ADULAI INDJAI E A (SUA) RÁDIO JOVEM
O jornalista Adulai Indjai à chegada ao aeroporto da Portela - Lisboa, 15.10.2006
Por: Fernando Casimiro (Didinho)
19.08.2007
A 03 de Outubro de 2006 escrevi o artigo "JORNALISTA GUINEENSE AMEAÇADO DE MORTE" para divulgar e denunciar a ameaça de morte dirigida ao jornalista guineense Adulai Indjai.
No próprio dia travei conhecimento com ele pela Internet. Manifestei-lhe toda a minha solidariedade e disponibilizei-me, de imediato, a ajudá-lo, caso manifestasse vontade em sair do país, pois corria riscos muito sérios.
Fomos trocando ideias e opiniões durante alguns dias, tendo-me apercebido estar perante um jovem decidido, esclarecido, que ama e orgulha-se da sua pátria.
As ameaças foram continuando e achamos por bem que o melhor seria o Adulai abandonar a Guiné-Bissau.
Ele ficou de tratar das papeladas para poder entrar em Portugal, o que conseguiu de imediato, bem como conseguiu custear as despesas da sua deslocação.
Da minha parte ficou a promessa de ajudá-lo a conseguir o estatuto de asilado num país europeu.
Entrei em contacto com um amigo e conterrâneo, expliquei-lhe a situação do Adulai Indjai e o meu amigo solidarizou-se com o caso e com a ideia, prometendo fazer tudo para que se conseguisse ajudá-lo.
Falei ao Adulai sobre ele e passaram a trocar mensagens.
A chegada a Lisboa aconteceu a 15 de Outubro de 2006. Apesar de ter sido operado a um joelho no dia 10 e ter recebido alta hospitalar a 11, fiz questão de ir ao aeroporto para receber o Adulai.
Lá estava, igualmente, um familiar dele, pois a solidariedade tinha-se expandido por várias frentes e era em casa de familiares que o Adulai iria permanecer até seguir a fase seguinte, que consistia numa outra viagem para um outro país europeu, onde iria "apresentar-se" para requerer o estatuto de asilado.
Fomos falando e tivemos mais um encontro antes da sua partida definitiva.
Em simultâneo, fui trocando informações com o meu amigo e conterrâneo que se tinha disponibilizado para fazer chegar o Adulai ao destino final.
A 02 de Novembro de 2006, recebi dele a seguinte mensagem: " A tua encomenda" chegou ontem e está bem entregue!
Fiquei satisfeito por, finalmente, o Adulai ter chegado ao destino que tínhamos concluído ser o melhor para ele requerer o estatuto de asilado.
Fiquei contente por ter visto os efeitos da SOLIDARIEDADE em acção!
Fiquei contente por saber que o Adulai estava longe do perigo das ameaças de morte e, por assim dizer, se ter resguardado a vida de um promissor jovem guineense.
O processo de requerimento do estatuto de asilado é complexo e moroso. O Adulai já ultrapassou todas as formalidades do processo, estando à espera, no entanto, que a decisão final lhe seja comunicada, o que deverá ser de todo favorável, pois as diversas fases do processo por que já passou, dão indicações positivas nesse sentido.
O Adulai está bem e tem acompanhado a situação na Guiné-Bissau, sendo que mantenho contacto regular com ele, ou não fosse a Internet o maior e melhor elo de comunicação do mundo.
Há dias enviou-me um artigo sobre a comemoração do 2º aniversário da Rádio Jovem, que ele ajudou a fundar na Guiné-Bissau.
O Adulai Indjai é um jovem de 27 anos que não se conforma com a situação no seu país. Não se resigna a ver passar o dia-a-dia.
É um jovem de acção que, tal como eu, não se limita a fazer só a sua parte!
Tal como eu, o Adulai Indjai tenta, igualmente, incentivar cada um a fazer a sua, em função da sua consciência, compromisso e responsabilidade para com o país!
Aproveito esta oportunidade para, uma vez mais, agradecer ao meu amigo e conterrâneo que, desde a primeira hora manifestou solidariedade para com o Adulai Indjai tendo a sua acção sido decisiva em todo este processo, ele que também, tal como eu e o Adulai, não se limita a fazer só a sua parte!
Vamos continuar a trabalhar!
NÃO SOMOS TELESPECTADORES!
