Uma Guerra étnica criada pelos nossos políticos
Por:
Edson Incopté
edson_incopte@hotmail.com
08.09.2008
Cansei…
estou farto de ouvir pessoas que julgam conhecer problemas da Guiné-Bissau
colocarem as culpas de muitas falhas do país na multiplicidade étnica do mesmo.
Não é a primeira vez que ouço falar do assunto mas, quando ontem num “bate boca”
com o meu tio (fervoroso apoiante do PAIGC) ele me disse que para Guiné-Bissau
estar no estado em que está, muito contribuiu o facto de o país ter diferentes
etnias e consequentemente, muitas culturas e formas de ser e de estar
diferentes. O que resulta de rivalidade entre etnias, e num país tão pequeno só
podia trazer maus resultados. Julguei inacreditável estar a ouvir aquilo da boca
de uma pessoa com quem aprendi e muito, sobre a nossa terra.
Pois bem…
não deixa de ser verdade que o facto de existirem muitas etnias na Guiné levou
com que se criassem formas de estar e de ser muito diferenciadas o que originou
a existência de culturas diferentes. Mas isso não é positivo? No meu entender
esse facto é muito positivo!
Primeiro,
não conheço nenhum país no mundo com uma maior variedade de culturas que o
nosso! Em nenhuma outra parte do mundo se falam tantas línguas e o povo se
expressa de forma tão distinta e ao mesmo tempo tão adjacentes. Esse facto fez
do povo Guineense, provavelmente, um dos povos mais tolerantes em comparação com
outros povos em todo o mundo! Talvez isso explique o facto de o nosso país ser
tão permissivo, onde entra tudo e todos.
Num país
tão pequeno onde o tambor e a arte física dos
Djidius (Fulas) contrastam com o
barulho dos guizos dos N’aies
cheios de cinza (Balantas) difícil seria as culturas não andarem de mãos dadas.
Quando o mundo relata esses acontecimentos, designa-os como cultura Guineense e
não Fula ou Balanta! No mercado de Bandim a manga dos Papeis encara-se
frequentemente com a laranja do leste Guineense dos Mandingas, mas o produto é
Guineense e alimenta Mandjacos, Bijagós e não só! Então onde está a rivalidade
entre etnias? Ela deve estar na cabeça dos que dela se querem aproveitar.
Segundo,
todos esses factos quando bem aproveitados são uma mina de ouro no que diz
respeito ao turismo do país! Mas quem aposta no turismo, quando o mundo ainda
tem memo de nós!? Uma das obras realizadas pelo 7 de Junho foi deixar o mundo
com sérios receios quando está em questão pisar o solo Guineense! Pelo menos
pessoas de boas intenções. O potencial turístico da nossa terra foi gravemente
abatido pela Guerra civil de 1998. Aliás, a Guerra civil de 1998 conseguiu
colocar para fora do país, filhos e muitos amigos da terra e o mais irónico é
que aquele que mais se desejava colocar fora acabou por lá voltar.
Terceiro e
o facto que mais me faz discordar da opinião do meu tio: A rivalidade de que se
fala está longe de chegar ao povo! Esta está a ser criada por alguns manhosos
que o nosso povo tem conhecido, como é o caso de Kumba Yalá e não só! Utilizam
essa suposta “guerra” étnica para confundir o povo menos educado.
Passo a
explicar esse facto que me faz discordar absolutamente do meu tio: Durante a
Guerra de 7 de Junho percorri a Guiné-Bissau como nunca antes tinha feito. Andei
de Antula a Nhacra, de Nhacra a Prábis, Prábis a Varela, Varela a Biombo, Biombo
a Ponta de Pedra, de lá a Geta, de Geta a Canchungo passando por Caió,
regressando a Safim e por fim Bissau nandó. Bem… corri muito, não só para fugir
às balas mas também, à procura de melhor local, melhor dizendo, onde houvesse
menos fome. (Que graças a Deus, digo de boca cheia, nuca passei durante a
Guerra, tudo graças a uma coisa chamada SOLIDARIEDADE que o povo Guineense tem e
muito) Nessa caminhada toda, embora eu fosse pequeno, já era bastante visível a
harmonia entre os povos por onde ia passando. Vi Balantas, Mancanhas e Fulas em
Canchungo, recebidos em casas de Mandjacos como se de um deles se tratasse. Na
fuga para Safim estive com centenas de pessoas num camião de um senhor de etnia
Mandinga que foi apanhando pelo caminho as pessoas que conseguia. Bem… não
perguntava a cada pessoa a sua etnia antes de subir no camião, mas duma coisa
tenho a certeza, havia dezenas de etnias naquele camião de um proprietário
Mandinga!
Não
percebo como pode passar pela cabeça de alguém que conhece bem o nosso país que
o facto de existirem muitas etnias é uma influência negativa ao desenvolvimento
do país. Logo naquele país onde a varanda dos Gã Sanhá é colada com a varanda
dos Batista; onde se tem que pisar na varando dos Silva para se chegar à casa
dos Cassamá. Aquela terra onde os Embalós morram há anos em casa dos Brandão sem
pagar a renda. Alguém pode insinuar uma rivalidade em tais condições? Não me
parece que isso seja possível! Os nossos políticos é que querem fazer disso uma
forma de arrancar votos da população.
Como disse
e bem o Mano Zeca: “Há coisa que não naquele país não podemos dizer que não
existe porque nascemos e vimos serem praticadas” mas também tem coisas que não
têm sentido serem ditas.
*Garandi, i kata djundado oredja, ma i ta considjado.
Zito – Príncipe do Mundo
(Um aparte:)
Aproveitando o momento, já
que vem ai eleições, para fazer um apelo/conselho aos nossos músicos
principalmente aos mais experientes.
Por amor à Guiné-Bissau, parem
de ajudar esses políticos de meia tigela a enganar o povo. Parem de fazer
campanha por eles, porque ninguém mais do que os senhores sabem que quando eles
ganham as eleições nada muda, não cumprem nada do que prometem. Nem as condições
para os senhores músicos trabalharem melhoram. Até porque é sabido que no final
de campanha nem a vocês que os ajudaram na campanha pagam aquilo que lhes
prometeram.
Se querem todos um país melhor,
então façam trabalho sério, digno de ser apreciado pelo povo Guineense e não
andem a brincar de meninos de campanha mudando de candidato como quem muda de
roupa. Até porque os senhores já são bem grandinhos e sabem que se ontem fizeram
campanha para o PRS, hoje fazem para o PAIGC e se amanhã fizerem para o PUSD o
povo começa a duvidar da vossa credibilidade como Homens e artistas.
Dar a cara por alguém é um assunto sério e que
exige dignidade de ambas as partes.
Talvez o melhor mesmo seja apoiar os jovens músicos
da nova geração, porque esses sim parecem que além de terem garagem e muito
talento também são homens com capacidade para servir de exemplos as nossas
crianças.
Vejamos um exemplo disso:
YouTube - Zito - Principe do mundo - Nunde Ku No Na Bai?