Um olhar sobre o período 2003
- 2007
GOLPE DE ESTADO
LEVADO A CABO COM POMPA E CIRCUNSTÂNCIA, ACOMPANHADO PELA TELEVISÃO EM 2004
Eduardo Monteiro
eemonteiro@hotmail.com
05.10.2010
O
General Veríssimo Seabra, depôs sua excelência o Presidente da República,
Kumba Yala, de forma cerimonial em pleno Estado-Maior, na presença das
chefias militares todos em traje de gala.
É verdade que a
quarta República cai de forma sui generis, acompanhada pela Televisão.
O Presidente da
República é deposto pelos militares e com alguma cumplicidade de políticos,
sublinhamos que, ocorreu sem tiros.
É criado o 2º
Governo de Transição, desta vez dirigido pelo ex-ministro do Interior, Artur
sanha, também logo de seguida é nomeado o novo Presidente da República de
Transição, o Sr. Henrique Rosa.
Reiniciamos a
caminhada da 2ªtransição para reorganizar as eleições legislativas. O
ex-ministro que deixou péssimas recordações, como Ministro do Interior, por
ter cometido várias prisões arbitrárias a mando do seu Presidente e do
Primeiro-Ministro, sem esquecer que pesou sobre ele o indício de ter sido
autor moral do homicídio (de uma sua amiga), relacionado com o caso Ansumane
Mané, de que incompreensivelmente, até hoje não foi acusado (o histórico
endémico do Ministério Público). Porém, enquanto Primeiro-ministro, parece
ter tido um bom desempenho. Exerceu perfeitamente e conseguiu articular com
outros membros do seu governo e a comunidade internacional; organizou as
eleições legislativas, com algum sinal de civismo.
Eleições ganhas
pelo PAIGC, que obteve uma maioria relativa, passando a Assembleia Nacional
Popular a configurar-se com os principais Partidos: PAIGC, PRS, PSUD e um
outro pequeno Partido sem expressão.
O PAIGC forma
Governo. Não tendo maioria qualificada, teve que negociar com os partidos de
oposição para entendimentos ou eventual coligação por necessidade de criar
estabilidade governativa e fazer passar diplomas, Orçamento Geral de Estado
e todas as decisões que pendiam da maioria qualificada, bem como, para
propiciar um clima para governabilidade. Fê-lo, tanto com o PRS quanto com o
PUSD, sendo que os resultados não foram satisfatórios.
Criou com o PUSD
posições posteriormente de confronto, nomeadamente, com o Líder do PUSD a
acusar o Primeiro-ministro, Carlos Gomes Jr de o ter defraudado com
promessas que não cumpriu.
Carlos Gomes Jr,
recebe um País completamente desmontado, dilacerado, paupérrimo e
desestruturado, deixado pela 4ª República.
Um País no fundo
do poço, abismo total, com salários largos meses ou anos em atraso; uma
administração de desmando, simplesmente caótica. Serviços de Alfandegas
completamente anarquizado.
O governo do
PAIGC dirigido pelo seu presidente e Primeiro-Ministro Carlos Gomes Jr.,
coabitando algum tempo com o Presidente da República de transição Sr.
Henrique Rosa, por sinal, um dos melhores Presidentes que o país já
conheceu, pode se dizer que foi a honra e o orgulho de o ter, o ver no
exercício das suas funções, foi por pouco tempo, mas, muito positivo o seu
desempenho. Uma representação sem sobressaltos, trata-se de uma figura
equilibrada muito humilde como pessoa. O cidadão guineense sentiu quão nos
dignificava a sua magistratura.
Teve com o
governo do Primeiro-ministro Carlos Gomes Jr, o relacionamento de Estado,
institucional e a cooperação entre órgãos de Soberania à vista de todos,
normal num Estado de Direito Democrático.
Pois, foi com
grande surpresa que nas últimas eleições Presidenciais, foi acusado por dois
candidatos que estiveram na mesma corrida presidencial de não ser guineense
e por isso, um estrangeiro.
Aqueles que Ho
Chi Minh chamava “ocos heróis” e Mao Tse-Tung, “tigres de papel.”
O governo eleito
funcionou, foi resolvendo de forma muito lenta os graves problemas que
herdou, dado o estado catastrófico em que recebeu o país, a falta de
recursos e o estado de descredibilização em que o país se encontrava.
Impunha criar prioridades e a primeira era intentar Junto dos parceiros de
desenvolvimento uma nova imagem, tentar a restauração da credibilidade do
país o que sobre maneira logrou-se paulatinamente com apenas alguns
resultados.
Tais resultados
práticos pareciam andar em câmara lenta. Todavia, ainda assim, diga-se de
passagem, conseguiu-se resolver numerosos problemas de várias ordens.