Por: Adulai Indjai 14.08.2007 Começo este meu pequeno artigo com esta citação impressionante de Amilcar Cabral, um pensamento que nós traímos com os nossos interesses mesquinhos. Se conseguíssemos acatar os ideais de Cabral hoje o nosso país não estaria na lista dos países mais pobres do mundo. É triste como só conseguimos fazer o contrário daquilo que este Homem e seus camaradas planificaram. Os jovens na nossa terra foram vistos e clamados sempre como delinquentes e marginais, não porque corresponda à verdade, mas sim, porque os mais velhos nunca souberam assumir as suas responsabilidades para com esta camada, e sempre tiveram receio da capacidade intelectual e da vontade de fazer e saber dos jovens desta pátria querida. Por isso, fizeram e fazem tudo para obstaculizar os projectos deste grupo nobre. No nosso país falou-se desde antes do conflito politico militar de 1998 do famoso projecto emprego Jovem, mas que nunca chegou a sair do escritório onde foi planificado. Isto faz parte do fracasso dos mais velhos sem citar outras ideias mal pensados como o documento divisionista da política nacional da Juventude. Hoje, dia 14 de Agosto, mês da juventude, uma data ficara marcada na história da Guiné-Bissau. Há dois anos atrás, nesta data, foi lançada a frequência radiofónica mais jovem da nossa querida Guiné, a Rádio Jovem. A sua abertura criou uma certa inquietude na classe política, mas a sua equipa formada por jovens com vontade de fazer algo para o bem da sua nação provou o contrário, mostrando-lhes que fazer rádio não significa fazer batalha política, mas sim, participar na consciencialização do homem guineense face aos problemas mais gritantes da pobreza, porque uma sociedade só avança rumo ao bem-estar quando os seus membros não se sentem molestados nas suas liberdades mais elementares como a de poder exprimir os seus sentimentos, sobretudo, nos momentos difíceis, como os que o nosso país vive neste momento. A criação deste pequeno elemento teve um objectivo único: participar activamente na criação de uma opinião pública favorável ao desenvolvimento durável da Guiné-Bissau, mas a nossa incapacidade em encarar e conferir um novo rumo ao nosso país, neste milénio cheio de desafios e de esperanças, fez com que muitos sentissem medo desta instituição de utilidade pública que passados dois anos de sua existência só tem servido o povo, informando e formando toda a sociedade guineense. É hora de Acção A juventude tem valor por si mesma; por aquilo que dá, pela própria verdade do seu ser, pela fecundade do que dá, disse o Papa João Paulo II. Se os adultos têm deveres acrescidos com a camada juvenil, com a criação desta estacão radiofónica mostramos ter clara consciência daquilo que somos. Trata-se de um pressuposto elementar para que possamos dar uma resposta valida aos nossos problemas e os da sociedade em geral, contribuir para revitalizar o ambiente onde vivemos não como telespectadores, mas sim, como elementos da sociedade civil capazes de dar a sua contribuição na edificação do nosso país. No início fomos vistos como contestadores, delinquentes e marginais. Hoje provamos que podemos e somos verdadeiros protagonistas da mudança! Voluntários e responsáveis desde a primeira hora, toda a equipa que participou na elaboração deste projecto assim como os que hoje fazem parte dele estão conscientes da importância e da utilidade do mesmo na preparação da futura geração de dirigentes da Guiné-Bissau, como forma de evitar os erros do passado. Nunca pensaram em reclamar um salário, mas sim, servir a pátria para ganhar o salário mais alto do mundo (AGRADECIMENTO) vindo do povo humilde da terra de CABRAL. Um recado aos combatentes de microfone da Rádio Jovem Hoje fomenta-se no nosso país uma cultura de divisionismo, fenómeno marcado pelo sentimento de hostilidade causado pelas ambições mesquinhas e pessoais. Cientes da união e amor que existe na nossa camada, do sentimento de mudança total e com vontade enorme de ver a nossa terra encontrar um caminho ideal rumo ao desenvolvimento, a rádio jovem surgiu como um elemento de resposta à questão colocada pela relação problemática entre a dinâmica do sistema socio-político, estagnado pelos constantes conflitos de interesse socio-político do homem Guineense. Retribuindo aos jovens a voz no processo da gerência politica, porque há muitas pessoas que se esqueceram que para que um país atinja o seu apogeu deve apostar seriamente na formação da camada juvenil (força matriz de qualquer sociedade), na formação para a cidadania (incluindo estruturas como os media enquanto agentes de socialização, os media como recursos de aprendizagem e como campo de estudo e de reflexão sobre a sociedade. Pressupostos que passam necessariamente pela aposta no grupo mais dinâmico da sociedade; a juventude. Para o trabalho Jornalístico é fundamental ter a capacidade de manter uma atitude crítica, de publicar ou não, de dar mais ou menos destaque, de procurar outro ângulo. Ser independente e crítico, e não deixar nunca ser assediado pelos assessores, como forma de produzir mentira para agradar ao chefe, mas sim esclarecer o povo sobre o que se passe em matéria da gestão política do país, porque o nosso papel é o de fazer a ligação entre os dirigentes e os dirigidos respeitando sempre a ética jornalística. Diz-se que actualmente já não se faz bom jornalismo e que, para vender, vale tudo, nomeadamente a intromissão na vida privada de caras conhecidas, com notícias escandalosas e exacerbadas que fazem as delícias do “zé-povinho” . Deve-se evitar de dar atenção à elite que quer ser vista e ouvida a todo custo na praça pública, mas devemos levar os nossos microfones aos oprimidos psicolgica ou fisicamente, fazer debates de ideias como forma de encontrar soluções para os problemas mais gritantes do povo.
Hoje os elementos fundadores deste projecto encontram-se espalhados pelos quatro cantos do mundo, preparando-se para estarem aptos para as tarefas e desafios do processo de desenvolvimento do nosso país. Falo da nossa querida Irmã, Sandra Nandigna, do Euclides Horta, Lassana, Nelson Constantino Lopes, Januário Djalo entre outros. Valeu a pena passar horas a batalhar por este projecto. Feliz aniversário rádio jovem, desejando que continue a fazer parte da sociedade Guineense para sempre...... Adulai Indjai, jornalista independente trabalhou como técnico de desenvolvimento na ONG Portuguesa INDE – Intercooperação e Desenvolvimento. Membro fundador da rádio Jovem, desempenhou as funções de produtor e apresentador do programa radiofónico Voz da Juventude para os Objectivos do Milénio, que foi financiado pelo VNU (Voluntários das Nações Unidas), na Rádio Jovem. Exerceu as funções de jornalista e editor gráfico no Jornal Gazeta de Noticias. É membro da direcção da Rede Nacional de Associações Juvenis (RENAJ) e da associação UBUNTU. Em Outubro de 2006 teve que abandonar o seu país, a Guiné-Bissau, por motivos de força maior; estava a ser alvo de ameaças e perseguições. Actualmente encontra-se refugiado na Europa. ADULAI INDJAI EM ENTREVISTA SOBRE OS OBJECTIVOS DO MILÉNIO NA GUINÉ-BISSAU |