A
privatização da EAGB – Electricidade e Águas da Guiné-Bissau é, no meu entender
e, certamente, no entender de muita gente, algo imperativo! Porém, é importante
começar este artigo salientando que a discussão em torno desta questão não
poderia prescindir de tantas outras quanto à situação actual do país. Isto é,
não só pedir uma privatização que a guerra civil de 1998 adiou, mas também,
saber argumentar e mostrar o porquê da EAGB não conseguir satisfazer as
necessidades a que se propôs. Facto pelo qual a sua privatização é hoje mais do
que necessária.
A EAGB é hoje
uma empresa desadaptada às necessidades da actual sociedade Guineense.
Desadaptada a todos os níveis. Desde infra-estruturas até aos equipamentos
administrativos. Aliás, se existe naquela empresa algo relativamente
actualizado, provavelmente, teremos de dar graças à empresa francesa EDF –
Electricité de France. Empresa que geriu a EAGB até meados de 1997. Mas
talvez a frase “dar graças” não seja a melhor, pois a gestão da empresa
francesa não nos custou pouco. Teve elevados custos graças às comissões de
gestão. Não será difícil deduzir que esses elevados custos de gestão
contribuíram para o já longo desmaio da EAGB.
Recentemente, a
Líbia surgiu em poses de heroína como se fosse a ponte de salvação para a
EAGB e para os Guineenses.
“Nós não nos sentimos bem
quando estamos a viver no luxo e os nossos irmãos da Guiné-Bissau na
escuridão”, palavras do Embaixador Plenipotenciário da Líbia na
Guiné-Bissau,
Nazil Abdul Cadry no acto da
entrega da ajuda. Não vejo estas palavras como humilhação, porque
simplesmente não tenho um orgulho besta. Mas como todos sabem, a verdade por
vezes é bastante dolorosa.
Mas pergunto:
não existe mesmo mais nenhuma alternativa, ou não se quer considerá-la?
Será que
estamos condenados a viver eternamente de esmolas?
Renego esta
postura de pedinte, ainda mais, quando existem soluções que podem ser
bastante viáveis. E exorto o Estado da Guiné-Bissau a perceber que não é com
dez mil litros de gasóleo, diários, vindos da Líbia, que conseguirá reanimar
a EAGB. Senão, vejamos: e quando terminar o período que a Líbia estabeleceu,
quatro meses, como será? O país volta a ficar na escuridão?!
Meus caros, a
estabilidade de uma empresa é algo que normalmente se consegue com um
investimento a médio/longo prazo e a Líbia certamente não custeará luz e
água à cidade de Bissau por um longo período de tempo. E, se me permitem um
aparte, não podemos depositar as nossas confianças num homem imprevisível
que a ambição das grandes potências mundiais tirou rapidamente o rótulo de
malfeitor para lhe colocar um que diz: o salvador. Fechando os olhos ao
passado.
A EAGB precisa
de um investimento profundo e de uma reestruturação que talvez só com a
privatização é capaz de sei feito. Digo isso porque mesmo a nível de pessoal
aquela empresa deixa bastante a desejar. – É fácil dizer “não há luz nem
água na cidade de Bissau porque o governo não quer”, como já ouvi por aí.
Difícil é explicar porque é que não falta luz nem água nas casas dos
funcionários, dos seus familiares e das suas múltiplas amantes, falando de
uma forma geral é claro! Alguns me dirão que estou a entrar no campo
pessoal. Mas não. Porque coisa pública é coisa pública! Não brinquemos…
Como pode haver
sustentabilidade/rentabilidade numa empresa quando as pessoas não pagam os
serviços que lhes são prestados? E para piorar a situação, aqueles que têm
água em suas casas, sem pagar, vendem essa mesma água à vizinhança
obrigando-lhes a pagar a torneira. À boa maneira Guineense, paga bumba.
Até existem locais onde a água é paga por cada alguidar que se enche. Que
triste realidade a nossa…
Meus irmãos, a
EAGB não pode prestar um serviço eficaz às populações quando se trata, em
certo ponto, de uma empresa que parou no tempo! Muitas infra-estruturas
remontam do tempo colonial. Aquelas que a gestão francesa tentou reabilitar,
a guerra civil de 1998 tratou de as travar e ficaram por fazer. São poucos
os investimentos que se fizeram nas infra-estruturas desde final da referida
guerra até então. Caso esteja enganado, alguém que me elucide do contrario.
Mas, desde já friso que não é preciso andar muito pela cidade de Bissau para
ver casas com contadores/ligações, que são verdadeiros perigos para a
sociedade. Os postes de energia eléctrica são outro perigo de morte. Basta
chover para ninguém ter a coragem de tocar num poste de electricidade.
Quantas
crianças não morreram electrocutadas depois das chuvas, por inocentemente
brincarem junto aos postes de electricidade?! A quem se pediu explicações? É
isso mesmo, ao famoso Zé Ninguém…
A rede de
abastecimento que faz com que a água chegue às casas, deve estar num estado
tal que uma análise mais rigorosa daria a água como imprópria para consumo.
Isso para não falar da necessidade que certamente existe de restaurar todo o
sistema, isto é: captação, tratamento, armazenamento, etc.
Perspectivando
algumas reacções, mesmo acanhadas, sei que alguns dirão que privatizar a
EAGB, nesta altura, seria um erro. Isso na medida em que a sociedade não
dispõe de meios para suportar os custos que uma eventual empresa privada
colocaria para assim cobrir os investimentos que necessariamente teria de
fazer. Em resposta a essa argumentação, digo: – É possível ficar pior do que
está? E mesmo que esse argumento impere, então porque não privatizar parte
da empresa? E digo mais, mesmo em caso de uma privatização total, o Estado
tem o poder de regular os preços consoante a realidade social.
Outros dirão
que a EAGB não é privatizada porque o país não reúne condições de cativar o
investimento estrangeiro, atendendo que os mais prováveis candidatos ao
concurso de privatização da empresa seriam a EDP – Energias de Portugal e a
EF - Electricité de France. A esses não perderei muito tempo a responder,
partindo do princípio que conhecem a realidade. Aliás, termino por aqui este
artigo fazendo-lhes a simples pergunta que o grupo Guineense Torres Gémeos
fez: Afinal ba quim que culpados? (Afinal quem são os culpados?)
Estamos juntos!