NÃO ESTOU COLOCANDO LENHA
NO FOGO, POIS O FOGO JÁ ESTÁ ATEADO.
Por: M’bana N’tchigna
*
mbatchi@yahoo.com.br
Brasil
01.06.2009
Tentei não
comentar sobre esse assunto por pertencer a essa etnia. Mas não posso estar
indiferente à injustiça que percebo que está sendo cometida contra a etnia
BRAASA!
Não posso me
calar perante isso. Nós guineenses devemos pensar com as nossas próprias
cabeças, não deixemos que alguém pense por nós! Aliás, Amilcar Cabral havia dito
isso. Mas até hoje continuamos a permitir que alguém pense por nós. Por causa
disso há injustiça entre nós. Hoje quero abordar o caso
BRAASA
(Balanta).
Pergunto: A
etnia BRAASA
(Balanta) foi quem causou prejuízos à Guiné-Bissau? Balanta, balanta, balanta!
Sabem o nome verdadeiro de Balanta? É, ate hoje e será para sempre BRAASA,
BRAASA e sempre BRAASA! Este nome tem significado forte e singular. Pelo menos
entre grupos étnicos do país a que pertencemos. BRAASA; traduzido para o
português significa:
permanentes, imutáveis, não cedem nada a ninguém, firme e inabalável, não se
dobra a ninguém.
Isso significa que não é fácil um outro grupo impor valores, cultura, forma de
organização social a eles. Essa valentia e postura foi demonstrada quando
Abdulai
N´Djai
quis islamizar a etnia BRASA.
A História
aponta que o nome Balanta,
veio da forma errada de pronunciar a palavra
abalanto
do
linguajar
Mandinga. Na
língua Mandinga, a palavra
abalanto,
significa: não
aceita,
recusou...
Este fato aconteceu quando os mandingas não conseguiram sucesso em islamizar
BRAASAS (balanta). Se a história estiver certa, a coincidência dos nomes:
BRAASA
e BALANTA
que é o nome originário deles, se assemelham. Uma vez que as duas palavras em
duas línguas distintas significam a mesma coisa praticamente. A firme postura de
BRAASA
se repetiu na luta de libertação contra os colonialistas portugueses na
Guiné-Bissau, o que permitiu a independência de dois países, a Guiné-Bissau e
Cabo Verde.
Por causa da
valentia preponderante dos
BRAASA
(balantas), apressou-se a saída dos colonialistas portugueses nessas colônias.
Desta vez, a verdade deve ser dita. Doa a quem doer. Sei que alguém vai me
entender como defensor dos
BRAASAS
(Balantas). Mas já que se fala e se aponta esse grupo como problema para a
Guiné-Bissau, deve-se dizer que não é verdade. Pois BRRASAS (Balantas) nunca
foram problema para o país.
Devemos
apontar as qualidades que
BRAASA
(Balanta) tem e que nunca foram destacadas em nenhum momento da história desse
país. A independência do nosso país, a Guiné-Bissau, pode ser vista como
corolário da independência de outros países das ex-colônias portuguesas em
África. A maioria de nós guineenses se gaba disso. Mas esta valente postura
deve-se à força e ao ato ousado da etnia
BRAASA,
que hoje está sendo mal vista pelos próprios irmãos de outros grupos étnicos.
Até mesmo pessoas de fora que não sabem o problema interno do país. Não há que
esconder nada nesse momento antes que seja tarde demais. Temos que nos
posicionar como filhos da Guiné-Bissau independentemente de pertencermos à etnia
BRAASA
ou não. Revelemos a verdade de que, a etnia
BRAASA
(balantas) está sendo vítima de todo o mal deste mundo por causa dos que estão
interessados em esconder a verdade e a verdadeira causa do problema da nossa
terra. Leva-me a acreditar que alguém quer ver um dia o extermínio da etnia
BRAASA.
Só porque a mais valia dessa etnia ajudou o seu país a se libertar das mãos dos
colonialistas portugueses. Vejo a tentativa de extermínio de
BRAASA
acontecer duma forma discreta.
Tentando banir
BRAASA do poder público e das Forças Armadas do nosso país. Creio que é possível
acreditarmos que existe um pacto secreto para executar o extermínio dos
BRAASAS
(Balantas). Porque alguém pensa que
BRAASA,
é a causa da dor de “cabeça” da Guiné-Bissau. Só que é engano e não passa de um
erro gravíssimo.
