Turismo Cultural na Guiné-Bissau: Uma súplica à consciência crítica sobre a participação do governo guineense  no setor

 

Secuna Baldé

07 de Outubro de 2009

secbalde@hotmail.com

Secuna BaldéTodos sabem que o turismo é uma indústria de extrema importância. Falar em turismo é falar em uma das economias mais prósperas do mundo, que faz gerar emprego, renda e lazer para as pessoas, além de movimentar positivamente outros setores econômicos do país. É também uma ferramenta para o resgate histórico e cultural da nação, revitalizando a identidade cultural, a preservação de patrimônios, tradições e costumes da população, fazendo com que ocorra a participação da comunidade nesta atividade turística. As ofertas de lazer que estão sendo desenvolvidas em todo o mundo incluem o turismo cultural, integralizando políticas de desenvolvimento sustentável e como as manifestações culturais da Guiné são únicas, devem ser aproveitadas e valorizadas para o incremento do turismo no país.

Turismo e a Cultura

 

Esta é definida como “a totalidade ou o conjunto da produção, de todo o fazer humano de uma sociedade, suas formas de expressão e modos de vida”.

 

A viabilidade para o Turismo Cultural

 

É fundamental, antes de tudo, identificar a viabilidade desse ramo do turismo no país. É claro que a Guiné tem atrativos culturais significativos, efetivos e potenciais, que podem estimular o deslocamento de turistas de toda parte do mundo para conhecer tal cultura. Além disso, o resgate da essência histórica da população é importante para a conscientização da comunidade local acerca da preservação histórico-cultural, estabelecendo assim, uma atividade turística de forma sustentável.

Os diversos recursos culturais, segundo a Organização Mundial do Turismo – OMT(2003), podem encontrar no turismo um importante veículo de revitalização e conservação, geralmente de forma seletiva. Ao observarem que os turistas apreciam suas tradições, é mais provável que os residentes renovem seu orgulho em relação à sua cultura e apoiem a sua conservação.

Ou seja, os atrativos turísticos originam mecanismos de sustentabilidade e espaços que favorecem as expressões culturais. Com planejamento, o setor do turismo é conduzido de forma a maximizar os benefícios para o local e minimizar os impactos provocados pela atividade.

 

 

Diante disso, a atividade turística exige planejamento, gestão, respeito, envolvimento de todos: da comunidade local, do poder público, empresários, estudantes e profissionais que tenham compromisso para com a Guiné-Bissau, compromisso em estar sempre lutando e buscando novas alternativas e perspectivas para o desenvolvimento deste país. É imprescindível lembrar que a promoção do turismo no país não é apenas contar o número de ilhas que existem no território de Guiné, criar um site de divulgação do turismo, nem achar que de uma dia para o outro pode-se atrair um número expressivo de turistas e investidores para o país. Tem que lembrar sempre que este é um processo gradual que necessita de adequado planejamento.

 

A prova disso é o que acontece em Cabo Verde, um país com independência recente, como a Guiné-Bissau, mas que expõe dados de um crescimento gradual baseado num bom planejamento estratégico, dando oportunidade aos novos quadros, investindo na educação dos jovens para a área turística. Dados obtidos nos sites dos ministérios desses dois países supracitados remetem que enquanto em Cabo Verde entraram cerca de 312.880 turistas no ano de 2007, na Guiné-Bissau, chegaram apenas 15.593, uma diferença contrastante em países africanos que têm quase os mesmos anos de independência. Além disso, em relação às infra-estruturas, tem-se como exemplo de Cabo Verde contar com 158 estabelecimentos hoteleiros, enquanto que a Guiné-Bissau, segundo o Ministério do Turismo, conta com apenas 29 estabelecimentos, e estes incluem várias modalidades de hospedagem, não sendo portanto, este número apenas relacionado aos hotéis, o que é ainda pior.

 

Quando ouvimos a Senhora Ministra Dra. Maria de Lurdes Vaz falando: "Uma vez em funcionamento, este site, vai ajudar-nos no desenvolvimento do turismo guineense, através dos investidores que já não vão precisar de se deslocar para obter informações sobre o país”; é de se concordar e exaltar a iniciativa do Ministério, visto que é bem verdade que um  bom site em funcionamento, divulgando o potencial turístico do país, atrairá e facilitará a deslocação e a parceria com investidores de todo o mundo. Mas, infelizmente, existem incompletudes no site que dificultam o alcance dos objetivos da sua criação. Nosso objetivo é apresentar críticas construtivas, para erguermos juntos melhorias para a Guiné-Bissau.

