Guiné-Bissau: Repugnante e preocupante (1)      

 

Kumba Yalá continua a sobrepor-se à legalidade, à ética e à própria condição de presidente de todos os guineenses. É inadmissível, que o presidente da República, tendo conversas privadas com personalidades do meio político nacional (neste caso o líder de um partido de oposição)ou com quem quer que seja, faça ou mande fazer gravações audiovisuais sem o conhecimento ou consentimento da outra parte e posteriormente, utilize o material obtido como represália, de forma a desacreditar e silenciar as pessoas.

 

Kumba Yalá teve uma conversa com Amine Saad, líder da União para a Mudança, em que este lhe teria dado conta duma alegada lista negra de personalidades políticas e militares a "abater", elaborada por outro partido de oposição, neste caso o PAIGC. Isto, se o mesmo PAIGC viesse a vencer as eleições previstas para 12 de Outubro.

 

A gravação contendo a conversa privada entre Kumba Yalá e Amine Saad, foi ouvida por jornalistas, chefias militares e também pelo representante do secretário geral da ONU em Bissau, David Stephen. Prontamente houve uma reacção de defesa da parte do PAIGC, que negou ter elaborado tal lista negra e prometendo processar judicialmente Amine Saad, que por sua vez desvalorizou a conversa com Kumba Yalá, considerando-a "própria de uma conversa de café entre amigos" e garantindo que a gravação divulgada é uma montagem de laboratório e não o diálogo integral.

 

Já no passado, não muito distante, Kumba Yalá teve procedimento idêntico com um destacado dirigente do PAIGC, que ao fazer considerações na Assembleia Nacional Popular contrárias ao PRS, partido de Kumba Yalá, foi confrontado com deputados do mesmo PRS que lhe fizeram ver que estavam na posse de provas comprometedoras em relação à sua pessoa, relativas a um encontro que esse destacado dirigente do PAIGC teria tido com o presidente da República, tendo inclusivamente aparecido posteriormente na imprensa detalhes desse encontro.

 

Os efeitos foram tão notórios, que a pessoa em questão, político influente e de participação activa, se auto-silenciou como que, se de repente tivesse perdido gosto pela política...Não se pode tolerar mais este tipo de situações e saber-se-á, quantas personalidades estarão comprometidas com este procedimento repugnante da parte do presidente da República...?!

 

Peço ao representante do secretário geral da ONU em Bissau, David Stephen, que também teve conhecimento do caso, que transmita à organização que representa, o estado em que se encontra a preparação das eleições na Guiné-Bissau, a menos de três meses da data prevista para a sua realização. Peço igualmente aos guineenses: políticos e sociedade civil, que não se deixem intimidar e se manifestem contra o uso e abuso indevido do poder por parte do presidente da República.

 

    

Fernando casimiro (didinho)

20-07-2003 19:12     

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