(Re)pensar os nossos heróis nacionais
Edson Incopté 20.01.2014 Assinalar a data de 20 de Janeiro, Dia dos Heróis Nacionais da Guiné-Bissau, não representa e não deve representar, jamais, um simples e simbólico homenagear daqueles que, durante a luta de libertação nacional, deram sangue e vida pela nação. 20 de Janeiro, a semelhança de outras datas, deve obrigar-nos a pensar o país; a considerar os projectos mutilados e sonhos adiados. Obrigar-nos a olhar para a Guiné-Bissau que (des)construímos ao longo de 40 anos como país independente. Obrigar-nos a avaliar o trabalho realizado ao longo de 41 anos depois da morte daquele que era, seguramente, o mais bem preparado de todos os filhos do país. A constatação da (des)construção e a insatisfação pelo trabalho realizado deve, por sua vez, obriga-nos a pensar o próprio conceito de Herói Nacional inerente a data assinalada e ao país no seu todo – territorial e temporalmente. Sob esse pensamento, acabamos por, infelizmente, chegar a conclusão que a exceção de D. Settimio Arturo Ferrazzetta (uma opinião pessoal), 40 anos depois, todos os nosso heróis nacionais continuam a ser heróis de “bati bala”. Homens que num tempo próprio, diferente do de hoje, colocaram os seus saberes e esforços ao serviço da causa guineense. O mesmo pensamento leva-nos, igualmente, a observar que muitos dos heróis que emergiram no período de “bati bala”, com o passar dos anos, tombaram no vil poço da traição – traição ao povo, ao país e aos ideais da luta. Pelo que era e é necessário irem surgindo figuras capazes de servir de referência a nível nacional. Pessoas que, pela conduta e dedicação a causa comum, atinjam o estatuto de herói; por mais relativo que o conceito possa ser. É imperioso que a Guiné-Bissau de hoje conheça figuras que, fora dos jogos de interesses, sejam capazes de estar junto do povo em busca do desenvolvimento para a pátria. Figuras que sejam capazes de alimentar o esperançar moribundo de toda uma nação. Que, politicamente falando, recebam o poder em nome do povo e para o povo e sejam capazes de orquestrar um projecto político e exercer uma liderança capaz de mobilizar vontades e capacidades para o tão ansiado progresso do país. Não podemos continuar a celebrar os nossos heróis de ontem, tendo hoje um país quase ingovernável e um povo que sobrevive miseravelmente. Não podemos continuar a celebrar os heróis de ontem se fomos e somos hoje incapazes de dar seguimento as suas lutas. Aliás, dos heróis que recordamos nesta data, vivos e mortos, são poucos (ou quase nenhuns) os que têm/teriam razões para celebrar. Mais do que nunca, temos actualmente a necessidade de recriar a nação guineense, “a nível político, económico, social e cultural; liberta de toda a forma de exploração de um grupo ou classe” e isso passa pelo surgimento de homens e mulheres comprometidos com a causa nacional. Comprometidos com aquilo que significa o restruturar da Guiné-Bissau, dando-lhe um novo papel e uma nova cara, em África e no mundo. O nosso país não pode continuar a tatear no escuro. Caminhando por um caminho incerto, pelo qual é o futuro das próximas gerações que se vê hipotecado. Temos que ser e fazer mais do que isto que fomos e fizemos durante os 40 anos que se passaram. A Guiné-Bissau tem que ser e valer todo o nosso esforço, tem que ser razão do nosso viver, tal como foi no passado para vários heróis, no verdadeiro sentido da palavra. Viva a Guiné-Bissau! Viva o povo guineense! Viva os verdadeiros heróis nacionais!
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