PROTAGONISTAS E PROTAGONISMOS DA SEMANA
VAMOS CONTINUAR A TRABALHAR! |
Por: Fernando Casimiro (Didinho)
22.07.2007
SOLIDARIEDADE PARA COM MÁRIO SÁ GOMES E FAMÍLIA
Começo por reconhecer que esta foi uma semana bastante agitada na Guiné-Bissau, com protagonismos para todos os gostos!
Calei-me por estes dias, lendo, ouvindo e analisando discursos e comentários sobre questões pertinentes da nossa terra.
Antes de entrar concretamente na análise geral dedicada aos protagonistas e protagonismos da semana, quero expressar toda a minha solidariedade ao activista Mário Sá Gomes (com paradeiro incerto devido a ameaças de morte) e sua família, bem como elogiar e encorajar a Sociedade Civil guineense que tem demonstrado estar firme na luta pela defesa e afirmação dos ideais humanitários na Guiné-Bissau.
A PROPÓSITO DAS ELEIÇÕES LEGISLATIVAS E PRESIDENCIAIS
A semana foi profícua na medida em que, permitiu tomar notas de alguns desabafos do general-presidente, que, vendo o cerco apertar-se relativamente à questão do dia-a-dia na Guiné-Bissau (o narcotráfico), resolveu desviar atenções sobre o assunto, provocando uma certa agitação política no país, logo ele, que diz querer a Paz e a reconciliação nacional!
Há uns meses atrás, o general-presidente disse que não viajava para o interior do país porque era dispendioso para o Estado, questionei na altura, se as suas deslocações ao estrangeiro, quase quinzenais, não seriam mais dispendiosas do que visitar o interior do país e tomar contacto com a realidade do nosso povo. Com esta presidência aberta ao interior do país, é caso para perguntar:
- O país recebeu mais verbas para custear a deslocação não só do staff presidencial, mas também do Governo com o Primeiro-Ministro e alguns ministros na comitiva?
- Ou será que o general-presidente chegou à conclusão de que os argumentos apresentados na altura eram incoerentes para um raciocínio que se quer de um Chefe de Estado?
O Sr. general sugeriu num dos seus discursos por estes dias, que as eleições legislativas previstas para 2008 fossem adiadas para 2009, bem como, que fossem antecipadas as eleições presidenciais de 2010 para 2009, isto é, realizar-se-iam ambos os actos eleitorais simultaneamente em 2009.
Como argumento para justificar esta sua nobre sugestão, o general-presidente disse que o país poupava muito dinheiro realizando as duas eleições em simultâneo e, por outro lado, acha que se deve dar a oportunidade ao governo em funções, de cumprir na íntegra o seu programa de governação.
Ora nem um, nem outro argumento se encaixam na realidade dos factos, o que demonstra, uma vez mais, falta de visão de Nino Vieira.
A Guiné-Bissau nunca foi capaz de custear as eleições realizadas no país, por isso, é escusado falar-se em poupar dinheiro que não temos!
Quem hoje fala em poupar dinheiro, apontando como exemplo do acto de poupança, a alteração das datas da realização de eleições, é, certamente, alguém que ignora e desrespeita a Constituição da República!
Das crises governativas criadas pelo Sr. general, a primeira, 27 dias após a sua tomada de posse como presidente de cinquenta e tal porcento de guineenses votantes (será verdade?), teve consequências gravosas e desastrosas para o país, quer a nível da nossa economia, quer a nível da captação de financiamento externo, para além de todo o desgaste social que não tem preço! O Sr. general já se esqueceu disso? Na altura não pensou no erro que estava a cometer e que seria prejudicial ao país? Ou na altura o Sr. general não sabia fazer contas?
Disse que devia dar-se oportunidade ao governo saído do acordo Tripartido para que o mesmo governo pudesse cumprir na íntegra o seu programa de governação. Pergunto: Que programa de governação, quando todos sabem, desde a assinatura do Pacto de Estabilidade, que o Governo que seria formado teria como principal tarefa, a preparação e realização das eleições legislativas em 2008!
