O DITADOR NO SEU LABIRINTO: PACTO OU PARÓDIA?
Alai Sidibé
Londres, 21 Março 2007
1. Até prova em contrário, estou muito reticente em relação ao novo Pacto que se quer viabilizar na Guiné-Bissau. Não se trata de pessimismo por natureza, ou de um simples bota-abaixo. A questão é que não me parecem reunidas as condições mínimas para efectivação de um acordo desta natureza.
Em primeiro lugar, quem vai representar o PAIGC? A ala ninista ou o PAIGC legítimo saído vencedor das eleições de 2004? Ao que se sabe, o general ditador tem um ódio de morte ao Carlos Gomes Júnior, e não o quer ver nem metamorfoseado. Em segundo lugar, como é que o general presidente pode explicar ao povo sofredor da Guiné o convite feito a um partido que expulsou do governo - que estava a fazer bem, ao contrário deste em vigor - e com quem agora subitamente quer fazer as pazes? Se o senhor Deus da Guiné-Bissau, o general Nino quisesse um processo transparente não seria melhor e mais sensato convidar o PAIGC legal a re-formar o seu Governo e retomar o destino da governação para o resto da legislatura que falta? São muitas interrogações sem resposta.
Em relação ao PRS, não creio que possa ser possível celebrar qualquer acordo civilizado com este partido. Em primeiro, pelo radicalismo típico desta formação partidária, que não tem nenhum projecto para o país; em segundo, pelas inconstâncias do turbilhão animista que é o Kumba Yalá, por outro lado, pela incapacidade dos quadros deste partido de forjar um projecto inovador que seja uma verdadeira alternativa ao PAIGC. Na minha humilde opinião, qualquer entendimento com o PRS é um projecto a prazo, um barco à deriva que pode naufragar a qualquer momento.
Isto dito, importará também frisar que o Pacto agora apresentado prevê o mesmo número de ministros para o PAIGC e para o PRS. Ora um insulto que revela o défice democrático que o Projecto comporta. Um acordo desta natureza devia espelhar o resultado das eleições de 2004, que deram uma maioria sem margem para dúvidas ao PARTIDO AFRICANO PARA A INDEPENDÊNCIA DA GUINÉ E DE CABO VERDE. Uma outra contradição que este Pacto contém é, para além do excesso de Ministérios, a atribuição da pasta das Finaças ao PRS de Kumba. Pelo passado muito recente da (des)governação deste partido, tal intenção seria (será) premiar a quem não tem a mínima experiência nem disciplina orçamental para assegurar um bom desempenho numa pasta tão sensível. Creio que qualquer figura que venha a ser indicada para a pasta das Finanças devia ser da confiança profissional e política do senhor primeiro-ministro que, não pode ser outro que não o Senhor Carlos Gomes Júnior.
O problema do poder militar – a concretizar-se o acordo - tornar-se-á importante. É preciso que, tal como o PRS, o militares tenham a vontade e disciplina de respeitar a nova conjuntura política, que se lhes incuta (embora isto será sem dúvida uma tarefa hercúlea) que se trata do futuro do país e não de interesses particulares. A prossecução deste objectivo passa por os militares abandonarem as ruas e se recolherem aos quartéis, que é o lugar indicado para desempenharem a sua importante tarefa.
Apesar deste meu desabafo, a minha previsão é de que este Pacto não vai vingar, por falta de vontade política e pela dificuldade crónica dos actores político respeitarem acordos na Guiné. Oxalá me engane.
2. Foi com enorme tristeza mas sem grande surpresa que li na secção “EDITORIAL” deste espaço, as ameaças dirigidas a um colaborador regular deste site, feitas por um tal senhor Paulo César Buscardini, a ponto de este se disponibilizar a encontrar com o seu interlocutor. Entristece-me a falta de cultura democrática demonstrada pelo senhor César que, em vez de usar argumentos civilizados, opta por proferir ameaças à integridade física de um conterrâneo. Como referi, não me espanta, no entanto, a iniciativa do senhor em causa. Estas jogadas são típicas de quem ao longo dos últimos 27 anos, tem estado ao serviço do senhor General. Só que o Paulo tem azar. Esqueceu-se de que não estamos na Guine, onde, infelizmente se aproveita da falta de iluminação eléctrica para ceifar vida a compatriotas. Na obra ‘A Condição Humana’, não a de André Malraux mas a de Hannah Arendt, esta deixa bem claro a distinção que se deve estabelecer entre a Esfera Privada (a propriedade) e a Esfera Pública (o comum), ou seja, o Social e o Privado. Não me vou alongar nisto, até porque o senhor Paulo César Buscardini com certeza não vai entender. Mas não se deve cair na tentação de expor a vida privada das pessoas como este senhor tentou fazer ao Senhor I. V. Ao tentar molestar outrem, tudo o que o senhor César, servidor de interesses ocultos faz é revelar a sua própria impreparação. Bom senso recomenda-se.
VAMOS CONTINUAR A TRABALHAR!
Projecto Guiné-Bissau: CONTRIBUTO