Uma carta à juventude
Edson Incopté 17.03.2009 É hoje consensual que a juventude Guineense não só na Guiné-Bissau mas também na diáspora encontra-se mais acordada para os problemas da nossa terra, isso comparativamente a alguns anos atrás. A prova cabal disso são as muitas associações de jovens que se encontram por esse mundo virtual, não se limitando só a associações de estudantes. Existem associações que a cada dia que passa se estão a superiorizar ao mundo virtual e a entrar em acções concretas do mundo real. Tal como já sucede com a Associação para o Ensino Básico Elementar (www.ebebg.org) fundada por Carolino Tomás Cabral, estudante de Direito em Itália. Associação que desde 2006 tem vindo a realizar actividades que considera pertinentes no Ensino Básico na Guiné-Bissau. Outra prova desse facto são os múltiplos trabalhos que têm vindo a ser realizados pelos músicos da nova geração na Guiné-Bissau e fora dela. Jovens que se estão a revelar, cheios de talento e, para sustentar todo esse talento, carregam um patriotismo notável no peito. É caso para dar os parabéns ao enorme trabalho desenvolvido no alerta e consciencialização do povo Guineense, mesmo com todas as dificuldades conhecidas. Contudo, não deixa de ser também consensual que ainda existe uma grande maioria que dorme à sombra da bananeira ou da mangueira. Aqueles que todos os dias enchem a boca para dizer: Guiné-Bissau o meu orgulho, tenho orgulho em ser Guineense, eu amo a Guiné-Bissau. Não questiono nem duvido de nenhuma afirmação nesse sentido, simplesmente considero que é altura de se efectuar mudanças nessas afirmações. Deixar de dizer só Guiné-Bissau o meu orgulho, mas também dizer Guiné-Bissau o meu desafio. Deixar de dizer, unicamente, tenho orgulho em ser Guineense e dizer tenho um compromisso como Guineense. Parar de afirmar somente, eu amo a Guiné-Bissau e passar a afirmar eu devo à Guiné-Bissau. É altura de deixar MTV por 15 minutos e ver o Repórter África, nem que seja para saber se existe alguma novidade para os meus irmãos. É altura de aqueles que estão na Guiné largarem os copos de caju e esquecerem a ilusória Europa, sempre com a mesma justificação: não há trabalho. E como não há trabalho é legitimo passar o dia na varanda mais próxima onde se vende caju. Fome, ali nunca passará, considerando que a vendedora nunca se iria esquecer dele na hora do almoço (djanta). E quando a noite lá vem é altura de buscar o caminho para casa e ir saquear a água, que porventura, a mamã andou quilómetros para conseguir. Depois do banho tomado é hora de sair à procura delas. Elas que se habituaram a esperar que o macho tire do bolso furado a nota para a discoteca. A procura não dura muito, pois rapidamente se encontra uma disponível a ouvir um número incontável de mentiras. E na aurora do dia seguinte, se cedo conseguir estar de pé, a rotina é retomada, caso contrário fica-se pelo colchão, geralmente estendido no chão até que o raiar do sol seja mais forte que o cerar dos olhos. A realidade é muitas vezes tão dura quanto nós a queremos pintar! Como dizem os mais velhos da terra “ Si bu sinta, sinta na sinta ku bó” e existem muitos jovens Guineenses sentados à espera do nada, tomados por uma falta de consciência inexplicável. Completamente sem planos ou sonhos, apenas vivendo um dia de cada vez e obedecendo a uma preguiça sem tamanho. Esquecendo a cada copo de caju ou warga que o sonho é maior do que isso, que o dever superioriza qualquer vontade ou preguiça; que o compromisso com o país é uma arma saudável que faz frente a qualquer poder intolerável. Portanto, meus irmãos e minhas irmãs, com todo este falatório quero dizer coisas muito simples, tais como recuperar a vontade de fazer pelo país fazendo por si. Tais como o desejo de acordar os meus irmãos mais adormecidos para que percebam que o mundo está a ir por um caminho muito pouco saudável. Não é só o nosso país, não! É mesmo o mundo inteiro. Basta verificarmos como hoje se tornou banal tirar a vida a uma pessoa; atentados que vitimizam inocentes; pais que violam filhos; filhos que matam pais; a criminalidade que cresce a cada dia; a desigualdade social que ganha níveis assombrosos; a concernência do aumento da corrupção e da ambição desmedida do homem, etc. (Os malvados nascem e fazem-se em todo o lado e cabe a cada um construir quem está ao seu lado e vice-versa). Logo, meus irmãos, é preciso agir, seja em que parte do mundo for! Vamos fazê-lo, dentro do nosso círculo de amigos, dentro da nossa família, dentro da comunidade onde nos encontramos inseridos. Pois só assim poderemos regenerar essa mentalidade tão corrompida que se está a instalar no mundo e lutar também para que o nosso país melhore. Principalmente nós jovens Guineenses que somos conhecidos no estrangeiro por sermos muito unidos. À juventude Guineense residente na Guiné-Bissau importa convencer de que o caminho está aberto e que nunca se deixe vergar pelo caminho mais fácil. Pois as dificuldades muitas vezes dignificam a conquista. E quanto aos que acham que o desenvolvimento do país não é tarefa deles, pois pela Europa tencionam continuar, então que comecem a questionar a essência de suas vidas e a perguntar quem realmente são. Para concluir, quero salientar que, antes de criticar o meu irmão vejo-me ao espelho. Portanto, antes que alguém me diga, vou já referindo que considero que nada tenho feito de especial para a Guiné-Bissau, nem de perto! Mas é com muita vontade que todos os dias vou resgatando a esperança ontem perdida no sentido de chamar a atenção de alguém que tenha mais capacidade que eu. E se a consciencialização for o caminho, deixo aqui a minha parte. Estamos juntos! VAMOS CONTINUAR A TRABALHAR! Associação Guiné-Bissau CONTRIBUTO |