NEM TUDO É INFERNO NA GUINÉ- BISSAU
 

 

Filipe Sanhá

 

filipesanha@iol.pt

12.08.2012

Filipe SanháSão públicas, as muitas dificuldades da Guiné – Bissau, também em matéria de organização, ancoradas em vários pontos focais. Uma delas é a formação e qualificação de quadros, que por sua vez, dependem, grandemente, da capacidade e autonomia financeira do País. Existe vontade em mudar o actual estado do País, acreditem. Agradou-me imenso ver e presenciar a motivação dos nossos jovens, estudantes e não estudantes, em aprender. Emergem algumas escolas, técnico – profissionais, públicas e privadas, que trabalham afincadamente, na qualificação da nossa mão-de-obra nacional. Tenho imensas dificuldades em analisar e comentar o ponto de situação das nossas escolas de base, porque na verdade não estive, directamente, implicado na problemática do nosso sistema educativo nacional, até ao nível do 12º ano. No entanto quando em 2011, o meu/nosso Ministério da Função Pública, Trabalho e Modernização do Estado, organizou o dia Africano da Função Pública, todos os Dirigentes do Ministério, estiveram envolvidos na mobilização, e sensibilização dos nossos Jovens para o certame. Estive num dos Liceus Nacionais da Capital. O Liceu Samora Moisés Machel, onde estive com outro Dirigente do Ministério, agradou-me sobremaneira. O objectivo era esclarecer e sensibilizar os jovens sobre este dia instituído pelas Nações Unidas, para a promoção da qualidade nas Administrações Públicas Africanas. A Direcção do Liceu está de parabéns, porque apesar das muitas limitações, fiquei agradado com a organização que presenciei. Houve uma presença significativa de jovens de todos os níveis escolares do estabelecimento, na conferência. No dia D, das comemorações, 23 de Junho, estavam representados no Hotel (antigo 24 Setembro, hoje Azalai), onde iriam decorrer as cerimónias oficiais, e muitos fizeram questão de me manifestar a sua presença. Este era um dos objectivos. Não faço política activa de promoção de quem quer que seja, porque as minhas preocupações centram – se na Guiné – Bissau, fundamentalmente, na nossa Juventude, cumprindo a minha parte. A motivação que se notava, nos jovens, no meu dia-a-dia, em Bissau, em aprender e introduzir-se nos domínios de conhecimentos científicos era, efectivamente, grande. Na Universidade Colinas do Boé, onde leccionava uma cadeira, via-se e sentia-se uma enorme envolvência dos estudantes. Existem Universidades e Faculdades em Bissau que começam a dar sinais de enorme vitalidade e qualidade no ensino que ministram. Uma delas é sem dúvida a Colinas do Boé. Tem muito bons Professores, todos licenciados e alguns com nível académico ainda superior. Isso agradou-me imenso. São indicadores promissores para o nosso futuro colectivo na senda do desenvolvimento e estabilização no sentido mais abrangente. Infelizmente não tenho dados estatísticos actualizados, mas pelos contactos informais, ao nível do ensino superior, as Universidades Públicas e Privadas, na Guiné – Bissau, no seu conjunto somam alguns milhares de estudantes matriculados/inscritos. É, francamente, encorajador. Costumo fazer análises comparativas cronológicas. Assim, 38 anos de vida nos humanos, é de facto uma idade de maturidade exigível. Para os países, essa idade, é uma etapa importante, mas muito jovem. Por isso apostemos na formação e qualificação dos nossos jovens, porque ainda temos um longo caminho a percorrer. Acredito no sucesso da Nação Guineense, independentemente, dos minérios descobertos nesta última década! Estamos todos ansiosos em ver a Guiné – Bissau desenvolvida, livre de todos os males e desvios, muito rapidamente, mas tenhamos paciência, porque isso é um percurso que a própria história, por vezes estabelece. Construir um País não é fácil! Há que perseguir e prosseguir com os nossos projectos nacionais de desenvolvimento, mesmo com todos os desvios inerentes, que devem ser combatidos e colmatados. Comparar a Guiné – Bissau a determinados “países modelo”, incluindo os emergentes, é muito bom, para nos servir de exemplo, estímulo e motivador, mas há que reconhecer que a história tem os seus próprios percursos, cujas etapas muitas vezes não podem ser alienadas ou suprimidas a qualquer preço, portanto intransponíveis, levianamente. Os ditos “países modelo”, aos 100 e 150 anos da sua existência, também tiveram e debateram-se com problemas de índole, quiçá pior que os nossos, que merecem ser revisados, para nos mantermos ambiciosos mas pacientes e realistas. O diálogo, a formação, a serenidade, e implicação de todos como autores e actores, mas sem excepção, parecem-me o caminho conducente ao primado do sucesso que todos ambicionamos e desejamos à Nação Guineense. Por isso, orgulha-me ter sido o autor e conceptualizador do Projecto do nosso primeiro Observatório Nacional do Emprego e Formação Profissional, que já existe, neste momento, tendo percorrido todas as etapas de aprovação em Conselho de Ministros. Desde 2003 que o país já se debatia com essa necessidade, e por conseguinte, houve, de facto, várias pessoas que se envolveram técnica e emocionalmente na criação deste importantíssimo instrumento de medida das nossas necessidades em matéria de qualificação e emprego de quadros, jovens e adultos. A minha vida em Bissau, nestes últimos 15 meses (Abril de 2011 a Julho de 2012), não foi nada fácil, mas acredito que o amor e paixão movem montanhas! E o caminho faz-se… caminhando!
Nha mantenhas.
Filipe Sanhá

 

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