QUEM ACUDIRÁ À GUINÉ-BISSAU?

 

 

 

 

Por: Domingos Pereira (Mortunega)

 

 

24.05.2007

 

Recolhido no meu pensamento, meditei sobre a nossa Guiné-Bissau e fui invadido por um sentimento de tristeza. Senti por breves instantes a resignação tomar conta da minha consciência e do meu espírito de luta.

 

Olhei para trás e recordei em flashes estonteantes, as promessas vãs deste pedaço de mundo hipócrita e rasguei silenciosamente e a contragosto, as páginas de esperança que se vislumbravam no horizonte do meu povo.

Revi-me... quando, pela primeira vez, entrando por Mansôa como guerrilheiro...

Nesse dia inesquecível, vi a esperança uma realidade à mão de semear, e o sonho da felicidade um horizonte alcançável..., mas ao mesmo tempo, paradoxalmente sem limites,... tanta era a ambição e os sonhos de uma vida melhor traçados no sofrimento da Luta, para a nossa jovem Nação.

 

Foi um sonho de pouco dura. A efémera esperança de um Estado alicerçado no respeito di "pikinino na tamanho ma garandi na fama" como dizia o nosso líder Imortal, Amilcar Cabral, o nosso país, por obra e graça de um homem, cuja ambição circunscreve-se ao seu umbigo e à procura de riqueza pessoal e familiar, constituiu-se num ápice num laboratório de pouca vergonha e da chacota internacional.

 

Tudo começou, numa manhã tristonha do dia 14 de Novembro do ano de 1980. Em pouco tempo, os tempos mudaram, a desilusão passou a imperar no nosso quotidiano, reformas selvagens e corruptas se seguiram, as mortes sistemáticas de camaradas sucediam, as perseguições, as prisões arbitrárias, a tortura, as execuções sumarias, a ditadura, a corrupção, o enriquecimento ilícito, o apropriamento do bem público, a ingratidão, povoaram o horizonte do nosso povo e minaram os alicerces de uma esperança legítima forjada numa luta prenhe de princípios e de camaradagem ensinados por Amilcar Cabral.

 

Aconteceu o 14 de Novembro e quebrou-se o ciclo de esperança para o povo da Guiné-Bissau. Em vez da esperança e sonhos prometidos, entramos no limiar de um processo de retrocesso irreversível e com consequências imprevisíveis a médio prazo.

 

Sobressaltado dessa meditação-pesadelo, sacudi o esqueleto do corpo e afugentei as desilusões da vida. Ganhei impulso para escrever e SUPLICAR PARA QUE ACUDAM A NOSSA Guiné-Bissau... POR FAVOR ACUDAM-NOS!

 

Um suplício que se justifica se tivermos em conta o estado actual do nosso país.

 

Depois de um ciclo curto de esperança que se viveu com as eleições de 2004 e a vitoria do PAIGC de Carlos Gomes Júnior nas Legislativas, veio pouco depois a tormenta com o retorno atribulado e abusivo do General ao país, desafiando e pisando a nossa soberania com armas e poderes do seu amigo e parceiro da ditadura e da carnificina de inocentes, outro General, Lanssana Conté de seu nome e apelido.

 

O General veio de helicóptero de guerra, escoltado por mercenários, a folia embriagada e cega dos seus apoiantes e a cumplicidade, da CNE do corrupto Aladje Mané e da Comunidade Internacional, em particular a CPLP e a CEDEAO, puseram o General no pedestal da Presidência Guineense.

 

Sem ganhar, o General, tornou-se no Presidente da Guiné-Bissau. A Comunidade Internacional subscreveu a validade do sufrágio da trapaça e da vergonha.

Mas quero que registem este meu presságio: Não haverá jamais na Guiné-Bissau "eleições livres justas e transparentes... a elas se seguirão - se não forem tomadas medidas atempadas - banhos de sangue ou golpes de urna imposto pelos militares. Embora apreensivo e contrariado, é este o meu presságio para o futuro democrático na Guiné-Bissau. O jogo do "turçi mon" ganhou uma vez mais e tornar-se-á regra do jogo... se nada for feito para inverter o rumo desastroso, da manigância e golpadas de força que tende a seguir a nossa jovem democracia.

 

Nos dias de hoje, a Guiné-Bissau é um país à deriva, entregue à sua sorte  e ao capricho dos Generais da Morte, um país ingovernável e do salve-se quem puder  e do jogo do "rabata-rabata" quer do negócio da droga, quer do erário público. Hoje a Guiné-Bissau é um país de déspotas e de sanguinários, um país à mercê do humor dos rambos das forças de elite (Marinha e Para-Comandos), um país nas mãos dos comandantes e dos esquadrões de marginais em que se transformaram os nossos militares, um país refém de militares corruptos, sanguinários, patronos e beneficiários das "benesses" dos negócios da droga, um país em pantanas exposto e exibido ao narcotráfico mundial, um paíis de delinquência e poiso de marginais de toda a estirpe.

