O país dos fantasmas
Sargento Natche *
13.07.2010 (texto escrito segundo novo acordo ortográfico. Lembro-me de que nos anos oitenta em Mansôa o Padre Mário Barrufaldi ( Professor ) dizia que as letras mudas nos textos da língua portuguesa era coisa primário). Tenho um colega da turma de especialização em Medicina Legal é português ariano (vulgo branco) mas nasceu na Guiné, hoje é uma pessoa realizada e é major de GNR, disse-me sempre que ele sofre com problemas da Guiné, eu mesmo vejo isso, tem 3 álbum de fotografias com recortes de notícias e umas dúzias de cassetes (VHS) com gravações da guerra de 7 de Junho; sempre que jantamos na minha casa ou dele é falar dos problemas da Guiné. Disse que a maior alegria dele é um dia ver a nossa terra – Nô terra! (como ele costuma falar e desenrasca no crioulo apesar de sair de lá com 13 anos de idade) em paz e progresso. Devido a sua responsabilidade não vou identifica-lo pelo seu nome, mas sim pela alcunha e sei que ele vai ler esse texto porque tem acesso o site. Olá “mente aberta”! – Um dia Guiné na kumpo i si fidjos na mama! Essa alcunha veio na sequência de uma aula prática em que eu estava a fazer uma autopsia e quando fiz a disseção do crânio (abrir a cabeça), a professora colocou-me uma questão e como foi a primeira vez na minha vida nunca tinha dissecado um cadáver e quanto mais abrir a cabeça do mesmo, estava apavorado e a transpirar em pleno mês de Janeiro, depois de responder e ele em jeito de brincadeira porque estava habituado a isso devido a sua profissão, é militar e major de GNR e esteve em vários missões da NATO e ONU; disse assim: “ Isso é que uma mente aberta”, foi uma gargalhada generalizada e o nome ficou. Vejam só esse senhor a sofrer por causa da Guine, porque continuamos a cultivar a confusão em nós abrindo espaço para todo o género de compromisso mesmo os mais duvidosos, falsas espertezas e tolerância corrupta ou complacência, dos que querem dividir para reinar. Ka nó djubi pá côr i nim pá raça pabia anos i kil um son nó bim di Deus papé! Alias só em Bissau é que existe esta situação, porque no interior do país as coisas continuam na mesma, casamentos mistos e uma convivência mista, etc. LUTEM PARA ACABAR COM CASAMENTO DE MENORES E FORÇADA!
Agora vamos o que interessa Esta sempre pairado sobre nós uma assombração dos que acham que podem e devem decidir as nossas vidas, quando e como querem, não num plano estratégico de desenvolvimento mas de se uma pessoa pode viver ou não, parece que são donos e criadores da vida substituído o nosso Pai celestial A expressão de desalento e de mesquinha do Presidente da Republica o Senhor Professor dr Malam Bacai Sanhá ( uma coisa é querer, outra coisa é poder ), ele sabe do que fala, mal dele se não soubesse ou conhecesse o “ inimigo “ de estimação depois de convivência de tantos anos como antigo combatente – a bandeira do abuso para justificar o injustificável , isso diz tudo apesar destes dias na reunião com conselho superior das forças armadas, tentando mostrar a virilidade ( matchondade ) ainda continuou aprisionado no impasse que a situação lhe impunha, mesmo sofrendo, pois a herança não foi quebrada induzido na obediência cega que não desaparece porque não houve um ritual de corte, uma rotura forte e coletiva com o passado recente. Vivemos ainda esse trauma para alem do inconsciente de certas raízes arcaicas que nos assombra. O povo aceitou a democracia e gostaram porque o desejou com mesmo a vontade que desejou a liberdade o que fez dela uma suprema aprendizagem da prática da cidadania. O caso de agressão aos polícias pelo filho ou familiares do chefe de estado Maior António Indjai, não é novo e nem constitui uma surpresa, já tinha acontecido com filho de general Tagme Na Waie é um contágio, porque outros fizeram e nós também vamos fazer. Isso vem de há muito tempo para cá e acompanhado de impunidade. O velho ditado que diz “filho de peixe é peixe”, é verdade se não... Não seria o seu filho ou o seu pai. Atenção não estou a defender ninguém, é que há uma confusão quando alguém tem um familiar num cargo de responsabilidade sente-se poderoso , as pessoas tem essa tendência e isso tem que acabar! O comportamento é deplorável e intolerante. Mas há situação em que esta parábola não entra, quando se trata do caso da responsabilidade de cada um, como a genética diz e bem claro: não há dois indivíduos iguais ou com mesma sequencia de DNA (mesmo os pais ou irmãos, embora haja padrão para identificar a paternidade/maternidade ou laços parentescos – VNTR, STR’s ), ao longo da vida da célula podem ocorrer erros no DNA juntamente com acontecimentos aleatórias na formação de gâmetas, nomeadamente na mutação, na replicação ( crossing-over) e próprio na fertilização. O filho do Presidente não é presidente e nem tão pouco de um general é general. Os filhos não têm culpa de serem filhos de quem é; ou os pais não têm culpa de terem o filho que têm, no que diz respeito ao carater e responsabilidade de cada um. Essas são as duplicidades que cultivamos em nós na nossa relação quotidiana e mesmo com o poder. Mas sobretudo o governo que é refém das forças armadas e não ultrapassara a linha vermelha, cedendo sempre as conveniências destes e dançando conforme a música deles, ao contrário nem pensar, e é assim é que devia ser. Não tem coragem do pôr um ponto final nesta situação, reinado a cultura de violência e da impunidade. E as coisas vão acontecendo e o povo vai resmungando, protestando