Qual independência?
Por:
Edson Incopté
edson_incopte@hotmail.com
24.09.2008
24 de Setembro de 1973, uma data que certamente nenhum filho da Guiné-Bissau e
de Cabo-Verde esquece! Foi a data que concretizamos o nosso grande desejo de
independência, data em que aqueles que morreram por esta grande causa como o
caso do homem e senhor que ficará para sempre ligado a esta data: AMILCAR
CABRAL. Homens como este grande líder africano, morreram por uma causa
verdadeira e justa. Por isso esta é uma data em que acima de tudo devemos sentir
orgulho em sermos filhos da Guiné-Bissau e de Cabo-Verde, devemos sentir-nos
orgulhosos por termos tido pessoas com a coragem de morrer por nós.
Hoje 24 de Setembro de 2008, ou
seja, 35 anos depois da tão festejada independência, os filhos da Guiné-Bissau,
principalmente, são muitas vezes obrigados a perguntar: Qual independência?
“Acabou” a dominação Portuguesa e prosseguiu a dominação de Nino Vieira, de onde
julgamos ter saído como a Guerra de 1998, mas afinal estávamos enganados. Nem
meia dúzia de anos se passaram e lá voltava ele e com ele a droga que hoje é
dono e senhor do poder. A autonomia, essa anda escondida pelos cantos da
Guiné-Bissau com medo daqueles que conhecem os matos da terra. O povo é muitas
vezes reprimido por pensar por cabeça própria, que o digam os jornalistas
daquela terra. A dependência económica é gritante. Ainda precisamos da bondade
de muitos para garantirmos até a democracia daqueles pais. (Já que sem a bondade
de alguns nem as eleições se realizam.) Como é do conhecimento geral, sem
autonomia não há liberdade. A ditadura passou das mãos portuguesas para as mãos
do General Cabi. O que é ainda mais horrendo por esse ser filho da Terra! A
instabilidade política é constante, porque todos se acham no direito de mandar,
esquecendo-se que os seus direitos acabam onde começam os dos outros.
Passaram-se 35 anos após a
independência e desenvolvimento, só em sonhos. Os filhos da Guiné
incessantemente fogem da terra como o diabo da cruz. Os políticos continuam a
não ser aliados do povo para uma caminhada sustentada rumo ao desenvolvimento. A
educação anda de muletas, a justiça tornou-se o núcleo da corrupção. Num dia de
festa como hoje, as crianças ainda choram de fome. A população ainda festeja a
independência na escuridão tradicional do país. Hoje a cólera ainda mata pais e
filhos por não terem um nível de vida que lhes permita escolher o que comer.
Passaram-se 35 anos e hoje
pergunto: onde está a rebeldia, a coragem, a audácia e a irreverência atribuídas
ao povo Guineense no tempo colonial? A história conta e mostra que de todos os
povos colonizados por Portugal o Guineense era sem dúvida o menos conformado e
mostrava isso com irreverência e coragem que lhe estavam no sangue. Será que o
sangue que nos corre nas veias mudou, tornou-se menos destemido? Ou terão os
tugas levado a nossa coragem de lutar por aquilo que é nosso por direito. Coisas
indispensáveis como: água, luz, saneamento básico, alimentação, trabalho,
habitação, saúde, educação. Resumindo, direito de viver e não de sobreviver.
Esta é uma data que nunca vamos
deixar de festejar, mas sem nunca esquecer que não foi só para isso que se
lutou, muito menos foi para isso que Cabral morreu. Sem nunca esquecer que temos
condições para fazermos melhor, condições para nos sentirmos verdadeiramente
livres dos tugas e livres em relação a nós mesmos.
Em forma de conclusão, quero
aqui deixar um grande abraço a todos os filhos da GUINÉ-BISSAU e de CABO VERDE,
acreditando que este aniversário trará mais serenidade na forma de governar os
nossos chãos.