 

É hoje raro, num qualquer aeroporto de entrada para a Europa, não ser anunciado, a detenção de cidadãos Guineenses, quer como correios de quilos de droga, quer como agentes portadores e "dealers" referenciados do sub-mundo da droga. O nome do nosso país é mencionado pelos piores motivos.

 

Estranhamente, a impassividade impera no País. O silêncio é de ouro, cada um vai sacando para sua contabilidade e fecha-se os olhos à marginalidade.

Sabe-se  e constata-se que existe cumplicidade interna dos nossos Governantes, cumplicidade mais activa do que passiva, e começa, desde o mais alto nível da hierarquia do Estado, cito, desde o Presidente da República, aos nossos Militares, destes, desde os Estados-Maiores, quer o General, quer dos Ramos e vai, até aos mais simples corpos de elite do nosso exército.

Os sinais exteriores de riqueza são evidentes na pessoa e grupos pré-citados. Esses sinais, são chocantes e até gritantes com o contraste da pobreza e do esquema de "forra salário" que se instituiu na Guiné-Bissau. Os ganhos com o negócio da droga e da sua lavagem tem os seus destinatários certos e são bem identificáveis.

 

Agora... meu Deus, o que não se percebe, é, como toda essa ingovernabilidade e instituição do narcotráfico se passa num país dependente, até ao tutano, da comunidade internacional e NADA É FEITO, como se a Guiné-Bissau não fosse considerado um país de bem no concerto das Nações.

 

O que é feito ao tão propalado projecto e medidas da ONUDC para a África Ocidental e Central; o que fazem os Gabinetes das Nações Unidas e da CEDEAO na Guiné-Bissau, o que fazem, os escritórios e representações da GIABA e do CENTIF instalados na Guiné-Bissau para, denunciarem e combaterem sem tréguas esse flagelo e resgatar o nosso país deste pesadelo do narcotráfico e da corrupção?

 

O que faz o Sr. Representante das Nações Unidas para o combate da Droga na África Ocidental e Central, o Sr. Antonio Mazzitelli, confortavelmente instalado em Dakar e a receber a peso de ouro, para denunciar ou mandar averiguar essas situações gritantes que se passam na Guiné-Bissau?

 

Estou certo até, que o Sr. Mazzitelli, sabe que o Sr. Quecuto Mané principal cérebro do transporte de mais de duas (2) toneladas de droga, cuja parte, 680 quilos foi interceptada e apreendida em Djugudul pela nossa brava Polícia Judiciária (PJ), foi resgatado "manu-militari" pelo próprio Chefe do Estado-Maior da Marinha da Guiné-Bissau, Bubu Na Tchutu e seus jagunços, tirando-o da alçada da Polícia Judiciária e escoltá-lo como um "barão" colombiano directamente para o nosso aeroporto e fazê-lo embarcar calmamente para Dakar, onde passeia principescamente num último grito de "Cheyenne" e vai patrocinando festas e pik-niks nas belas praias de Dakar. E, saberá o dito Sr. que esse marginal de quatro costados, tem tido encontros regulares de alegados "negócios" aqui em Dakar com o nosso CEMGFA, que ele diz ser seu "tio".

 

Por isso o meu suplício, para que acudam a nossa Guiné-Bissau, ou pura e simplesmente que o risquem do mapa das Nações do Bem e o anexem, talvez à Colômbia como mais uma província do seu Narco-império... E, quando assim vier a ser, espero que eu não tenha o desgosto de assistir a essa dor.

 

Acudem a Guiné-Bissau,... que não seja por nós, já velhos e cansados, mas pelo futuro dos seus filhos.

 

Certo pode dizer, quem conhece a nossa realidade, que outro cenário não era de esperar quando se entrega através de uma eleição fraudulenta e cheia de casos, um país carente de tudo a um General cujo modus vivendi é a corrupção, o enriquecimento ilícito, a eliminação física dos seus adversários, o nepotismo, a avidez do dinheiro e da riqueza fácil... enfim, quando se entrega, de forma mafiosa um país que vinha emergindo com legítimas expectativas criadas por um Governo promissor e competente, a um General predador que em 18 anos de sua magistratura, deixou ao país um saldo negativo de degradação, miséria e atraso socio-económico a todos os níveis imbatíveis em todo o continente africano.

 

Em contrapartida, a esse cenário de pobreza e quase destruição que o General deixou o país, as contas bancárias e o seu acervo imobiliário expandiram-se da Guiné a Portugal, passando por Bélgica, Paris, Dakar, Conakry e vários outros off-shores de lavagem de dinheiro proveniente de negócios sujos.

 

Mais uma vez, o meu (nosso) suplício: PONHAM MÃO NA GUINÉ-BISSAU E SALVEM O SEU POVO.

PROJECTO GUINÉ-BISSAU: CONTRIBUTO - LOGOTIPO

VAMOS CONTINUAR A TRABALHAR!

Projecto Guiné-Bissau: CONTRIBUTO

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