TURISMO MAL PLANEJADO É INDÚSTRIA ALIMENTADA PELA POBREZA

Planejar é a ação que tem como objetivo produzir um ou mais futuros almejados. Assim, para planejar é fundamental que sejam definidas políticas e processos de implementação de materiais e a metodologia que será utilizada, bem como seus respectivos prazos. Segundo a Organização Mundial do Turismo (OMT), planejar é organizar o futuro de forma a atingir certos objetivos. O planejamento oferece um guia para a tomada de decisões para ações futuras oportunas.

Tendo em vista que o Turismo é uma atividade dinâmica, que possibilita a geração de emprego e renda onde quer que aconteça e se instale, ele é esperado ansiosamente por residentes de lugares com elevado potencial turístico, como é o caso da Guiné-Bissau. Mas, é importante lembrar que o turismo necessita ser bem planejado já que ele acaba envolvendo os mais diversos agentes sociais e permite a participação da comunidade nesse processo.

Para se ter um planejamento Turístico adequado, é necessário considerar os atrativos do país, como as belezas naturais, os elementos culturais e institucionais, tudo isso associado a uma infra-estrutura apropriada. Além disso, deve-se no ato de planejar, avaliar os possíveis impactos que a chegada do Turismo na Guiné-Bissau pode trazer para o meio ambiente e para a comunidade. É fundamental a preocupação com um planejamento turístico bem elaborado, pois o turismo atua como um setor que coloca cara a cara as diferenças do mundo globalizado. Diante disso, percebe-se que esse processo pode trazer consequências positivas ou negativas, dependendo se o planejamento turístico foi realizado de forma adequada ou não.

A Guiné-Bissau, assim como outros países do terceiro mundo, enfrenta e convive com problemas de diversa ordem, sejam eles de ordem política, econômica ou social. Por vezes, a população busca saídas para poder resolver tais problemas e suprir suas necessidades básicas e, uma atividade turística mal elaborada, mal executada e mal avaliada acaba fazendo com que estas soluções sejam buscadas dentro das consequências de um mau planejamento turístico.

As consequências são muitas. Pode-se citar: impacto ao meio ambiente, com destruição insustentável da flora e fauna do país, poluição, degradação do patrimônio histórico e cultural bem como impacto na população, como por exemplo, o surgimento e propagação do turismo sexual infantil.

O turismo sexual infantil é atualmente uma das maiores preocupações para vários países com alto potencial turístico no mundo devido a sua facilidade de manifestação em grande escala.

A prostituição “turística” atinge muitos países. Segundo uma pesquisa do Unicef, 70% dos delitos sexuais contra menores no Quénia são cometidos por estrangeiros. Como acontece no México, Bangkok (Tailândia), Rio de Janeiro (Brasil), Bali (Indonésia), Camboja, as vítimas são geralmente meninas, em situação de pobreza e miséria abaixo dos 18 anos. Outros, ainda, preferem crianças com menos de 12 anos.

Não podemos permitir que as crianças do nosso país sejam vítimas desse processo, sendo usadas por turistas que se aproveitam do seu desamparo e carência econômica com a falsa intenção de que estão contribuindo para melhorar a situação econômica da população local.

É por este motivo que este artigo objetiva estimular a implantação do turismo na Guiné-Bissau, não se esquecendo de considerar o planejamento correto, para evitar que a situação de turismo sexual chegue ao nosso país. Diante disso, chama-se a atenção ao Ministério do Turismo e Artesanato Nacional, para a imagem colocada em seu site que expõe uma garota seminua e que nos leva a refletir:

· O que o Ministério do Turismo Nacional está transmitindo com essa imagem: Cultura ou incentivo do turismo sexual?

A contribuição que pretende ser dada ao nosso país com este artigo é de um estímulo a um planejamento saudável, justo e transparente. Concorda-se em fazer críticas e aplaudir o sucesso, e pensar, elaborar e reformular as melhores soluções para a Guiné-Bissau, dando um passo inicial para tentar resolver os problemas, evitando-se novos ou adiando os já existentes.

A imagem colocada no site do Ministério do Turismo não condiz com os propósitos que lutamos para tornar o país um atrativo turístico. Ela pode querer transmitir a cultura local, mas, infelizmente, estamos num mundo que apropria esta imagem e faz dela um instrumento de incentivo a práticas turísticas erradas. Por isso, espera-se que o Ministério entenda a mensagem e a preocupação que este artigo tenta transmitir, e que retire essa Imagem da garota seminua no site com a máxima urgência, para que os atrativos turísticos que se pretende explorar não sejam as crianças ou mulheres e sim os verdadeiros potenciais que o nosso país possui, que pode atrair pessoas do mundo inteiro.

Reconhece-se o trabalho e esforço feitos pela equipe do Ministério do Turismo e Artesanato com a criação desse site que permite que a população tenha acesso a diversas informações sobre a nossa cultura e potencial turístico. Passaram muitos Ministros e Secretários de Estado no mesmo Ministério sem uma visão ampla e perspicaz sobre turismo e sem iniciativas e criatividade. E, como coordenador da secção do turismo no Guiné-Bissau: CONTRIBUTO, parabenizo a todos pelo trabalho e pela iniciativa desse site dedicado ao turismo nacional.

A vida é um grande desafio. Temos que permanecer sempre lutando em defesa de querer fazer o melhor para o nosso sofrido povo. Quando nos deparamos com a realidade do nosso país, podemos nos sentir desestimulados e desgastados, achando que essa realidade nunca irá mudar. Mudar é difícil, mas é possível, já dizia Paulo Freire. Todos nós, guineenses, temos que defender os verdadeiros interesses do nosso país, para melhorar a vida do povo guineense.

A Guiné Precisa de estímulos para o seu desenvolvimento, e que desses estímulos possam sair lutas concretas, verdadeiras ações de transformação. Devemos continuar mostrando o potencial que este país tem para crescer, se desenvolver, pois esta nossa pátria custou e ainda está custando muitas vidas. Assim, não devemos nos preocupar se na guerra vamos sair feridos, pois somos capazes de curar as nossas próprias feridas e juntar mais uma vez a nossa esperança, armarmo-nos de novo e voltarmos à batalha. Nunca devemos ter medo de lutar. Este país precisa crescer e para que isso ocorra, somente os filhos deste país são capazes de transformá-lo num lugar digno, justo, livre e transparente onde todos os guineenses possam sentir-se felizes. Isso deve ser a verdadeira razão da nossa luta, da luta dos nossos governantes e de cada filho desse país. E essa é a verdadeira ideologia de Amilcar Cabral.

“Na medida em que entendermos que a vida só nos leva a situações construídas por nós, passaremos a considerar que mudar a realidade só é possível quando começarmos pela nossa própria transformação interior”.

VAMOS CONTINUAR A TRABALHAR!

Projecto Guiné-Bissau: CONTRIBUTO

www.didinho.org