Que programa de governação, se ainda nem sequer foi apresentado na Assembleia Nacional Popular, sabe-se lá por sugestão de quem (não seria estratégia do Sr. general)?
Para quem não tinha simpatia com o Pacto de Estabilidade e, por conseguinte, com o Governo saído do Acordo Tripartido, que deixou de o ser, quando permitiu que o presidente nomeasse ministros por sua conta, é caso para perguntar: Qual a estratégia em curso?
Não fica bem a um presidente sugerir a alteração dos calendários eleitorais. Cabe ao Governo essa tarefa, apresentando-a aos partidos políticos e à Sociedade Civil para uma discussão positiva que encontre consenso ou aproximação na calendarização. Ao presidente cabe simplesmente aprovar a data, depois de ouvir o Governo, os partidos e representantes da Sociedade Civil! Oportunamente voltarei a este assunto.
PAZ E RECONCILIAÇÃO NACIONAL?
João Bernardo "Nino" Vieira prometeu, desde que assumiu o poder, que em 2006 iria organizar um encontro de reconciliação entre guineenses espalhados pelo mundo. Já passamos metade de 2007 e a promessa está por cumprir, ou por esclarecer.
No entanto, por incapacidade de levar a iniciativa avante, tem experimentado algumas movimentações com a participação de grupos de cidadãos, como foi o caso da iniciativa designada "Estados-Gerais", um fiasco autêntico, que quis simplesmente promover o general-presidente e não qualquer reconciliação entre guineenses.
Esta semana tivemos dois novos protagonistas, nas pessoas colectivas de duas instituições, sendo uma guineense e outra estrangeira, na busca de protagonismos em relação à promoção da imagem do general-presidente e não na busca de respostas em relação à paz e à reconciliação nacional.
Convém salientar que Paz é uma palavra cara, que não merece ser contrariada com qualquer argumento, mas atrevo-me a contrariar, não o sentido da palavra, mas a usurpação do seu significado e simbolismo para, como disse, o protagonismo que se pretende com a sua apresentação.
Tenho a maior consideração pelo INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas) e pelo seu Director, de quem me considero amigo, mas creio que o INEP não se apresenta como instituição vocacionada para o lançamento de uma campanha de Paz e Reconciliação Nacional. Porquê o INEP e não o Movimento Nacional da Sociedade Civil, que engloba organizações das várias áreas socio-culturais entre outras, do país?
Mesmo que a ideia tivesse surgido no seio do INEP, não seria útil a representatividade alargada que passa pelo Movimento Nacional da Sociedade Civil?
A Aliança Internacional para a consolidação da Paz, presidida pelo antigo presidente da Finlândia, Marti Athisaari é a instituição estrangeira que participa nesta acção, supostamente, de promoção da Paz na Guiné-Bissau.
Gostaria de perguntar ao Sr. Marti Athisaari, se conhece realmente o percurso governativo de Nino Vieira, ou se pretende ao longo dos 2 anos previstos da acção da suposta promoção da Paz, ir conhecendo o presidente ditador a quem este gesto está a promover, ao invés de isolar?
Gostaria de saber como pode um presidente ter a honra de promover a Paz e reconciliação, na mesma semana em que um activista guineense, por ter tido a ousadia de dizer o que pensa sobre o narcotráfico, foi obrigado a refugiar-se em parte incerta, sendo que a sua casa está rodeada de agentes de segurança, que o pretendem prender ou abater?
Como podemos ficar indiferentes tal como é indiferente o presidente-ditador, perante a violação dos direitos, liberdades e garantias dos cidadãos? A Paz pressupõe ficarmos mudos, surdos e cegos?
O INEP ou a Aliança Internacional presidida pelo Sr. Marti Athisaari têm a coragem de abordar esta e outras questões com Nino Vieira? Que Paz, que Reconciliação queremos promover na Guiné-Bissau, meus senhores?!