O 1° DE MAIO NA GUINÉ-BISSAU
Cadija Mané * 28.04.2011 Aproxima-se o 1°de Maio, uma data em que se comemora o dia dos trabalhadores, dia este que tem como pano de fundo a manifestação de trabalhadores nas ruas de Chicago, nos Estados Unidos da América em 1886, que reivindicavam a redução da jornada de trabalho para 8 horas diárias. Anos mais tarde, muitos ouros país adoptaram esta data como homenagem às lutas sindicais e é comemorado sobretudo com manifestações, comícios e festas de carácter reivindicativo. E como é que esta data se comemora no nosso país, na Guiné-Bissau? Vejo, na minha modesta análise, que a celebração desta data tem todo o tipo de carácter menos o reivindicativo, aqui as instituições e as pessoas que nelas trabalham se unem para a celebrar de uma forma mais “light”, em que não existem preocupações, revolta ou desabafo, mas sim um ambiente em que se vai confraternizar, beber e comer e quiçá também dançar, esquecendo que provavelmente no dia seguinte quando a realidade revir, a pessoa não tem nem 100 francos no bolso para apanhar toca-toca ou deixar o pequeno-almoço para as crianças em casa. Não sou contra a celebração em sim, mas admira-me o quão as pessoas se esquecem do que lhes trás dor, está-se a celebrar o quê? As boas condições de trabalho? O salário mínimo nacional que ultrapassa a do país vizinho? Os transportes públicos a preços baixos? O saco de arroz que se pode comprar a um preço que não fira os bolsos e carteiras de cada cidadão? Aos táxis que nos levam aos nossos locais de trabalho sem se preocuparem com a má condição das estradas? Ou então, celebramos pelo governo que tão elogiado tem sido, por pagar (como se isso fosse algo extraordinário) atempadamente os salários. Será isso um direito ou um dever? Pergunto. Aqui na Guiné, tudo é contraditório, ou sabemos bem viver com a máxima do “djitu ka tem”, está enraizado e aculturado. Já se fazem listas de quem vai ou não ao “sintado” do 1 de Maio, com quanto contribuir, o que beber, se sumo ou cerveja ou vinho, outros alugam espaço, outros preparam os seus quintais, muitos outros se deslocam a Bolama, Varela, Suru, todos estão na mesma sintonia da festa, do convívio, do dar “passada” até a hora se cansar. E desses muitos, são ou serão poucos aqueles, que irão lamentar que não haverá nenhuma campanha política do aumento salarial, nenhuma promessa de que as condições de trabalho serão outras, os filhos poderão começar a ir às aulas sem a ameaça permanente de greves dos professores, deve-se dar emprego aos jovens, as funções e papeis de cada um devem ser bem definidos nas instituições onde trabalham, porque sabemos bem que, termos de referencia e definições de papeis ainda é algo vago nas nossas instituições. A reivindicação deste dia por cá passa pelo continuar com a solidariedade de se organizar festas nos primeiros de Maio - dia do trabalhador. Dia este que provavelmente, um número significativo de pessoas não saberá ao certo, o que é que esta data significa e talvez alguns dos trabalhadores também. Não quero com isto dizer, que o dia 1° de Maio terá que ser um dia triste. Não, porque nele se recorda também as conquistas que os trabalhadores foram conseguindo ao longo dos tempos, mas é importante que não nos esqueçamos que ao nosso nível temos ainda muitas conquistas a concluir e saber que, as novas formas de organização do trabalho e a globalização inclusive, trarão para além dos problemas acumulados que temos, novos problemas que nós como trabalhadores teremos que enfrentar. Se me permitem, desejo a todos um bom dia do trabalhador e boa reflexão! * Socióloga
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