O CONFLITO DE INTERESSES E OS INTERESSES EM CONFLITO. “Agora, no meu leito de morte, de repente percebo: se eu tivesse primeiro me empenhado apenas em mudar a mim mesmo, começando por corrigir meus erros e dando meu exemplo, eu teria mudado minha família. Com a inspiração e encorajado pela família e os amigos, teria sido capaz de melhorar meu bairro, minha cidade, minha região e meu país e, quem sabe, poderia até ter mudado o mundo.” Trecho de Inscrição no túmulo de um bispo anglicano, que está na cripta da Abadia de Westminster, na praça do Parlamento, em Londres.
Gustavo Gomes gustavo.gomes69@gmail.com 10.10.2010 Toda sociedade tem conflito de interesses. No passado o conflito entre o exclusivo interesse de lucro das exploradoras empresas da Metrópole chocava-se com os interesses dos explorados na (então colónia ou província ultramarina) Guiné. Isso instou o movimento de luta pela Independência em relação aos (então compatriotas) portugueses que veneravam a ditadura, Lisboa, Salazar e a PIDE. O mote que permitiu a Nação aperceber-se da ruptura ou divergência de interesses foi o massacre de Pidjiguiti. A Guiné-Bissau conquistou a Independência do território, mas nosso povo não tem até hoje a liberdade e a democracia, como foi desejado por Amilcar Cabral. Guineenses, nossos irmãos e compatriotas, de forma matreira, assumem, conservam e revezam-se no Poder Politico e soberano. Sempre as mesmas pessoas, macumunadas nas forças armadas, na Assembleia Popular, Executivo, Presidência, Judiciário e os ditos empresários nacionais de ocasião. Praticam a farsa da democracia republicana. Farsa porque o que prevalece é o nepotismo, o “amiguismo”, o “clientelismo”, vivem de criar “culpados”, “tribalismos” ou “inventonas” (coisa nossa), sempre na linha do dividir para governar e assim desviar-se a atenção às mazelas que causam ao Pais do qual se julgam donos absolutos e dele se valem como balcão de negociatas particulares dissociados dos interesses gerais do povo. Povo esse, também constituído de irmãos e compatriotas nossos , que se tornam reféns e “dependentes” dos bons préstimos e do favor de “alguem do governo”, para o emprego público (não recebe vencimentos mas pode cobrar propinas), pedir uma bolsa de estudo, um quilo de arroz, um tratamento médico ou visto para trabalhar no estrangeiro. Solicitar uma concessão, uma autorização, um deferimento, sem contar (como já dito), disputar os “brindes” oferecidos durante as campanhas eleitorais. E isto ocorre com o beneplácito da Comunidade Internacional (desde que assinados acordos de pesca ou de “cooperação” vantajosos, desde que imigrantes guineenses sejam mão de obra barata e que rendem dividendos cambiais quando remetem dinheiro para os familiares na Guiné). Da CPLP (desde que Portugal, Angola e Brasil continuem “parceiros comerciais” preferenciais) e outros organismos que se apressam em considerar nossas eleições como justas, reconhecer novos governantes “golpistas” como legítimos, aprovar e elogiar nossas contas e governação pública, sempre e somente quando não sejam (pessoas) conflitantes com os interesses dessas organizações. Seus representantes locais, seja como cooperantes ou adidos na mais das vezes deleitam-se com as polpudas vantagens do cargo. Aparentemente temos um País, cujos “interesses” estão combinados e harmonizados. Mas, todavia, essa não é a verdadeira tónica. A maioria do povo guineense está farta das guerras de poder e ganância da elite governante. Estamos aflitos e com medo pois só não sabemos quando vai arrebentar a indesejável nova crise, ou nova rebelião militar ou mais um impune assassinato. Estamos cansados de ver nossa juventude “perdida” sem um trabalho “decente”, abandonados à própria sorte, não valorizados nem aproveitados no seu conhecimento. O país esvazia-se dos seus quadros da sua mão de obra. Nossos recursos naturais são vilipendiados e entregues à sanha dos interesses internacionais. Árdua luta foi empreendida, vidas preciosas de guineenses tombaram para conquistarmos a Independência. Mas, hoje vivemos sob o jugo nefasto de estrangeiros traficantes de drogas, branqueadores de capitais, e depositários de lixo que se aproveitam das fragilidades que nós mesmos construímos. Resta-nos apenas a esperança de não abandonarmos nossa auto-estima, nosso orgulho de ser guineenses, nem esqueceremos os ensinamentos de nosso líder e mártir da Independência, Amílcar Cabral. Por isso queremos unir todos aqueles que perceberam que nossos interesses divergem dos interesses daqueles que estão no poder e amordaçam qualquer um que pense diferente. Nós queremos um Estado de Direito onde os órgãos de soberania sejam eleitos pelo nosso voto limpo, que impere a transparência dos actos governamentais, que atendam as necessidades de educação, saúde, trabalho e habitação por direito e não por favor. Temos de mobilizar consciências e pleitear a mudança. Isso é atitude e opção de cada um de nós. A mudança não é para excluir Cadogo, Malam, Indjai ou Bubo nem nenhum guineense. A mudança é que todos tenham direitos e responsabilidades iguais e ninguém esteja acima da Lei. A mudança é para que todos entendam que a dor ou revolta que possa sentir um governante ou seu familiar quando se sente injustiçado ou encarcerado ou eliminado, não é menor nas pessoas ou familias que eles vitimam. Não se pretende romper com países ou organizações internacionais mas que as relações sejam bilaterais e não de superioridade e ganho unilateral. Se aliado a isso considerarmos : - Uma Comunidade de Países em que os problemas económicos internos, os tornam menos propensos à cooperação financeira ou mesmo de acolhimento à imigração. - EUA e Europa, começam a sentir em seus orçamentos os altos custos de saúde e segurança pública para enfrentamento de viciados em drogas e, articulam-se para sufocar os lucros do tráfico de droga por instabilizarem economias e financiarem atos terroristas. - Que os grupos de traficantes ou lavagem de dinheiro ou de negociatas, periodicamente matam ou mandam matar os envolvidos “que conhecem demais sobre as operações”. - A continuidade da farsa de coexistência de entendimento entre a Primatura, a Presidência da República e as altas esferas Militares. - A total leninência da Assembléia Popular e do Procurador Geral da República. - Inexistência de organizados, articulados e eficientes partidos políticos ou entidades de sociedade civil quer no país quer na diáspora, que se oponham firmemente à presente situação e exijam um diálogo de concertação. Por tudo isso há que reconhecer que temos ingredientes por demais parecidos com os que nos levaram a caminhos indesejáveis. Não me cansarei de repetir que temos de aprender com a história. Sim, nós queremos. Sim, nós podemos. Seja a mudança que você quer ver no mundo. Ghandi
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