O REGRESSO DE JOSÉ AMÉRICO BUBO NA TCHUTO
“ um dia nô tera na sedu orgulho de si fidjus, tarda ou sedu caminho di Amílcar nô na sigui...” (Dulce Neves cantora guineense)
Alberto Oliveira Lopes *
02.02.2010
O regresso de José Américo Bubo Na Tchuto constitui uma grande preocupação para o chefe do governo guineense Carlos Gomes Junior “CADOGO”; é de lembrar que Bubo foi mantido preso no seu domicilio, a mando do então Chefe do Estado-Maior das Forças Armadas general Tagmé Na waié alegando uma tentativa de golpe de estado, e conseguiu em Agosto de 2008 escapar ao regime de residência vigiada, fugindo para a vizinha Republica da Gâmbia sob condição de asilado político.
Um ano e quatro meses depois Bubo regressa à Guiné-Bissau. Insatisfeito com o regresso inesperado, o Senhor primeiro ministro Carlos Gomes júnior luta a todo custo para ser dono da Guiné-Bissau 〝pressiona〞 a Organização das Nações Unidas (ONU) através do seu gabinete UNOGBIS, a entregar o Bubo. Pois, é preciso que façamos uma análise profunda sobre a preocupação do governo e do Estado-Maior sobre o regresso de Bubo. Porque o comportamento do Sr. Primeiro-ministro é idêntico ao que tinha aquando do regresso de Nino Vieira em 2005. Pergunto como foi o desfecho do regresso de Nino?
Se Bubo foi simplesmente alvo de acusação por parte do ex-Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas ( Tagmé Na Waié) de estar a mobilizar unidades militares para desencadear um golpe de estado. Fato que até hoje a justiça não conseguiu apresentar provas materiais e muito menos, a existência de acusação formal contra o suposto autor do atentado contra a ordem democrática. Pois onde se enquadra a lógica de se preocupar com o regresso de Bubo e não com as investigações de quem matou ou mandou matar o presidente Nino Vieira e o general Tagmé Na Waié?
A verdade é que os supostos mentores do assassinato dessas figuras estão hoje bem servidos e andam com viaturas de luxo na cidade de Bissau. Não se convoca nenhuma reunião de emergência do conselho de ministros, nem há nenhuma preocupação do primeiro-ministro por causa dessas pessoas.
Com que então o Cadogo também se preocupa?
Quando Hélder e Baciro foram assassinados de forma indevida onde se encontrava o senhor primeiro-ministro?
Como conseguiu o senhor primeiro-ministro conter a sua preocupação com a instabilidade quando Tagmé Na Waié e Nino foram assassinados de forma brutal? Ou era porque o vento estava soprando a seu favor?
Onde estava o Cadogo quando o deputado Conduto de Pina e mais outros foram alvo de perseguições, sem falar da tortura ao ex- primeiro ministro Francisco José Fadul na sua residência dias depois de ter acusado o senhor primeiro-ministro de saber da morte de Tagmé e Nino?
Todos esses acontecimentos não constituem ameaça à estabilidade e paz na Guiné-Bissau?
Hoje o senhor Carlos Gomes júnior quer que o Bubo seja entregue às autoridades. Por que não solicitou antes a sua extradição quando se encontrava em terras Gambianas? São muitas as indagações a fazer sobre preocupação de Cadogo em relação ao regresso de Bubo.
Se Bubo cometeu algum crime ou se existe algum processo contra ele, cabe ao Procurador-Geral da República ou outra entidade competente averiguar a veracidade, mediante uma justa investigação.
Creio que o regresso de Bubo não constitui ameaça à estabilidade na Guiné-Bissau, talvez seja, isso sim, um incómodo ao trio: Cadogo, Zamora Induta e António N´djai.
Bubo é guineense como qualquer outro e deve gozar do direito de sair e entrar no país uma vez que não viole as leis nacionais, e a sua integridade física tem que ser garantida pelo governo. Não sou defensor do regresso de Bubo, mas sim defensor da justiça e da legalidade como garante da Constituição e do Código Civil.
Uma suposta entrega de Bubo às autoridades guineenses, de livre e espontânea vontade, deve merecer muita atenção de todos os guineense e em especial de Joseph Mutaboba (da Organização das Nações Unidas na Guiné-Bissau) dada a situação de abuso de poder das autoridades guineenses.
Espero que 2010 seja um ano de lavagem de consciência dos nossos governantes e que, as prisões arbitrárias dêem lugar a investigações e justiça sem discriminação da classe social ou preferência política.
Que seja um ano em que todos os guineenses sintam orgulho em ser guineense e de viver na Guiné-Bissau, e que um dia os ideais de Amílcar Lopes Cabral sejam concretizados por aqueles que sempre acreditaram e continuam a acreditar que os guineenses têm potencial para rerguer uma Guiné melhor e de todos, não um Guiné de senhores donos de todos os poderes.
*Estudante do 4º ano de enfermagem - Brasil
VAMOS CONTINUAR A TRABALHAR!
Projecto Guiné-Bissau: CONTRIBUTO