Todos os
guineenses, pelo menos os que estudam e gostam de pesquisar a história do nosso
país sabem que, a resistência da etnia
BRAASA
desde cedo em não facilitar o domínio de suas terras, e resto da Guiné, a sua
participação maciça no crescimento econômico com vista à exploração dos seus
recursos minerais
(português Brandão que o diga em Kanjola no sul da Guiné-Bissau)
atrelado à forma brutal e atrocidade praticada na então colônia portuguesa,
levou os BRAASAS
como etnia da Guiné-Bissau na posição mais numerosa, a agir.
Deve-se
lembrar que 40% do povo da Guiné-Bissau é
BRAASA.
BRAASAS.
E, não se pode desassociar a história da independência da nossa Guiné-Bissau
desse grupo. Com isso não se está a colocar
BRAASA
numa posição melhor que Mandjaco, Mandinga e mais. Porque todos somos iguais e
oriundos de bantus.
É simplesmente questão de dar honra a quem merece honra; respeitar quem deve ser
respeitado e contar a história como ela realmente é. Mas
BRAASA
(Balanta) não é melhor que nenhuma das etnias da Guiné-Bissau. Bem como nenhuma
etnia da Guiné-Bissau também é melhor que
BRAASA
(Balanta).
O
contingentes dos guerrilheiros que o PAIGC conseguiu mobilizar para lutar contra
o sistema colonial era de aproximadamente
5.000
mil homens sendo que 4.000
mil eram BRAASA
que enfrentaram a tropa portuguesa calculada em cerca de
50.000
mil homens. Quer dizer que, se dividirmos o número de tropa colonial em relação
aos dos guerrilheiros
BRAASAS,
a cada 1.000,
BRAASA
estava lutando contra aproximadamente
12.500
soldados portugueses. Contudo conseguiram resistir todo tipo de ataques que
tropas portuguesas desferiram contra suas posições.
Enquanto isso
o camponês BRAASA
(Balanta) garantia alimentos através da agricultura tradicional debaixo de
bombardeamentos intensos que o Sul, como zona libertada, sofria por parte dos
colonialistas. BRAASAS
colaboraram fielmente no estacionamento da maioria dos guerrilheiros na zona
povoada por eles e no armazenamento de armamentos.
Mas nunca
BRAASA reclamou que outras etnias deveriam oferecer o mesmo esforço que ele
estava a oferecer no momento difícil. Além disso, hospeda e ajuda qualquer
pessoa ou família de outras etnias que se sente bem a morar entre eles.
BRAASA
é sempre tolerante. Não é a toa que é conhecida como uma etnia horizontal. Por
ser tribo tolerante, sofreu muito e quase que sozinha até terminar os períodos
longos de agressão étnica. BRAASA era povo do interior. Não vivia no Sul da
Guiné-Bissau como é hoje. Os Fulas e Mandingas é que os perseguiram até
expulsá-los do interior do continente. Aquando da guerra da independência contra
os colonialistas portugueses muitas meninas
BRAASAS
foram raptadas e levadas pelos Fulas e Mandingas que serviam a tropa colonial.
Falo dessa forma com convicção, pois tenho parentes próximos que foram vítimas
deste tipo de abuso durante a guerra colonial. Algumas eram mulheres casadas
antes do rapto. Todas sofreram violência sexual. Se hoje conhecemos muitos
sobrinhos de BRAASAS
filhos de Fulas e Mandingas, muitos deles são frutos desse tipo de vergonha que
BRAASA
tolerou. Em nome da tolerância é que o caso 17 de Outubro levou ao fuzilamento
de mais de 37 oficiais
BRAASA.
Hoje sabe-se que foi um golpe inventado. Foi em nome da tolerância e da
democracia que Takme Na Waé pugnou ignorando o plano de assassiná-lo. Se não
fosse em nome da paz, quem acha que
BRAASA
é menos inteligente para frustrar os planos maquiavélicos que os mata? Alguém
acredita que BRAASA
não vê?
Quem é
realmente essa tribo BRAASA (balanta)?
1.
BRAASA
(Balanta) é uma etnia fiel em relação a um princípio. Mostrou a sua fidelidade
em estacionar a maioria das guerrilhas na zona povoada por ela. Além disso atuou
na armazenagem de armas. Cumpriu com fidelidade o que determinou fazer para o
bem da Guiné-Bissau.
2.