 

Onde estão os dados estatísticos mais recentes, neste caso, os dados de 2008?

 

Está existindo um acompanhamento mensal e adequado do número de turistas que entram e saem do país?

 

Quais os projetos do Ministério do Turismo para dar passos iniciais mais concretos que empurrem o setor turístico para o crescimento?

 

Onde está a nossa cultura musical no Ministério, visto que ao entrar no site não existe nada na página dedicada à música do nosso país. Como podemos esquecer de grupos musicais como Mama Djombo, Cobiana Djaz, Capa Negra, Roda Livre, entre tantos outros, bem como de músicos guineenses que estão espalhados pelo mundo, que contribuíram e contribuem para a formação da cultura musical do nosso país?      

 

Cobiana  Djaz                                                          Mama Djombo

 

 

     

 

O país precisa urgentemente de iniciativas do governo para revitalizar a cultura guineense. O Ministério do Turismo e Artesanato em concertação com a Secretaria da Cultura pode desenvolver ações integradas, investindo por exemplo, em eventos culturais que movimentam milhões em dinheiro, trazendo renda, lazer e divulgação do potencial turístico do país, além de permitir o crescimento econômico para o mesmo. Como por exemplo, o Festival Baía das Gatas em Cabo Verde.

 

É necessário empenho, estabilidade política, união, força de vontade, planos estratégicos, entre outras tantas ações, que cansamos de alertar, mas que não vemos quase nada acontecer.

É um grande desafio para todos nós, e principalmente para o governo, que é o detentor da responsabilidade pública do desenvolvimento da Guiné. Isso porque muitas vezes vemos pelo mundo que os investimentos canalizados para alguns países geram um desenvolvimento concentrado nas mãos de poucos, o que não deve acontecer, pois é a maior parte da população que deve ser beneficiada com quaisquer que sejam as atividades econômicas desenvolvidas. Deve-se inicialmente analisar e identificar todos os recursos turísticos culturais disponíveis no país e planejar adequadamente a promoção do turismo, já que as grandes consequências que um turismo mal planejado pode trazer, como por exemplo tráfico de drogas, prostituição, destruição de patrimônio histórico e cultural são fatos que não queremos ver crescer na Guiné-Bissau.

 

Agora me questiono: o que é que os diversos governos da Guiné fizeram ao longo  destes 36 anos de independência para o turismo nacional?

 

Os programas de governação (na área do Turismo) dos sucessivos governos, durante vários anos, foram erróneos, não tendo possibilitado incentivos suficientes ao turismo. Nada mudou na Guiné em relação ao turismo nos últimos anos, pelo contrário, a situação está pior. Não se esqueçam, senhores governantes, que os investimentos devem ser feitos em vários âmbitos, mas lembrar também das infra-estruturas, visto que o turismo é uma atividade econômica e social que promoverá e favorecerá não apenas a economia guineense, como irá melhorar o nível de vida das populações, gerando emprego e diminuindo as desigualdades sociais existentes no nosso país.

O governo guineense deve preocupar-se com políticas de turismo com investimentos nos setores da saúde, educação, cultura, e não ser ambicioso, com apenas discursos políticos e sim mostrar mais resultados, que é disso que o povo guineense precisa e quer ver.

Para finalizar, é importante chamar atenção do nosso governo: compreendemos que os cargos políticos podem ser ocupados por pessoas nas diferentes áreas de formação. Mas os cargos técnicos e profissionais, não devem ser ocupados por amadores que só fazem atrasar o andamento do planejamento estratégico. Lugar de mecânico é nas oficinas, dos padeiros nas padarias, dos professores nas escolas, dos médicos nos hospitais e dos turismólogos nas equipes do Ministério do Turismo construindo planos e projetos estratégicos para o desenvolvimento do turismo nacional.


ESPAÇO PARA COMENTÁRIOS

VAMOS CONTINUAR A TRABALHAR!

Projecto Guiné-Bissau: CONTRIBUTO

www.didinho.org