O PÃO, A RAZÃO OU A FOME DE MUDANÇA
Gustavo Gomes gustavo.gomes69@gmail.com 05.03.2011 Um sapo atirado para dentro de uma panela com água a ferver, instantaneamente saltará para fora da panela. No entanto, se deixado dentro da panela com água fria sob um lume brando, ali permanecerá tranquilo, até cozinhar, pois não reage e não percebe a temperatura a aumentar e aumentar paulatinamente. Um pouco do que acontece com os ditadores que ficam no poder por longo período. A prepotência e a arrogância não lhes permite perceberem as mudanças ao redor. Assim já aconteceu com o salazarismo, o hitlerismo e a inúmeros ditadores da Europa, Ásia, África e América Latina. Uma letargia que não lhes permite perceber que podem ser derrubados muitas das vezes em idêntico modelo de golpe que aplicaram para assumir o poder. Assistimos agora a uma turbulência de conflitos no Norte e Oeste da África e no Médio Oriente. Mediaticamente são revoltas contra tiranias governamentais de décadas e desejo de mudança para a democracia em países, cuja maioria sequer tem idéia do que seja Facebook. Por detrás dessa onda (tsunami) de agitações populares, em alguns casos (Líbia por exemplo) estão escancaradamente as costumeiras forças (ou melhor dizendo potências) ocultas, mas ambiciosas pelo controle do petróleo e metais raros. Claro que em todos os movimentos há a razão. Mas igualmente a inesperada e descontrolada ajuda do pão. Ou melhor, da falta dele. Explico melhor. Os estoques mundiais de alimentos, dominados por poucas empresas americanas e suíças, tiveram repentinamente os preços substancialmente aumentados e, tal como em 2007 tudo muito bem explicado pelos (comprados) analistas de mercado, que, obviamente omitem informações sobre os vergonhosos subsídios ou que as modernas tecnologias aplicadas na agropecuária, têm permitido muito mais safras com menos insumo de água e de espaço territorial. Por conseguinte a actual crise alimentar não passa de especulação a revoltar milhões mundo afora, que sentem dificuldade de sobreviver com a súbita carestia alimentar. São os mesmos especuladores de moradia, de alimentos e do petróleo que estão a refastelar-se porque depois, os coniventes governos irão em socorro dos perdedores finais, desde que sejam bancos, seguradoras, fábricas, etc. De perguntar-se, e a Guiné-Bissau? Coincidentemente, também temos o cobiçado petróleo e minerais raros. E, inevitavelmente os alimentos também estão a chegar à Guiné, a preços elevados e incrementados pelo aumento dos combustíveis. Como o povo irá reagir? Irá manifestar-se contra as três décadas de ditadura neocolonial promovido pela farsante dupla PAIGC / FARP? Como o estômago dos famintos guineenses os impulsionará a buscar mudanças? Li em recente artigo que a Comunidade Europeia e o governo americano (vulgo os mandantes na ONU e quejandas) não agiam mais firmemente contra o descalabro que se transformou o governo guineense por temerem que, acusados, pudessem vir a atrelar-se à dependência de Khadafi da Líbia. E agora? Será que o recente relatório da ONU, a elogiar a actual (mesma) governação é estratégico? Deixar o sapo a pensar que está tudo bem enquanto o lume brando (600 angolanos?) está a aquecer a água? Não tenhamos dúvidas. Quem controla o tabuleiro não tem a menor cerimónia de queimar as peças que antes reconheceram como provenientes de eleições limpas e promotoras de desenvolvimento (ou seria negociatas?). Quando as peças não mais interessam, alardeiam todas as mazelas que os sofridos povos já conheciam. Quer se queira quer não, as mudanças políticas ocorrem, quase sempre orquestradas pela elite burguesa (aquela que hoje tem acesso ao Twitter, Internet, Facebook, msn e que, de repente, também se sente prejudicada ante a implacável fúria dos especuladores e dos tiranos. Só que a simples mudança de uma elite por outra pode ou não trazer melhorias e paz ao geral da população. Basta lembrar, dentre outros, o movimento reajustador de 1980 ou os quase dois anos de conflito político militar. Supunha-se que fossem