SIDA (AIDS): A TRAJECTÓRIA DE UMA CALAMIDADE (2)
CASOS DA VIDA REAL E TRATAMENTO DAS COMPLICAÇÕES
Na continuação deste tópico tão importante para o nosso continente e para o mundo em geral, vamos relatar 3 casos clínicos como exemplos de complicações da infecção pelo vírus da SIDA e o tratamento geral dessas complicações.
Caso 1: Um indivíduo de 33 anos foi admitido através dos serviços de urgência com dispneia e tosse não produtiva de 3 semanas de duração. Factos pertinentes na história deste indivíduo dão conta que: sabia que era seropositivo desde há 18 meses atrás, mas sempre recusou tratamento; não fuma, não bebe bebidas alcoólicas, não usa drogas; sempre recusou falar sobre as suas orientações sexuais; solteiro, sem filhos e vivendo com os pais.
Exame físico significativo: febre (temperatura=39; respiração=25/mn);
Radiografia (ver fotografia): infiltrados pulmonares
Gasimetria (2 litros/mn):pH=7.46/PC02=30/p02=55
Durante a estadia nos cuidados intensivos, o paciente foi entubado depois de 48 horas.
Cultura do esputo: Pneumocystis Carinii (agora com um novo nome: Pneumocystis jirovecii).
Tratamento instituído: trimetroprim/sulfometoxazol, prednisona.
Teve muitas complicações (pneumotorax incluído), mas finalmente, foi transferido para um centro de reabilitação com uma traqueostomia.
Caso 2: Uma senhora de 29 anos, casada recentemente, sem filhos, foi admitida com o diagnóstico de pneumonia; depois de 2 dias de tratamento com antibióticos, em vez de melhorar, a paciente piorou e tivemos que entubá-la; o teste do HIV foi positivo e o esputo foi positivo para pneumocystis.
Caso 3: um jovem de 21 anos, natural da Carolina do Norte, homossexual, diagnosticado com SIDA, foi transferido para os cuidados intensivos com insuficiência respiratória aguda; tinha lesões cutâneas de sarcoma de kaposi e a broncoscopia revelou nódulos nas passagens aéreas, quase que obstruindo a traqueia.
Vamos agora abordar estes casos em 3 pontos:
1- Sida e ética;
2-Tratamento da pneumonia devido ao pneumocystis, tratamento do sarcoma de kaposi;
3- Uso de antiretrovirais nos cuidados intensivos.
1- Sida e ética
No caso número 1 , o paciente era um homem muito religioso, era o orgulho da família (o menino bom da família, sustentando os pais, bom trabalhador, gerente de um dos casinos em Las Vegas) para ele, revelar o segredo podia ser uma catástrofe; antes da entubação, rogou-me para não dizer nada aos pais e irmãos, o que desde logo me colocou numa situação delicada: como explicar aos familiares a falta de melhoria de uma simples pneumonia, num jovem aparentemente de boa saúde?
Convoquei uma reunião com o comité de éticas do Hospital e eles foram bem claros: por lei, só pessoas que poderão potencialmente ser afectadas pela transmissão da doença por parte do paciente (esposa, parceiro sexual, etc.) podiam ser informadas.
No segundo caso, foi fácil: o marido tinha que saber do teste, para poder ser testado e tratado a tempo.
2-Tratamento da pneumonia devido à pneumocystis
O tratamento preferido é o Bactrim (combinação de sulfametoxazol e trimetroprim);15-20mg/kg/dia de trimetroprim e 75-100mg/kg/dia de sulfametoxazol por 14-21 dias; Se o P02 for menos de 70 ou o gradiente de oxigénio (A-a gradient) for mais de 35 adiciona-se prednisona (40mg, duas vezes por dia, durante os primeiros 5 dias; seguido de outra dose de 40mg/dia igualmente durante 5 dias; e finalizando com a dose de 20mg/dia durante 11 dias), o que totaliza 21 dias de tratamento.
Tratamentos alternativos:
a) Pentamidina;
b) Clindamicina;
c) Atovaquona.
2.1-Tratamento do sarcoma de Kaposi
Lesões cutâneas: nitrogénio líquido ou radiação ou cirurgia ou ácido retinoico.
Para lesões internas: geralmente, usam-se medicamentos para tratamento do cancro: doxorubicina, daunorubicina ou paclitaxel (taxol).
3- Uso de antiretrovirais nos cuidados intensivos
Tópico com muita controversia:
1- Alguns são contra o seu uso, porque devido ao sindroma de reconstituição imunológica, os doentes podem piorar; ademais há muitos efeitos secundários graves, há igualmente casos de má absorção do organismo, etc.).
2- Outros advogam o seu uso, para facilitar a recuperação; cada clínico deve usar o seu julgamento ou consultar um especialista em SIDA nestes casos.
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