A
importância de encararmos os factos como realmente são, por mais que nos custe,
é extremamente crucial para abordarmos quaisquer que sejam esses factos! Temos
todos que deixar de ser utópicos, julgar que as coisas se resolvem por si, ou
que da forma que estamos a proceder conseguiremos resolver os nossos problemas.
Isso é simplesmente fantasioso!
A verdade dos factos é dura, mas aceitemo-la
com realismo. No que diz respeito às constantes instabilidades na
Guiné-Bissau, temos um problema gravíssimo que são os nossos inconsequentes
militares! Embora incitados por múltiplos factores. Tais como, o problema do
tráfico de droga, a falta de formação que reina na classe castrense, a
imoral cumplicidade dos dirigentes que prezam somente os seus interesses
pessoais. Enfim… os factores são inenarráveis.
Outra verdade menos dura é que o nosso país não
se encontra minimamente preparado para resolver este profundo problema. E
enquanto se vai adiando a sua resolução por interesse e teimosia, vai-se
também comprometendo o futuro das gerações vindouras.
Cair nas fraudulentas declarações de
personalidades que insistem em considerar os acontecimentos do dia 1 de
Abril como um incidente ultrapassável, é um erro no mínimo absurdo. Pois
caso estes acontecimentos sejam tolerados, como tem acontecido, podemos ter
a certeza que mais dia, menos dia, vamos voltar a assistir ao mesmo filme
com outras personagens.
Tenho plena consciência de que uma suposta
entrada de forças estrangeiras na Guiné-Bissau, seria a última coisa que
qualquer Guineense poderia desejar, mas a verdade é que também já
ultrapassamos todos os limites de condescendência. Os nossos antepassados
não andaram a lutar anos e anos contra os colonizadores, para agora
chegarmos ao ponto de admitirmos que necessitamos de uma força exterior para
organizar uma parte da nossa sociedade. (E chegamos mesmo a essa
necessidade!) Mas também não andaram a lutar para que o nosso povo
continuasse a ser explorado e humilhado.
Quantos já morreram: Ansumane Mané, Veríssimo
Correia Seabra, Tagme Na Waie, Nino Vieira, Baciro Dabó, Hélder Proença…
isto só para citar algumas personalidades. Quantos mais terão de morrer para
que aceitemos a realidade? Afinal quem tem o direito de tirar a vida a
outrem?
Não é uma boa política de análise ir buscar
somente as más prestações de forças estrangeiras em suas diversas
intervenções. Temos bons exemplos e o caso de Timor, por enquanto, está a
ser um deles. E pior do que estamos a passar, é difícil! O que está a
acontecer é um facto irrefutável e o que pode vir a acontecer, com a entrar
de uma força multinacional, é uma hipotética possibilidade.
Na minha opinião apostar nas
forças
policiais como forma de colmatar as delinquências dos militares, com a
possibilidade de
“atribuí-las
competências especiais internas, acima de todas as outras forças da
autoridade” é no mínimo estar a criar uma guerra interna entre militares e
polícias. Porque os militares nunca aceitarão estar submetidos às forças
policiais na Guiné-Bissau, aliás, ao longo da história da nossa
independência temos visto que o que tem desencadeado vários acontecimentos
absurdos é justamente o facto de os militares não estarem submetidos a
qualquer outros poder. Pensar que os militares admitirão tal ideia, é estar
a fantasiar.
Quem não se lembra dos recentes confrontos entre militares e
polícias por causa das aeronaves que aterraram no aeroporto Osvaldo Vieira?
Quem não se lembra do caso em que os militares assaltaram uma
esquadra da polícia, tiraram da cela um prisioneiro da Polícia Judiciaria e
espancaram-no até à morte?
Quem não se lembra do que voltou a acontecer há algumas
semanas, quando militares voltaram a assaltar a esquadra da Polícia
Judiciária para tirarem de lá um prisioneiro?
Quantas vezes os militares não formaram barreiras impedindo
que os polícias fizessem o seu trabalho?
Todas as ideias quanto a esta questão são bem-vindas e
devemos ponderar todas elas. Mas a minha continua a ser favorável ao envio
de uma Força Multinacional para a Guiné-Bissau. Pela simples razão de que
não caio nas lábias de nenhum Primeiro-ministro hipócrita e covarde que
agora abandona à sua “sorte” o seu aliado número. Muito menos caio nas
lábias de um presidente que habituamos a ver sem pulso e que agora parece
sair bem na fotografia por ter simplesmente cumprido o seu papel. Aliás ter
tentado cumpri-lo, porque nada está ainda resolvido!
Vamos encarar os factos com realismo.
Vamos, pelo menos tentar, resolver os problemas e parar de
adiar a resolução.
Vamos opinar e buscar soluções, pois é com argumentos e
contra-argumentos que vamos encontrando formas de resolver os nossos
problemas.
Estamos juntos!