastisfação do seu
egoísmo? Haverá adesão que se baseie na convicção
de que as intenções anunciadas pelo político não
são verdadeiras?
A acção política, quando
é bem-intencionada, assenta na vontade de ser coerente e
no optimismo, caso contrário, é o espírito de dominação que inspira,
isto é, o desejo de se afirmar
à
custa de outros, fazer sentir a sua
força e o seu poder. O
inconsciente dos políticos não está isento de sentimentos
recalcados incontroláveis que explodem em ambições revestidas com
ricos adereços. Mas nesse caso a máscara
cai.
Dedicado especialmente aos nossos Pais (POLÍTICOS
GUINEENSES)
*
Estudante universitário, terceiro ano do curso de Administração Pública
VAMOS CONTINUAR A
TRABALHAR!
Associação
Guiné-Bissau
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