BRAASA
(Balanta) é responsável. Ou seja, chama a responsabilidade para si. Assumiu a
tarefa mais difícil de: transporte de armamentos desde ligeiros ao pesado da
República de Guiné-Conakry ao interior da Guiné-Bissau que se encontrava sob
domínio português. Nesta tarefa difícil, jovens e homens
BRAASA
(Balanta) percorriam centenas de quilómetros durante meses, noite e dia ao
serviço do PAIGC.
Embora o
recrutamento fosse obrigatório, vários jovens aderiram voluntariamente à
ideologia revolucionaria e pensamento de independência divulgada por Cabral.
Sobre isso lembro-me de um meu primo de nome Bëdah-Bual Na N’kuaana que foi um
dos que se apresentou para lutar. Dizendo a seguinte frase:
Todos os que
estão na luta, são homens como eu, portanto, irei lutar como eles sem que
ninguém me obrigue a isso.
- Bëdah-Bual Na N’kuaana
Essa é a razão
por que BRAASAS
participaram massivamente nas Forças Armadas da Guiné-Bissau. Soldados
BRAASAS
(Balantas) admitiram viver nas barracas desde a floresta, nas casernas sem água
potável, sem casas de banhos, sem comida, sem mosquiteiros e muitas outras
coisas piores que as barracas e aquartelamentos militares que a Guiné-Bissau
hoje apresenta. Agora, temos que chamar atenção de que eles, soldados
BRAASAS,
são filhos da Guiné-Bissau! E merecem bom trato. Não é admissível que quando
tropas portuguesas, senegalesas e lá-guineenses vierem tomar a nossa terra que
BRASAS se levantem, lutem, morram e depois voltam para morar nos quartéis cheios
de sujeiras sem as mínimas condições de conforto.
BRASAS
não são abelhas obreiras que devem trabalhar para abelha rainha.
Deve-se lembrar ainda que, quando a fome começa a apertar no
país, a população urbana recorre à zona rural povoada pelos BRAASAS em
busca de arroz e outros produtos alimentícios produzidos pelos BRAASAS.
Portanto, quero pedir um favor a quem não quer ver o problema
da Guiné-Bissau de outro ângulo, a não continuar a criar problemas entre os
guineenses. A etnia BRAASA deve ser reconhecida, honrada e respeitada
pelo que fez em prol da afirmação da nação guineense. Essa etnia, da qual faço
parte com muito orgulho, merece respeito e um olhar de respeito e não de ódio!
Pois a etnia BRAASA não é sinónima de um monstro que atrapalha o país que
tanto defendeu. Se existem dois filhos de outras etnias guineenses que
derramaram sangue, lágrimas e suor por causas da Guiné Bissau, existem oito
BRAASAS que sofreram igual ou mais. Onde estão: B’guaadn Na N’damy,
Kpansau Na Yisna, Forë Na M’bit-na, N’fanda Na Ñab-na, Tambá Na N’kuana, Sana Na
Alaasa?! Só para fazer menção desses heróis. Todos eram bravos homens de
guerra. A maioria morreu na luta contra os portugueses. A história desses heróis
nunca foi escrita e muito menos lhes foi dada a dignidade de merecerem uma
pesquisa sobre quem eram.
Atenção, que a bravura desse povo não se vence. Ninguém deve
fazê-lo explodir. Nós mesmos, filhos vivos da Guiné-Bissau, somos testemunhos do
que está acontecendo. Desde a guerra colonial passando pelo campo das
universidades. A etnia BRAASA está presente. Todos nós nos lembramos do
cientista Luís Fona Tchudá e de outros grandes intelectuais dessa etnia! Mas
todos foram mortos. Por isso, estou certo de que, para que a nossa Guiné-Bissau
seja um país estabilizado, não é a CEDEAO que deve enviar a tropa para esse
país! Deve-se parar de matar os BRAASAS (balantas). O envio de tropas por
parte da CEDEAO à Guiné-Bissau, complicará ainda mais a nossa Guiné. Para que a
Guiné-Bissau chegue à estabilização, a etnia BRAASA (balanta) deve ser
vista igual a um Manjaco, a um Fula, Papel etc., não como bruto, selvagem,
incompetente e inimigo da Guiné! Para além disso, deve-se entender a etnia
BRAASA como incontornável quando alguém pretende instalar no país que ele
libertou, um princípio equivocado.
Vejam o que Cabral diz a respeito de BRAASA.
