OS ATRAVESSADORES, GRANDE PERIGO DOS AGRICULTORES!

 

Bacar Queta *

quetaqueta2@yahoo.com.br

11.01.2010

Bacar QuetaEm todos os negócios há duas partes principiais, comprador e vendedor, que são, pela lógica, os principais beneficiários do negócio, constituindo a fórmula natural de negócio ou de comércio. Não obstante esta fórmula natural de fazer negócio, admite-se uma terceira parte que actua como facilitadora do processo, que beneficia e/ou ganha pelo seu papel no negócio, mas que não deveria ganhar mais do que as principias partes. Se ganhar mais, admite-se que roubou.

Actualmente uma das grandes preocupações dos programas internacionais dos direitos humanos é a forma abusiva de exploração, distanciamento entre a riqueza e pobreza, a desigualdade social, a violação dos direitos fundamentais de Homem. Estes e outros aspectos constituem a causa da infelicidade no mundo. Como podemos ver 10% da população controla  90% dos recursos mundiais, enquanto que os restantes 90% compartilham 10%  do mesmo recurso, isso leva-nos a concluir que o seu combate deve ser uma preocupação de todos os cidadãos, independentemente do continente, país e raça.

A campanha da castanha de cajú tem sido ao longo de muitos anos, actividade que os nossos pobres agricultores consideram a mais lucrativa, por isso, concentram todas as suas energias na campanha, visando o melhor desempenho, que lhes possa proporcionar lucros e, por conseguinte, garantia de segurança económica. Mas, aos olhos da Associação Nacional dos Agricultores Guineenses (ANAG), os Atravessadores (intermediários entre agricultores e empresários estrangeiros) roubam impiedosamente os lucros dos pobres agricultores, situação  que faz aos agricultores lastimarem, em cada campanha, do saldo negativo por tretas dos famosos Atravessadores.

É claro a todos nós que actividade agrícola, de modelo tradicional, requer  um grande sacrifício, desde a plantação até à produção e assistência periódica das hortas. Custa, sem dúvida, muita energia aos nossos  agricultores que infelizmente, não conseguem recuperá-la no final  da campanha, tendo como resultado saldo negativo pela simples razão de não haver uma política honesta a favor dos agricultores, e do sistema dos intermediários – atravessadores - que ambicionam ter mais lucros do que os próprios agricultores, donos do produto. Este comportamento perigoso, que se transformou num sistema bastante complicado, é uma das grandes razões do empobrecimento dos agricultores.. A missão da ANAG, instituição legítima de proteção e promoção dos direitos dos agricultores, não deveria, contudo, limitar-se só à criação de conexões desejáveis entre os produtores e compradores, mas também, de informar e formar os seus associados – agricultores – em como gerir os seus negócios para que lhes sejam mais produtivos.

Hoje, muitos atravessadores transformam-se em grandes empresários, continuando a liderar o sistema de empobrecimento dos agricultores de maneira subtil. Logicamente não há como enquadrar este procedimento de enriquecimento dos Atravessadores. Mas, que tipo de fórmula financeira  é utilizada nestas negociações que depois de todo o trabalho leva à falência uma das partes importantes do negócio? Como é justificado o enriquecimento súbito de muitos Atravessadores? Que tipo de ANAG é que temos? Não sei se é Associação Nacional dos Atravessadores Guineenses ou se é Associação Nacional dos Agricultores Guineenses.

Entretanto, é hora da ANAG aprimorar as políticas e enveredar seriamente pela protecção dos seus associados contra os empresários pulantes e aprimorar de maneira eficiente a capacidade de gestão dos seus associados. Isso deve ser sério e constituir a primeira prioridade da ANAG para garantir a estabilidade social e desarmar o sistema explorador que já transformou muitos Atravessadores em grandes empresários, donos da Praça de Bissau – “matchu”.

 

* Guineense, Presidente do FACOLSIDA,  Intercâmbista do Programa de Direitos Humanos da Conectas em São Paulo, Brasil

 


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