precursores de melhorias e paz para o povo, mas foram e têm sido, precisamente o contrário. O mundo está em mudança. O poder dos países quebrantou-se pela falta de líderes estadistas a nível mundial, substituídos por personagens meticulosamente criados por agências de publicidade (Berlusconi, Sarkozy etc.) que se submetem ao poder emergente difuso e confuso das transnacionais. A humanidade bem ou mal apetrechada de satisfatória democracia e serviços básicos, imprescindivelmente necessita de alimentos, água e energia. Caracteristicamente para ser potência (país ou multinacional) há que ter domínio ou posse sobre estes e outros recursos naturais e sobre as pessoas enquanto mercados. Mesmo que necessário sustentar posições imperialistas, ou apoiar neocolonialismos e ditaduras. Assim tem sido ao longo da história. A China, pragmática ditadura de economia de estado vem galgando posições de liderança na Economia Mundial, o que pressupõe necessidade de controlar fontes de suprimento de energia, matérias primas principalmente os minerais nobres (neobio, litium etc.) essenciais no fabrico dos novos objetos de consumo como computadores, telemóveis, televisores e carros elétricos. A China quer estabelecer domínio na área alimentar e por isso investe pesado adquirindo terras mundo afora para projetos agropecuários, de preferência em países férteis, de água abundante, fartos recursos naturais e vastas populações que precisam virar mercado. Aplica uma política diplomática de cooperação e realização desinteressada aproveitando os erros de estratégia e o declínio das antigas potencias e multinacionais coloniais. Para estes novos cenários precisaríamos de ter na Guiné-Bissau, governantes que soubessem perceber os novos tempos e instantaneamente reagir e liderar as mudanças internas necessárias. Que fossem habilidosos no diálogo de concertação, perspicazes em convencer sobre novos conceitos quando necessário. Mas, infelizmente preferem repetidamente acomodar-se ao nepotismo, clientelismo e despotismo de ambição desmedida pelo poder, crentes, que são eternas as suas ditaduras atadas à corrupção e às negociatas. Como disse Einstein “insanidade é repetir-se o mesmo experimento e esperar-se resultado diferente”. Veja-se a combalida e obscura Europa medieval que tirou bom proveito da invenção da imprensa para imprimir livros, disseminar conhecimento que culminou nos empreendimentos marítimos que a tiraram do ostracismo, malgrado as infelizes políticas de escravidão e imperialismo. Ou os Estados Unidos que na década de 60 estavam atrás da então União Soviética na corrida espacial. O presidente Kennedy, conclamou o povo a unir-se em torno do projeto de em dez anos colocarem um homem na lua. O presidente Lula no Brasil demonstrou na prática, que distribuir renda aos mais necessitados não apenas significa tirá-los da pobreza, mas trazê-los para o mercado de consumo e do trabalho que gera lucros também para as elites. A Itália dos anos 50 e 60 vivia no marasmo de constantes greves nacionais. Um líder empresarial teve a coragem de dizer a seus pares que eles pensavam pequeno, por temerem que seus operários ao ganhar mais, pudessem ostentar os padrões de consumo dos empresários. Exortou-os a vislumbrar que, quando isso ocorresse eles os empresários estariam também mais à frente e mais no alto. Assim, temos hoje a economia Italiana a ocupar o G-8 e suas então pequenas e locais empresas estão por todos os cantos do mundo. Como se lê, estou realçando unicamente a capacidade, possibilidade e necessidade de fazer-se diferente e de mudar-se, sem maiores análises às consequências. Porque não uma Guiné diferente? Em que as modernas tecnologias nos ajudassem a superar o atraso intelectual, que fossemos conclamados à democracia e à paz dando um basta aos assassinatos e o fim à grassante impunidade. Que a mais valia de todos a remar na maré da igualdade trouxesse melhores condições de aproveitamento e distribuição das riquezas. Porque não? Nha mantenhas
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