PAIGC diz “SIM” ao pedido da Sociedade

 no seu VII Congresso

(Ponto de Vista)

 

Por: Rui Jorge  da Conceição Gomes Semedo *

rjogos18@yahoo.com.br

Rui Jorge Semedo

28.07.2008

PAIGC diz “SIM” ao pedido da Sociedade

 no seu VII Congresso

(Ponto de Vista)

Dê a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus.

“Jesus Cristo”

 

Com a excepção do I Congresso realizado de 13 a 17 de Fevereiro de 1964 em Cassacá, que inquestionavelmente definiu rumos políticos e militares do PAIGC à conquista da independência da Guiné e Cabo-Verde, o VII Congresso realizado recentemente em Gabú de 26 de Junho a 03 de Julho demonstrou não só a força da dimensão política deste histórico partido a nível nacional, como também deu indícios ao restabelecimento de diálogo entre esta legenda e a sociedade, como nos velhos tempos de partido único. Digo isso porque nas vésperas e durante o congresso era muito fácil escutar pessoas a condicionarem abertamente suas participações no escrutínio de 16 de Novembro próximo à participação do candidato Carlos Domingos Gomes Júnior (Cadogo Júnior), como representante do partido ao cargo de primeiro-ministro. Os apelos foram rigorosamente confirmados pelos delegados que decidiram com 578 votos (cerca de 51,42%) reconduzir o candidato Cadogo Júnior ao cargo do presidente do partido, contra 355 (31%) de Malam, 95 (8,45%) de Dafá Cabi, 61 (5,44%) de Cipriano Cassama, 30 (2,66%) de Baciro Djá e apenas 5 (0,44%) de Policarpo Cabral D’Almada.

Como em qualquer disputa política, o uso do poder económico também se fez sentir nesta corrida, mas, apesar de necessário, este recurso não foi suficiente para determinar o resultado do VII Congresso. No entanto, outros requisitos como a popularidade junto ao eleitorado e o desempenho interno de cada candidato foram importantes na definição do resultado. É obvio que o candidato vencedor, Cadogo Júnior, além de político é no momento o empresário mais bem sucedido do país, mas a sua vitória além de natural contacto com as bases do partido, se construiu por um lado, pela sua passagem positiva no Executivo, onde como primeiro-ministro demonstrou a elevada capacidade administrativa, outrossim, foi o investimento de recursos próprios que ajudou a máquina partidária a manter seus compromissos funcionais.  

Por seu torno, o candidato Malam Bacai Sanhá, que apesar de ter construído um grande percurso no partido, não foi suficiente para ganhar a confiança dos delegados neste congresso. Na visão de alguns observadores e analistas políticos, o candidato Bacai Sanhá cometeu dois erros que não só determinou a sua derrota, como também porá em causa a sua pretensão de disputar internamente o cargo do candidato do partido na próxima presidencial. Primeiro, na qualidade do possível “candidato natural” do partido ao referido cargo, era impertinente sua participação ao cargo do presidente do partido. No momento, apenas podemos afirmar que além da derrota que é natural nos jogos políticos, Bacai Sanhá fragilizou internamente sua base de apoio, o que significa que o custo desta aventura deverá ser maior do que benefício. Segundo, a aprovação do estatuto que afirma que o presidente do partido é o ocupante natural ao cargo do primeiro-ministro em caso da vitória eleitoral na legislativa era mais um outro sinal para a retirada da candidatura. Ou optar por um “plano B”, que seria lançar um de seus apoiantes à corrida, já que a sua pretensão estatutariamente era incompatível e o colocava em descrédito perante os delegados que tinham consciência dos riscos.

Já o candidato Martinho Dafá Cabi procurou entrar na disputa mais por questões do “ego” para mostrar a sua força política e opor as contradições que manteve com a cúpula do partido, no caso específico, com o presidente Cadogo Júnior. Apesar do cargo de primeiro-ministro que actualmente ocupa, Dafá Cabi diferentemente dos dois primeiros, não reúne consenso necessário, tanto interno quanto externo ao partido para ser um candidato de peso ao ponto de vencer a disputa.