REGRESSO
DE JOÃO BERNARDO VIEIRA 2005
Regresso
contundente do Ex Presidente João Bernardo Vieira, com as cumplicidades das
chefias militares, bem como, altos dirigentes políticos, afectos a Nino
Vieira, tudo fizeram na calada, tanto na Guiné-bissau, em Portugal e Guiné
Conakry, com total apoio do malogrado Presidente Lassana Conté e
envolvimentos de muitos dos seus saudosistas que, respaldaram abertamente o
seu regresso, envolvendo-se mais tarde directamente na sua campanha
politica.
Uma entrada
controversa, uma clara ingerência da República da Guiné Conakry, na nossa
Soberania, pois Nino Vieira regressou num helicóptero militar deste país
vizinho, que sobrevoou o espaço aéreo nacional e aterrou no Estádio nacional
24 de Setembro, sem autorização oficial do Estado, mas, com total
cumplicidades das chefias dos estados Maiores de Exercito e Marinha.
Sub-repticiamente acordados.
Desde então
voltamos a conhecer grandes movimentações nos bastidores, o respaldo a luta
para a sua recandidatura, as eleições presidenciais. Geradora das grandes
controversas e as interpretações constitucionais com a atitude manipulada e
instrumentalizada do Supremo Tribunal. Acabando por ser autorizada a sua
candidatura e como era óbvio, o Dr. Kumba Yala, que se encontrava nas mesmas
circunstâncias, também não perdeu tempo.
Razão pela qual
nenhum cidadão atento acredita nas Instituições Judiciais do país, antes
pelo contrário, tem medo.
Ora a 1ª volta
das eleições presidências de 19 de Julho ocorre num clima tenso e os
resultados obtidos ditam uma 2ª volta, que culminou com a eleição de Nino
vieira ao cargo de Presidente da República. Apresar de movimentações
contestatárias da rua, toma posse num clima de contestação e o país na
eminência de explodir.
O General João
Bernardo Vieira, habilmente consegue acordos com os dois candidatos
derrotados na primeira volta; acordos com Kumba Yala e Francisco Fadul,
tornando-os seus aliados e apoiantes. Pressupôs-se que os eleitores destes
últimos passariam para o lado do General Nino Vieira. Na prática, não foi
tão linear como se pensou, alguns militantes agiram com dignidade, já que,
os dirigentes trocaram imediatamente de camisolas a troco de contrapartidas,
mas a maioria dos militantes votou em consciência e não seguiu os seus
líderes.
Malam Bacai,
partiu para a batalha final que resultou oficialmente na vitória do Nino
Vieira, mas também, sabe-se que foi um dos chefes de Estado-Maior que nessa
madrugada coagiu o Presidente da CNE para forçadamente proclamar a Vitória
de Nino Vieira, tudo para o tempo histórico esclarecer e explicar.
A verdade é que
João Bernardo Vieira, anunciado vencedor das eleições julgadas livres justas
e transparentes, pelos observadores internacionais, diga se de passagem
muitos deles viciados e levianos nestas declarações de livres e
transparentes: quando se trata de eleições africanas.
O General João
Bernardo Vieira, toma posse num ambiente nublado. Para o acto de tomada de
posse todos os convites presidenciais caíram em saco roto, mesmo o
Presidente do Senegal, que havia confirmado, no último instante aconselhado,
também, desmarcou a sua presença. Quase todos delegaram nos seus
embaixadores as suas representações nesse Acto Solene.
De imediato João
Bernardo Vieira, recusa a coabitação com o então Primeiro-ministro, C. Gomes
Jr, os políticos e seus apoiantes movimentam-se e criam um projecto do novo
governo.
O então
Primeiro-ministro, Carlos Gomes Jr, é demitido e consequentemente, cai o
governo. É então, surpreendentemente, nomeado um governo de afecto
presidencial, dirigido por Aristides Gomes, com as participações do PRS,
PUSD e outros apoiantes directos de Nino vieira, casos de Hélder Proença,
Conduto de Pina e Nado Mandinga, Baciro Dabó, a ocuparem os cargos da
Defesa, do Turismo, das Finanças e do Interior, respectivamente.
Instala-se um
governo que se autoproclamou o mais competente governo até à data no país.
Um governo de perfil e obediência total ao Presidente.
O General João
Bernardo Vieira, inicialmente dando sinais de querer corrigir algumas
situações erradas, acabou, como sempre, por colocar os seus interesses,
compromissos e a sua forma de pressão sobre a coisa pública. O tesouro
público conheceu sistematicamente a sua intromissão e sucessivas
interferências na área da governação, confundindo completamente as suas
competências entre os dois órgãos de soberania. Interferiu vezes sem conta
no tesouro público sempre com o pretexto de viagens quer de tratamento, como
visitas ao estrangeiros e outras razões de Estado para justificar o que se
pode dizer injustificável num Estado normal. Fez tábua rasa a qualquer
possibilidade do próprio governo levar a cabo uma política macroeconómica e
reajustamento estrutural tal como havia anunciado.
Eduardo Monteiro