QUERIDA GUINÉ-BISSAU
 

 

Nadine Dominicus van den Bussche

http://fraxinellaconsult.com/

08.08.2012

Antes de tudo queria pedir disculpas, como francofona estou a maltratar a linda e rica lingua portuguese, tambem a sua lingua oficial.

Sou a Nadine, e fui professora de muitos de Vocês, no Liceu NKame Nkumah et no CENFA, em Bissau entre 1975 et 1986. Agora sou consultora para Africa, baseada na Belgica, mas fico com imensa saudade da Guinée Bissau.

Sou tambem a primeira escritora de romance da Guiné Bissau com "Morrer de pé", publicado em Dakar, mas por ser francofone não faço parte da historia literaria da Guiné Bissau. Tive a opportunidade de percorrer todo o pais, de falar com gente nas tabancas sobre a sua vida na luta, conhecer os seus sonhos, modo de viver, tanto como os seus mitos e leyendas tradicionais. Aprendi a amar a Guiné Bissau, a apreciar a sua belleza.

Por ter sido simpatizante da sua luta de libertação e apos a execução do meu marido noutra terra africana, o Nino convido-me para vir ensinar na Guiné Bissau. Ao sair da Luta, o pais tinha falta de cuadros por ter vivido baixo do "Codigo do Indigenato" colonial impedindo os "indegenatos" a frequentar escola alem da quarta classe.

Como professores, a nossa tarefa éra de tentar criar rapidamente cuadros capazes de construir o futuro do pais. Não havia luz, .. nem agua.. pouca comida. Lutamos para apanhar pão cheio de bichos, ..na paderia do Djabi..
Lembro que cuando haver luz na rua, encima das lanternas havia neves de mosquitos e abaixo sentando no chão, alunos a tentar ler nos raros cadernos que tinhamos. Havia a penas um liceu e organizamos três periodos por dia.
Dizeram, eu ter sido muito dura, até mau, por exigir demasiado nessas condições. E seguramente a verdade porque eu sabia que a prioridade era de "fabricar" estudentes capazes de atingir o nivel exigido afora para aproveitar de bolsos.

Infelizmente, começou, na mesma altura, uma luta sangriente pelo poder, jà latente no tempo da luta: vales, torturas, execuçoes.. Amigos da luta a virar enemigos...A luta tinha sido tão dura e violenta para resistir a violência das tropas colonias que parecia que essa violência tinha tanto marcada as pessoas que não fueram capazes de solucionarem conflictos doutra maneira. Alguns, talvez sinceros, convencidos de defender a Independência actuaram com barbaridade. A vida humana parecia não contar. A Guinée Bissau acumulo odio e desejo de vengança a travès dos anos a seguirem, e principalmenet em Bissau, sede do poder.

Apos dezenas de anos deste ritimo infernal, chegamos ao punto que em cada familia, principalmente em Bissau, hà um morto a vengar, ou um parente com as maõs sujos..Ningem sabe como escapar a lei do ajustamento de contas...Chegamos assim a uma situaçao em que cada novo governo gasta os seus primeiros anos de mandato a limpar e ajustar contas até ser derrumbado por um outro a fazer o mesmo, cada um buscando alianças na FARP para ter a força fisica para chegar ao poder. Enquanto a FARP, na sua majoria Balanta, devemos reconhecer que na Independencia, ficaram filhos abandonados por falta de cuadros formados. Receberam muitas barretas, mas poucas oportunidades para entrar na administração. O pais não encontrou maneira de integrar-os de modo que ficando a fora da esperança de entrer na sociedade moderne e do desenvolvimento, eles ficaram bloqueados numa mentalidade tradicionalista defensive. Constituen assim uma bomba a retardamento. No entanto devemos compreender os Balantas que pagaram um alto preço de sangue pela Libertação e que não consigueram beneficiar das promessas feitas dum mundo melhor. Um facto contribuendo tambem a confusão de poder na mentalidade dos militares vem da epoca da Luta em que foi-lhe entregada a responsabilidade de vigiar o poder civil e as acquisiçoès da Luta. Outros tempos, outra epoca do que a do constitucionalismo actual.. mas ficando nas mentalidades.

Como sair daquilo? Não tenho resposta, mas como historiadora sei que todos os paises do mundo passaram por periodos "sujas", de governação a trazer vergonha sobre todo o pais.
Não digo que ha de perdoar todos os crimens do passado, mas não vejo tampoco como um governo podia assumir toda a carga de deterrar os mortos de quase quarenta anos, buscar e julgar os culpaveis sem gastar todo o tempo que devia ser consegrado ao desenvolvimento.

A Guinée Bissau é um pais de linda diversidade, de imensos recursos, é contrariamente a imagem divulgada pelos medias, um pais pacifico, com um povo amavel e trabalhador. Tem tudo para ser um celeiro alimentar pela região. Não acredito ser um narco -estado por não ter a estructura economica nem circuitos bancarios para branquear isso. Hà droga em todos os paises muito mas do que a Guiné Bissau podia acolher.

Não tenho preconceitos enquanto a tentativa de saida de crisis do governo de transição dirigido por Presidente Nhamadjo, até simpatizei com a idea de ver uma nova geração chegar ao poder sem mãos sujas, sem malas cheias de velhos contas a ajustar.

Fica a complexidade CEDEAO-CPLP. A Guinéa Bissau tem como originalidade de fazer parte das duas entidades. A Guinéa Bissau não vai poder beneficiar de ajudas dos paises da CEDEAO como as antiguas colonias dos seus respectivas colonizadores. O realismo nos obriga lembrar haver laços historicos com Portugal, bons ou maos, e que o pais vai ter de resolver as suas relaçoes com a CPLP, aun que sabemos ser as vezes muito pesada as relaçoes com um pais que não assimila a irreversibilidade de certos factos historicos e que tem tendencia a continuar um "control parental" doutros tempos sobre a Guinéa Bissau.

Pode parecer-lhes utopico, mas continuo acreditar na Guineé Bissau, convencida haver uma consciencia popular capaz de virar a pagina do passado. Esta opinião nasce do que no interior do pais, haver paz e capacidade de colaboração. Convencida tambem do que uma nova geração é capaz compreender que a saida é o desenvolvimento e que cada guineense que desenvolve um projecto esta a contribuir a levantar o pais.

Hoje a Guiné Bissau tem cuadros e alguns de alto nivel internacional. E um capital precioso para levantar a terra. O pais tem tantas riquezas ainda para explorar.

E quam sabe,uma nova geração,vai talvez ser capaz de virar costas as guerrinhas começados pelos pais ou pelos avos, a fim levantar o seu pais pelo desenvolvimento gracias a reconciliação nacional. As prioridades não são de vengar os mortos mas de fazer sobreviver os vivos.

Boa sorte, Guinéa Bissau

Dra. Nadine Dominicus van den Bussche (antiga professora no Liceu Kwame N'Krumah + CENFA de Bissau)

http://fraxinellaconsult.com/
 

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