SOBRE A DEPRESSÃO
J.TAVARES, MD, FCCP, FAASM
Sobre a Depressão
13.12.2009
Ilustrando o excelente artigo do Sr. Alberto Lopes sobre a depressão, gostaria de compartilhar este caso com os utentes do Contributo.
Um jovem de 24 anos de idade, tendo feito duas missões de serviço no Iraque, começou a ter sintomas de depressão e a beber álcool.
Depois de uma briga com a namorada, tomou 15 comprimidos contendo acetaminofeno.
Foi trazido aos serviços de urgência com alteração do nível de consciência.
O nível plasmático do acetaminofeno estava muito elevado (mais de 100) e o tratamento foi iniciado com mucomyst (antídoto).
Nas 24 horas seguintes, o nível de consciência continuou a deteriorar-se e os níveis das enzimas hepáticas, apesar de melhorarem, ainda estavam muito altos.
Como o nível sanguíneo da Amónia estava normal, a única explicação para a deterioração do nível de consciência seria o desenvolvimento de Edema cerebral.
Decidi entubá-lo para, não só proteger as vias aéreas, mas também, para lhe dar mais sedativos, imobilizá-lo e tentar hiperventilação, dar mannitol e elevar a cabeceira da cama a pelo menos 30 graus, tudo com o fim de reduzir o edema cerebral (ICP ou pressão intracraniana).
Também pus uma linha venosa central para monitorizar a pressão venosa central (para ter mais controlo na quantidade de soro a dar ao paciente).
O mais importante num doente com edema cerebral é tentar preservar a Pressão de Perfusão Cerebral (Cerebral Perfusion Pressure) que se pode deduzir da fórmula: CPP=MAP (pressão arterial média) - ICP (pressão intracraniana); e deve-se manter a 65 mm/Hg ou mais.
Tivemos de transferir o paciente hoje para um Hospital gémeo a 15 quilómetros e que tem um Neurocirurgião de banco 24/h dia para pôr um dispositivo para monitorizar o ICP. A próxima etapa é transferir o paciente para Stanford ou UCLA para transplante de fígado.
A depressão é uma doença séria e todos os médicos necessitam de estar preparados para a diagnosticar e tratar (infelizmente, em países do Terceiro Mundo ainda é considerada tabu e as pessoas afectadas têm dificuldade em admitir que têm depressão, o que as levam a cometer suicídio, praticar actos de violência contra outros, refugiarem-se no alcoolismo, drogas, etc. (mas leiam o artigo do nosso compatriota Alberto Lopes, que está bem elaborado).
Junto vão as notas que escrevi no processo do paciente e que tentei resumir acima.
Para ilustrar o edema cerebral (Nota-se pelo desaparecimento dos sulcos cerebrais);
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