NÃO NOS RESIGNAREMOS À VERDADE DA CONVENIÊNCIA!
"...jurei a mim mesmo que tenho que dar a minha vida, toda a minha energia, toda a minha coragem, toda a capacidade que posso ter como homem, até ao dia em que morrer, ao serviço do meu povo, na Guiné e Cabo Verde. Ao serviço da causa da humanidade, para dar a minha contribuição, na medida do possível, para a vida do homem se tornar melhor no mundo. Este é que é o meu trabalho." Amilcar Cabral - 1969
Por: Fernando Casimiro (Didinho)
20.01.2009
Trinta e seis anos depois, continuamos na mesma, como que satisfeitos pelos relatos do livro "Três Tiros da Pide" da autoria do jornalista russo Oleg Ignatiev, ou de outros ensaios de investigação ao assassinato de Amilcar Cabral.
Trinta e seis anos depois, é altura de exigirmos, nós guineenses, os cabo-verdianos, os africanos em geral, e todos os países lusófonos, que se crie uma Comissão Internacional de Investigação que tente reconstituir o assassinato de Amilcar Cabral, com base nas memórias ainda presentes de algumas pessoas da época, pois qualquer dia deixaremos de ter "testemunhos" vivos para investigações mais profundas.
Tudo o que se fez imediatamente ao assassinato de Cabral a 20 de Janeiro de 1973 em Conacri foi negativo para o apuramento da verdade sobre a sua morte.
Houve pressa em mandar executar muitas pessoas, sem se ter em conta que com essas execuções também se estava a "enterrar" pistas para o apuramento de responsabilidades morais do bárbaro crime.
Guineenses e cabo-verdianos agrupados no PAIGC, camaradas de Amilcar Cabral, nada fizeram até hoje para que se descobrisse quem, na verdade, mandou matar Cabral!
Hoje, 36 anos depois, continuamos a ser insultados com relatórios da CIA que são autênticos rascunhos de praticantes de investigação e que balançam entre a ilibação e a participação da PIDE/DGS (polícia política portuguesa), no assassinato de Amilcar Cabral.
Hoje, 36 anos depois, continuamos a ver um "Novo Portugal" indiferente aos crimes do passado colonial português, incapaz de criar uma Comissão de Investigação para o esclarecimento do assassinato de uma das figuras mais proeminentes das lutas de libertação em África, um lusófono da mais alta craveira intelectual, cujo assassinato foi desde a primeira hora, associado à PIDE/DGS!
Mas não podemos responsabilizar unicamente Portugal pela indiferença na busca da verdade sobre o assassinato de Cabral. A Guiné-Bissau e Cabo Verde nada fizeram até hoje, para pelo menos, proceder-se à reabertura dos dossiês da Comissão criada logo após o bárbaro acto.
Hoje temos quadros capazes de proceder a investigações sérias e com o conjunto de conhecimentos adquiridos do percurso histórico da luta de libertação; de atitudes e comportamentos de pessoas que participaram na referida luta; do percurso pós-independência da Guiné e de Cabo Verde, poder-se-ia criar uma base de retorno ao passado para a reconstituição do assassinato de Cabral.
Descobrir mais verdades sobre a morte de Amilcar Cabral implica igualmente uma maior "abertura" dos familiares directos, principalmente da sua esposa Ana Maria Cabral, testemunha viva do assassinato.
Certamente estaremos todos de acordo de que todos os detalhes são válidos para uma investigação séria, mesmo que hoje se sustente que sobre a morte de Cabral já se disse tudo o que foi possível apurar.
Acredito que haverá pequenos detalhes que, interligados, poderão servir para novas conclusões. Deve-se exigir aos governos da Guiné-Bissau, de Cabo Verde e de Portugal, a criação de uma Comissão Internacional de Investigação ao assassinato de Amilcar Cabral!
Não devemos pactuar com o conformismo, a resignação e a hipocrisia das relações lusófonas no tocante ao apuramento de verdades históricas.
Uma das melhores formas de homenagear Cabral é não lhe recusar a verdade sobre a sua morte, posto isso, apela-se à consciência dos que continuam a "carregar" o fardo das verdades inconvenientes...
Honra e Glória a Amilcar Cabral e a todos os heróis nacionais tombados pela causa da libertação Nacional!
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