VITAL INCOPTÉ, o fim de uma estrela

 

João A. Conduto Júnior *

 

jcjr85@hotmail.com

 

Lisboa, Agosto de 2009

 

 

 

Engº. João CondutoUm olhar brilhante e entusiasta emanavam da cara do Vital no dia em que trocámos as primeiras palavras, na diáspora, portanto fora da nossa terra. Eu já tinha, algumas vezes, reparado naquela figura cuidada e de gestos comedidos. Em Lisboa, numa das conferências em que tomei parte como orador, na arena universitária, não pude deixar de verificar a atenção e o regozijo, puramente académicos que essa pessoa exaltava, numa espécie de fruição pródiga do ambiente do conhecimento. Porque era isso que o fascinava, o conhecimento. No final cumprimentou-me com gentileza astuta e serena calma, tendo enunciado: Vital Pereira Incopté – nome familiar para mim, assim porque o irmão mais velho dele era amigo e colega do meu irmão também mais velho, ambos tinham estudado na Universidade onde também o Vital viria a formar-se.

 

O destino tinha-me colocado perante uma figura sintomaticamente brilhante. Entusiasta do conhecimento, reflexivo nos pormenores e disciplinado nas regras. Afinal condição elementar de progresso! A ordem é condição de progresso. Ele sabia-o bem até porque era uma linha de pensamento que partilhávamos: a ordem é condição de progresso! Qual ingenuidade! Quem disse que era ingenuidade a convicção que tínhamos, e ainda temos, nós e um punhado de homens e mulheres avisados, de que na Guiné era possível estabelecer a ordem e construir progresso tranquilo.

 

Na flor da idade, Vital Incopté foi assassinado com requinte de barbárie, a 8 de Agosto de 2009, na sua terra que tanto amava e onde esperava poder trabalhar, viver e morrer em paz. E assim assistimos mais uma vez, ao fim de uma estrela.

 

A nossa tragédia como povo é também feita de tragédia de cada um de nós. As almas de homens e de mulheres, de crianças e de velhos que foram vítimas da caminhada atribulada e medonha que tem sido a nossa como povo, reclamam de nós um “cessar-fogo”, e devem forçar-nos a lembrar, todos os dias, que só a verdade e o trabalho nos libertarão. Onde quer que se encontrem, os homens bons têm que tomar o pulso da história.

 

Com o regresso ao país para uma nova vida, Vital Incopté teria assim iniciando com tranquilidade, um caminho de honra inabalável, sabedoria calma, serviço à comunidade. Um caminho que o viria a conduzir à tragédia absoluta.

 

Sempre a pensar, sempre a estudar, de grau em grau. Morreu quando estava a preparar uma tese universitária.

 

 

* Eng. Químico e Mestre em Economia

 

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