SIDA (AIDS): A TRAJECTÓRIA DE UMA CALAMIDADE
J.TAVARES, MD,
FCCP, FAASM
joaquim.tavares15@gmail.com
07.01.2008
A primeira vez que ouvi falar da Sida foi em 1983. Foi numa noite em que,
como habitualmente, o Dr. João Procópio Pinhel (Gungo) tinha regressado à residência
universitária depois de uma aula de dermatologia e começou a falar do que o
professor lhes tinha dito na aula; depois de mostrar slides de doentes com
sarcoma de kaposi e outras doenças dermatológicas, o professor falou-lhes de
uma nova doença que tinha começado a dar sinais nos Estados Unidos e que
estava associada com o sarcoma de kaposi, sífilis, etc. e quase 100% dos
doentes morriam da doença.
Em Junho de 1981 havia a descrição de 5 homossexuais em 3 diferentes
hospitais de Los Angeles, diagnosticados com o Pneumocystis Carinii pneumonia;
em Julho do mesmo ano, descrevem-se 26 casos de sarcoma de kaposi (tumor
cutâneo e das mucosas, visto mais em doentes com SIDA); em Julho de 1982 o
termo AIDS (SIDA) foi usado pela primeira vez nos Estados Unidos.
Em 1983 o Instituto Pasteur (França) descobre o vírus da SIDA; em 1984 o Dr.
Gallo nos Estados Unidos reclama a descoberta do mesmo vírus.
O meu primeiro contacto com um doente com sida foi em 1986 quando estava a
fazer estágio de doenças infecto-contagiosas no Hospital de Santa Maria em
Lisboa: na altura, devido ao medo do desconhecido, vestíamo-nos como
astronautas antes de entrar em contacto com os pacientes e éramos sempre nós,
os internos, a entrar directamente em contacto com eles.
Entretanto, no meu primeiro ano de residência nos Estados Unidos, tive a
oportunidade de conhecer um médico de origem cubana, Dr. José Giron,
especialista em doenças infecto-contagiosas e que foi um dos primeiros médicos
a tratar doentes com SIDA em Nova Iorque. Desde então, tenho tratado mais de
1000 pacientes com SIDA (a maioria com Pneumocystis, Kaposi, Tuberculosis
Pulmonar, Meningitis tuberculosa, citomegalovirus, toxoplasmosis
cerebral, etc.).
Como tudo na vida, infelizmente uma calamidade como esta necessita de afectar
pessoas com posição de relevo nas sociedades desenvolvidas, para que os seus
governos comecem a mobilizar esforços para combatê-la; assim foi com a SIDA.
Depois de muitas personalidades de relevo serem afectadas (Rock Hudson, Arthur
Ashe, devido a transfusão sanguínea, Liberace, Freddie Mercury - Queens-,
Rudolf Nureyev, etc.),começaram a aparecer as Fundações de caridade, os
apoios, as leis, etc.
A epidemiologia mundial, o diagnóstico, a
PREVENÇÃO
e os antiretrovirais deixarei para um dos nossos colegas analisar e publicar
no nosso sector Saúde do sítio CONTRIBUTO. A última parte deste pequeno
trabalho será sobre alguns (escassos) dados estatísticos da Guiné que consegui
obter no sítio da OMS (infelizmente, não têm dados de 2007 sobre a Guiné).
Doentes com HIV/AIDS(2005):
Adultos (15+) 15000 - 42000 (3%)
Crianças: 890 - 6300
Número de mortes (2005):
1400 -4400
Número estimado de órfãos (2005)
6000 - 16000
Fundos
governamentais dedicados à SIDA
2001
- $516.371
2002
- $516.371
2003
- $516.371
2004
- $516.371
No próximo trabalho (ainda este mês) apresentarei alguns casos clínicos
reais, com ilustrações e falarei do tratamento das complicações da infecção
com o vírus da SIDA (PCP, Kaposi,Tuberculosis,Toxoplasmosis)
A melhor forma de combater esta calamidade que tem potencial para dizimar o
nosso continente, da mesma forma que a escravatura fez, é através da
PREVENÇÃO,
EDUCAÇÃO;
por isso a importância dos médicos, enfermeiros e técnicos de saúde;
necessitam de mais recursos à disposição para poderem combater a SIDA e outras
calamidades; Sem condições de trabalho, sem salários adequados para estes
novos combatentes da liberdade (a libertação agora é do jugo das doenças, da
falta de imunização) e as nossas armas serão os medicamentos, as seringas, as
vacinas, os livros, torna-se difícil a libertação!
Ah! OS POSTOS DE SAÚDE;
desempenharam um papel fundamental na Saúde Pública dos anos
cinquenta/sessenta e temos que investir mais neles; são a linha da frente na
guerra global contra as doenças; se os conseguirmos revitalizar, será um
grande passo neste nosso combate às doenças.
Independentemente das convicções politicas de cada um de nós, o País precisa
de ideias e acções para beneficiar a todos.
Não sou político, não sou e detesto ser chamado intelectual, gosto da
minha profissão e cada dia trabalho para ser melhor do que já fui e
humildemente tento contribuir para a Saúde e o bem estar dos meus conterrâneos
(infelizmente, nem todos podem estar lá fisicamente, mas nem por isso a nossa
contribuição deixa de ser importante).
Até breve! O meu beeper está a apitar! Tenho que ir tentar salvar vidas!