Por outro lado, o candidato Cipriano Cassama, virtualmente tido nos bastidores como candidato do presidente da República, Nino Vieira, não teve o apoio necessário como se esperava. Visivelmente, é o candidato que mais gastou com materiais de campanha: doou aos militantes do partido cerca de 40 motos, além disso, distribuiu materiais de melhores qualidades, como camisolas, bonés e outros acessórios. É verdade que a doação de materiais pode fazer diferença numa disputa eleitoral, mas não é bom esquecer que antes é preciso saber chegar perto, construir bases de apoio, apresentar propostas credíveis e não subestimar os adversários, isso faltou um pouco ao candidato Cipriano Cassama.  

O facto marcante neste VII Congresso é o surgimento de dois jovens candidatos ao mais alto cargo do partido, respectivamente, Baciro Djá e Germano Policarpo. Dois jovens que ousaram desafiar o mito dos Antigos Combatentes e participar da disputa. Aliás, tornou-se hipocrisia o uso do termo “Antigo Combatente” nos discursos de nossos oportunistas políticos, tanto dentro do PAIGC, quanto por parte de outras formações políticas, ou mesmo pelas forças armadas. A Guiné-Bissau não pode ficar presa à sua própria história e, muito menos, ao percurso que um grupo de homens ou um homem construiu. Devemos respeitá-los, mas não podemos santificar a participação de quem quer que seja num determinado momento histórico da formação do nosso Estado. De um modo geral, desde ontem até hoje podemos afirmar que o nosso país está sendo dirigido pela elite dos Antigos Combatentes, e que se tiramos sua participação na luta de libertação nacional, vamos observar que não tem feito nada, absolutamente nada, para o bem-estar desta sociedade, ou mesmo de próprios Antigos Combatentes. O aparecimento de jovens candidatos nesta disputa, na minha visão, não visava vencer a corrida, mas virar a página da obsoleta tradição do partido e do país para dizer que precisamos começar a dar oportunidades a um outro tipo de Combatentes, os de Desenvolvimento da Pátria. E para essa fileira não só o PAIGC, mas a Guiné-Bissau precisa recrutar patriotas responsáveis, capazes, democráticos, honestos e comprometidos com a causa nacional. Digo causa nacional, a necessidade urgentíssima de normalização do fornecimento da energia eléctrica em todo território nacional, de melhorias de condições nos hospitais, de investimento sério na educação, de criação de postos de empregos e de criação de uma forte consciência nacional.

Agora, com a definição de quem será o candidato do partido ao cargo do primeiro-ministro em caso de vitória na próxima legislativa, resta definir o nome de quem será o seu candidato ao cargo do presidente da República. Será que indicará novamente Bacai Sanhá? Um outro militante? Ou apoiará um independente a esta corrida? Aliás, apesar de um forte vínculo que o partido hoje tem com a sociedade guineense, não existe menores dúvidas de que no momento a legenda carece de líderes carismáticos a sua altura. O PAIGC precisa encontrar um candidato de consenso nacional como é hoje a figura de Cadogo Júnior para primeiro-ministro. Para evitar desgaste político, na minha opinião, Bacai Sanhá por questões estratégicas não deve concorrer, mas deve procurar uma vaga como deputado da nação, esperar o momento oportuno para concorrer ao mais alto cargo da nação. No momento, e dado a sua inegável experiência política, a Assembleia Nacional Popular (ANP) pode ser um lugar adequado tanto para reorganizar as pretensões quanto para contribuir no enriquecimento do debate político naquela casa Magna.

Voltando ao assunto principal desta reflexão, acredito que o candidato vencedor não ganhou apenas por proposta apresentada ou porque soube explorar a base, mas porque construiu a “relação de fidelidade e de credibilidade” com grande parte da sociedade durante os poucos meses que passou como chefe do Executivo.

*Mestrando em Ciência Política na Universidade Federal de São Carlos, SP, Brasil


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