“NOSSOS FILHOS E NETOS TAMBÉM TÊM DIREITOS, COMO OS FILHOS E NETOS DELES”
Secuna Baldé *
06.11.2009
Carta Aberta aos Senhores Presidente da República, Primeiro Ministro e Deputados da Nação.
Excelentíssimos Senhores;
Vs. Exas. como representantes do nosso povo, capazes de ouvir os desejos e anseios das pessoas e conduzir com dignidade a representação que vos foi dada através do voto popular, enxergam que existem diversas das mesmas pessoas indignadas com tanta injustiça, corrupção, falta de esclarecimentos em diversos factos e acontecimentos, tanta desigualdade e sofrimento revelados na Guiné Bissau.
Assim, venho tomar mais uma vez a liberdade de poder expressar minha infinita indignação, profundamente abalada com a triste realidade com que o povo guineense convive, gente como a gente, feita de carne e sangue, que luta pela vida e contra a morte. E sei que esta expressão da qual começo a fazer parte, é também a revolta de muitos e muitos guineenses que estão não só em nosso país como também espalhados por todo o mundo.
É legítimo Senhor Presidente e demais autoridades Guineenses, que Vossas Senhorias escutem e vejam o que eu vejo e escuto, e não adianta fechar os olhos e ouvidos para não ver e ouvir os pedidos de socorro por parte daqueles que sofrem, que têm os seus direitos roubados, direito a ter uma vida digna, de qualidade, sendo-lhes supridas todas as necessidades básicas de qualquer ser humano.
Excelentíssimo Senhor Presidente e demais autoridades,
Vossa senhoria, em sua campanha presidencial, prometeu surpreender a todos com a realização de suas propostas para melhoramento do país. Queremos que Vossa Excelência comece por esclarecer acerca dos desvios de fundos do Estado que até hoje não tem procedimento judicial e nem os acusados provaram o contrário. Então pedimos ao Senhor presidente da Republica que essas pessoas sejam chamadas à justiça para realizar os esclarecimentos necessários. Casos como: 15 (quinze) MILHÕES DE DÓLARES desviados durante Governo do falecido Primeiro-Ministro Caetano N’Tchama. Queremos explicação do Senhor. Do Ministério das Finanças na altura, O CASO DOS DOIS MILHÕES DE DÓLARES OFERECIDOS PELA REPÚBLICA DA NIGÉRIA em 2001 a 2002 e desviados no governo do Ex Primeiro-Ministro Faustino Imbali, em fevereiro de 2005. A Inspecção Superior Contra a Corrupção detectou um desfalque financeiro na ordem de mais de 210 milhões de FCFA que presumivelmente não teriam dado entrada nos cofres do Tesouro Público, e que, de acordo com a nota, os presumíveis implicados nesta fraude são altos funcionários do Ministério da Economia e Finanças, da Secretaria de Estado do Turismo e da empresa Rodofluvial. E queremos saber também esclarecimentos sobre venda do Hotti Bissau Hotel, hoje chamado Líbia Hotel.
Excelentíssimo Senhor Presidente;
Já que o Senhor falou tanto em surpresas na campanha, então começo a cobrar do Ministério Público, como órgão constitucionalmente obrigado a desencadear os mecanismos legais ante qualquer denúncia de crime público, como o caso do dia 31 de Março, numa entrevista à RDP África, o líder do partido PADEC, Senhor Francisco Fadul, acusou Carlos Gomes Júnior e o comandante Zamora Induta, da autoria do assassinato do presidente Nino Vieira e do antigo chefe do Estado Maior General Tagme na Waie, e todos esses acusados ninguém foram chamados para esclarecer o fato no Ministério Público.
O que levou a morte do Baciro Dabó e Hélder Proença? Porque ninguém mais me convence sobre a mentirosa invenção da tentativa de golpe de Estado. Quantos homens foram mortos em nome da mentira, invenções e calúnias de golpes de estado; quantos pais de família foram mortos em nosso País?
Não podemos deixar mais os nossos políticos e militares sangrarem o nosso povo nas ruas da nossa cidade; não podemos deixar que aconteça outro 17 de outubro ou 7 de junho. E nem homens fazendo justiça com Catanas, ou pessoas de ternos e gravatas espalhados por todos os cantos do nosso País, maculando nossa pátria, nossa terra, nossa vida, nossos sonhos, nossos amores.
Meus Senhores, Os rios mudam seus percursos, as nuvens mudam de lugar, as pessoas mudam e o PAIGC precisa mudar, e seus homens também. É a vida desse povo sofrido, que precisa de paz, de amor e da liberdade.
O clamor é muito grande. Todos clamam. Os homens, as mulheres, as crianças, as prostitutas, os pobres, os agricultores, os desempregados, os recém formados, os “sem-isso” e os “sem-aquilo”. Há sempre alguém clamando em algum canto do nosso país.