de ouvido em ouvido (porque não um grito de alerta!), deixando invadir cada vez com o medo que se subentende nas palavras do Senhor Presidente da Republica, medo contagiante que estende ao poder e ao Estado. Nunca na nossa história no passado e recente precisamos da liberdade, não do jugo colonial ou de uma ocupação estrangeiras, como agora, mas dos nossos próprios irmãos/concidadãos que usam uniformes de militar para se sentirem como homem – senhores poderosos anarquistas e narcóticos. Precisamos de espírito livre para que possamos enquanto cidadão comuns situarmos face a situação do país ou o sistema partidário para escolhermos e agir a bem do interesse comum (país); a conjuntura nacional esta cheio de medo, a impotência parece que todo o cerco esta fechado hermeticamente sem possibilidade de ação (abolição). Os Partidos políticos da oposição parece que movimentam em circulo fechado a espera da oportunidade pontuais para se devagar; falem, apresentem propostas alternativas, soluções para os problemas da Guiné, mais vale tarde de que nunca (não as intrigas). São tantos candidatos a Primeiro-ministro, muitos partidos e muito mais ainda para Presidência da Republica, muitas cabeças para pensar a Guiné, onde é que estão? Apresentem ideias ou seja linhas mestras do vosso programa eleitoral, façam debates públicos, se não correm risco de serem chamados oportunistas ou como o malogrado Presidente Nino Viera (falecido, que Deus dá a sua alma a paz) chamou-os de políticos infantis, a espera da campanha eleitoral em que vão digladiando com promessas, cada um luta para o seu “tacho” (a sua barriga) esses cargos não são da santa casa da misericórdia ou um centro de emprego; é serviço para o bem de todos. Este ultimo (a prestação de serviço) os nossos políticos sempre o esquecem, é como um cristão que reza o Pai Nosso... e só pensa na Venha o Nosso e o Vosso Reino.....nada! E fazem da politica uma profissão nada tenho contra isso, alguns são simplesmente “abutres” e os cursos superiores tiradas nas prestigiadas universidades Europeias são renegados para o segundo ou terceiro plano. Porque é que os Senhores doutores não fazem algo ligado a vossa área de formação académica? É uma forma também de participar no processo de desenvolvimento. Em vez de estarem a puxar a “tapete” nos pés de um e de outro. Fui passar férias na Guiné e falei com um dos doutores e no fim da conversa e ele disse-me assim – bu bim paga fugon di djinti, é rivalidade ou medo? Até preferia uma competição saudável em que cada um mostra o que sabe e não ter vergonha de perguntar ao colega quando desconhece um assunto, porque ninguém sabe tudo, não menosprezar as pessoas mesmo os que não tem cursos superiores, pode ter algo importante a dizer. O meu pai dizia que : não se fazia a fogueira só com os trocos grandes, as acendalhas e migalhas são precisas. Fiquei doente só de ouvir aquela frase, porque é que não podemos cooperar e unir o esforço para trabalharmos na nossa terra, a Guiné precisa de todos os seus filhos e de amigos que querem ajudar. Os nossos doutores, os políticos principalmente nunca estão em sintonia e não se entendem, toda gente quer ser chefe – miste manda, miste couro, mas pá dobra manga de camisa pá pega teso i pá calura quila i ca ku elis ), bons carros, gabinetes com ar condicionado, amantes dois ou três, quanto mais é melhor, esse é a vida dos ilustres doutores engenheiros e as figuras públicas da nossa terra. Os políticos apresentem as respostas a esta pergunta. Como fazer com o medo que se instalou na nossa terra? Não com falsos apelos ou discursos políticos falaciosos! O nosso povo é otimista, mas esta descrédito o que é fator importante para o futuro. Os Deputados que são cegos, surdos e sobretudo mudos, vão desculpar a minha ignorância, mas nunca ouvi falar de um projeto lei que foi reprovado na Assembleia Nacional Popular, será que são todos bons (génios)? Ou é tudo só sim Senhor? Eles não atam e nem desatam ou porque quem o apresentou é o senhor doutor /engenheiro fulano e tal... senhor respeitado, os formados também erram, ninguém é perfeito, porque a perfeição não existe ou se existe esta do lado errado, ate Deus não fez homem perfeito, podemos respeitar mas temos o direito ao contraditório de uma forma construtiva e daí pode nascer uma solução equitativa: agora fazer o” serão” no parlamento ou ser marioneta. .. Ah, ah isso não! É melhor pagar no arado ou enxada para ir lavrar a terra, (em bom sentido do termo) talvez seria o melhor contributo para o país. É um parlamento virtual porque não discute o problema que assolam o país, não fazem recomendações, não produz nenhum documento ou fiscaliza atividade do governo, as suas decisões (se faz essas coisas todas que o divulguem), isso induz ainda em nós um reflexo de passividade e cega aceitação de algumas medidas governativas injustas. Eu estou de açodo com ideia dos que dizem que o país precisa de ser administrado pela Nações Unidas pelo menos durante uma década (são dois mandatos), incluído no governo alguns guineenses capazes e sobretudo honestos, porque com este andar das coisas nunca mais chegamos a um bom porto e os governantes já demonstraram que não são capazes e nem de colocar iluminação nas ruas, casas, água potável, hospitais em condições, escolas com qualidade, estradas e ate mesmo pagar salário regular de uma forma continua. Não é vergonha, já aconteceu nos outros países.
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