Nesta sociedade do
mato, grande número de balantas pegou na luta e não é por acaso, não é porque os
balantas são melhores que os outros. É por causa do tipo de sociedade que eles
têm, sociedade horizontal (rasa) mas de homens livres, que querem ser livres,
que não têm nenhuma opressão em cima, a não ser a opressão dos tugas. O balanta
é ele e o tuga por cima dele, porque o chefe que lá está, o Mamadu, ele sabe que
não é nada seu chefe, foi o tuga que o pôs lá.
Portanto, mais
interesse ele tem em acabar com isso para ficar com a sua liberdade absoluta. E
é por isso também que quando qualquer elemento do Partido comete um erro com os
balantas, eles não gostam e zangam-se depressa, mais depressa do que qualquer
outro grupo.
Enquanto que entre
fulas e manjacos... Amilcar
Cabral (Unidade e Luta)
Portanto quero dizer a João Brito que reflita a sua posição e
tome outro rumo quando a questão é: pensar o que seria solução para a Guiné
Bissau. Mas os moldes do novo recrutamento para evitar a etnicização das Forças
Armadas da Guiné Bissau é um erro grave de se pensar.
Sem comentário, pergunto:
1. Porque os moldes de novo recrutamento para evitar a
etnicização das Forças Armadas da Guiné Bissau entra em discussão agora e nunca
antes?
2. Por que João Brito, os moldes para a não etnicização das
Forças Armadas da Guiné Bissau te interessam agora e nunca antes?
3. Quando houve a guerra de 07 de Junho de 1998/09, o então
presidente no poder, João Bernardo Nino Vieira recrutou uma força miliciana
chamada “anguentas”. Numericamente, qual foi a etnia que Nino recrutou? João
Brito, o senhor não sabia? O que Nino fez neste caso ao recrutar e preparar
jovens de certas etnias não era etnicização?
4. Os moldes do novo recrutamento para evitar a etnicização
das Forças Armadas da Guiné Bissau vai solucionar qual problema?
5. Por que João Brito nunca se pronunciou quando militares
BRAASAS estavam sendo perseguidos dentro das Forças Armadas da Guiné?
Venha responder ou não. Saiba que há uma resposta credível. O
Senhor João Brito não fez nada quando nada estava te incomodando. Só agora é que
reagiu por se sentir incomodado. Isso me leva a acreditar que o senhor está
acreditando no extermino da etnia BRAASAS (balantas). Aqui consta a sua
afirmação:
"Tem
de se definir um quadro claro para o papel futuro das Forças Armadas, que poderá
passar por um serviço militar obrigatório, mais profissionalismo e eficácia, uma
vez que estão extremamente etnicizadas, pois 95 por cento dos seus efectivos são
da etnia Balanta",
afirmou
Se
permitirmos esse tipo de recrutamento, permitiremos que quando surgir guerra
contra a Guiné-Bissau, um dia, também terá que ser determinado quantos números
de soldados Fulas, Mandingas, Nalús, por exemplo, é que irão lutar contra o
inimigo. Nunca mandar contingentes BRASAS em número maior para eventual guerra.
Olha senhor João Brito, até Cabo
Verde que hoje é independente, deve este fato aos BRAASAS. Poucos filhos
de Cabo Verde lutaram nas matas da Guiné-Bissau em prol da libertação do país
(Cabo Verde). Se, és ministro dos Negócios Estrangeiros caboverdiano deves isso
à bravura dessa agente que deu a independência ao seu país.
Dá a impressão de que quando
BRAASA (balanta) morre a maioria não se sensibiliza. Nunca vi as pessoas
comentar sobre a morte dos oficiais BRAASAS (balanta) com indignação
quanto a morte do Nino, por exemplo. Ao ponto de alguém dizer que Tagme
Na Wuaé morreu a morte merecida, pois os BRAASAS (balantas) são de
confusão. Esse tipo de posicionamento é que pode trazer guerra tribal na
Guiné-Bissau. Mesmo sendo o que todos nós não desejamos, mas o cenário está
sendo desenhado. Pois nenhuma tribo da Guiné-Bissau possui sangue de barata que
só tem que receber pancada. Um dia essa tribo vai revidar.
Para terminar saibam
queridos guineenses e estrangeiros que, BRAASA é sempre tolerante. Se não
o fosse a Guiné-Bissau viveria uma guerra pior do que aquela que o Ruanda viveu.
Se um dia BRAASA ficar na posição de tribo minoritária, a tribo
dominante cometerá o pior na Guiné-Bissau. Senão, vedes as tribos predominantes
em outros países. Qual a posição que ocupam?
*
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