O clamor do nosso povo é contra os políticos, os Militares, os Ministros, os Deputados, os Secretários de Estados, os assassinos, os mentirosos e todos aqueles senhores e senhoras que oprimem e matam as pessoas por todos os lados do nosso País. Matam em vários sentidos. Matam de fome, de tristeza, de sofrimento. Nosso país tem uma fome enorme. Fome de emprego, de escola, de saúde, de desenvolvimento, de direitos igualitários para todos, enfim, hoje os nossos jovens tiveram que abandonar os pais, os amigos, os irmãos e o lugar onde nasceram que era o que tinham de mais sagrado; porque eles foram obrigados abandonar os seus sonhos, os que ficaram estão desempregados, maltratados, humilhados e espancados nas ruas das nossas cidades.
Os Pais que clamam o salário de miséria que nem dá para pagar todas as despesas e muitas vezes não dá nem para manter a família alimentada durante todo o mês, além dos salários de miséria em atraso. Mas o clamor mais duro de ouvir, Senhores, é o das mães que clamam, e dizem: “os nossos filhos e netos são tão importantes quanto os filhos e netos deles”, porque os nossos filhos também têm a mesma carne como os filhos dos políticos, os filhos de militares, os filhos de ministros e os filhos de deputados, então, porque eles sujeitam os nossos filhos e nossas filhas para serem escravos deles se todos nós temos os mesmos direitos nesse País? Algumas de nossas filhas já estão reduzidas a meros objetos sexuais, tornaram-se prostitutas; outros de nossos filhos, que ainda são meninos, deixaram de brincar e de estudar para vender amendoim nas esquinas e nas ruas da nossa cidade, o que corta o nosso coração é saber que não podemos fazer nada, não está em nosso poder mudar a situação; não temos mais campos, não temos mais escolas, não temos mais direitos, não temos mais saúde, não temos mais emprego, não temos mais sonhos, não temos mais nada, e nem tão pouco uma vida digna... Aliás, será que um dia, tivemos tudo isso?
Excelentíssimo Senhores;
É difícil ouvir esse clamor, mas é tudo verdade. O povo clama, geme, sofre e suporta angústias até o fim. Até quando, Senhores? É o povo que afirma veementemente: Não está em nosso poder mudar isso. Mas está no poder de quem? De quem é o poder?
Os senhores andam falando por aí que depois das eleições Presidenciais o nosso país está vivendo momentos de tranquilidade, um período real de democracia. Ora, eu que tive a oportunidade de ir a uma escola aprendi que democracia é o governo do povo e para o povo. Mas que raio de democracia é essa, na qual o povo é aquele que paga pelos luxos dos governantes, pelo presentes dados às mulheres nas ruas, pelas viagens dos filhos pelo mundo, pela corrupção dos políticos, pelo prejuízo da impunidade dos traficantes, pelo conforto da fétida e covarde elite política de Guiné? É o povo pobre que paga essa conta com seu suor, suas lágrimas e seu sangue. É o povo pobre que entrega o seu corpo para ser pisado e sangrado até a morte. É o povo pobre que sofre, geme e suporta angústias, perdendo a sua vida, dignidade, esperança e felicidade.
É grande, Senhores, o clamor do povo e de suas mulheres contra a elite política na Guiné. Os filhos daqueles que clamam são os mesmos que sofrem e sangram para garantir a mesa e a alegria dos filhos daqueles que exploram, compram, vendem e matam os direitos da nação. Os que clamam afirmam: Nossos filhos e netos são tão bons como os deles. Mas, o que fazer para garantir esse mínimo de igualdade? Como fazer valer a máxima da democracia que garante a todos o direito de serem iguais? A lei afirma que todos são iguais, mas por que alguns são mais iguais do que outros?
O povo está clamando contra seus próprios irmãos, seu povo e sua nação. Até quando esse povo encontrará forças para clamar? Precisamos de ouvidos para ouvir e de olhos para ver que o mundo à nossa volta precisa mudar.
Espero de todo o coração que Deus abençoe cada um de vocês, e que ilumine vossas mentes, que olhem para o que está acontecendo na Guiné com um olhar mais patriótico. Nossa Pátria merece Respeito.
Senhores, Fechem os olhos e ouçam o nosso Hino Nacional e depois cantem-no lendo a letra. Entendam profundamente a mensagem. Será que a Guiné-Bissau que temos (da forma como a temos) é a nossa Pátria Amada? Será Que a nossa luta fecundou? E quanto à força da nossa união? Floriu nos céus a bandeira de luta? O que houve Guiné?
Sou um grito de liberdade, não importa o que tiram de mim, eles não podem tirar minha identidade, ou minha dignidade, sou guineense. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.
Indignadamente,
Secuna Baldé
Estudante de Pós Graduação
João Pessoa/PB, Brasil
ESPAÇO PARA COMENTÁRIOS AOS DIVERSOS ARTIGOS DO NÔ DJUNTA MON -- PARTICIPE!
A TER SEMPRE EM CONTA: Objectivos do Milénio
VAMOS CONTINUAR A TRABALHAR!
Projecto Guiné-Bissau: CONTRIBUTO