A VERDADE: o alcance do seu significado sócio-moral, científico e espiritual

 

                                                                                     

 

 

Por: Mamadu Lamarana Bari

 

mlbarry1@gmail.com

 

Prof. Dr. Mamadu Lamarana Bari

 

14.05.2008

 

 

"Devemos ter ciência que a Verdade não é propriedade de ninguém, de nenhuma raça. Nenhum indivíduo pode reclamar sua exclusividade. A Verdade é a natureza simples de todos os seres..." (Swami Vivekananda - Mestre Indu)

 

O que é a verdade?

 

O alcance do significado desta palavra muitas vezes foge da nossa capacidade de decifrar os nossos atos perante os momentos em que eles são praticados. Esta prática algumas vezes é acompanhada de emoções incontidas ou de autoconfiança. Por exemplo, um emotivo protegendo-se na sua capacidade de transferir para as pessoas a sua aflição temerária de não conseguir gerenciar os conflitos, passa sempre a se considerar vítima de circunstâncias; um ditador, convencido de sempre ser o mais perfeito se encastela protegendo-se de uma bolha de perseguido e passa a mover perseguição para fazer prevalecer a sua visão unilateral sócio-política; um cientista, movido de visão racional considera certo tudo o que é passível de ser comprovado cientificamente.

 

Quantas vezes a "ciência" nos provou por meio de estudos e experimentos "científicos" que certas coisas seriam improváveis e até impossíveis de acontecer e errou?

Se reportarmos no tempo, poderemos não precisar refletir muito sobre esta questão porque segundo as fontes bem informadas, muitas vezes acreditamos em coisas que mais tarde descobrimos serem diferentes daquilo que pensávamos. Por exemplo, na década de 30, um notável físico da época provou por meio de cálculos físicos e matemáticos que era impossível existir televisores  a cores. Nesta mesma ordem de idéias um artigo publicado na revista "The Westing House Engineer" no final da década de 50 onde utilizando-se de todo o conhecimento adquirido até a época e com base em cálculos físicos e matemáticos, foi provado que um computador jamais superaria a impressionante marca de 1MHz de velocidade de processamento. Fatos hoje desmentidos com o avanço da ciência.

Não existe apenas uma verdade, mas sim há verdades conforme a natureza das disciplinas que a estudam: a Filosofia estuda a verdade de diversas formas; a Metafísica se ocupa da natureza da verdade; a Lógica se ocupa da preservação da verdade e a Epistemologia se ocupa do conhecimento da Verdade.

Quando confrontada a verdade no ponto de vista social, costuma-se associa-la a sinceridade. De acordo com Barros (2006), tem-se por hábito associar estas duas palavras a algo edificante e divino, quando nem sempre é assim, isto porque na nossa essência, acompanham a dualidade; o bem e o mal.

Para esta pensadora a Verdade é tudo o que é puro em sua essência, seja bom ou ruim. Enquanto que a Sinceridade é a exteriorização desta verdade, seja boa ou ruim. Evidente que falar a verdade e sermos sinceros tem importância fundamental no processo de nosso aperfeiçoamento moral.

Enfim, cientifica e socialmente falando, chama-se a atenção para a reflexão de Benítez (2006),  “a verdade é que a verdade está em cada um de nós. Dependem de nossas vivências, nosso conhecimento, experiência e bagagem. Cada pessoa possui sua própria verdade, e tudo aquilo em que uma pessoa acredita passa a ser a sua verdade. O que nós não podemos fazer é” parar “no tempo, nos fechar para outras possibilidades e idéias, pois o que hoje acreditamos ser o correto, pode ser provado amanhã o contrário. Na busca intelectual de fatos e verdades, devemos ser honestos com nós mesmos.”

Do ponto de vista filosófico a verdade consiste numa relação de conformidade entre o conhecimento e as coisas consideradas. Mas a verdade não é uma coisa. Pois ela consiste, em julgar que as coisas são o que são na realidade. Segundo Aristóteles, “Dizer que é, o que é, e dizer que não é o que não é, eis a verdade” Talvez possamos com esta definição compreender a diferença entre o pensamento do Ser metafísico de Parmênides e do Ser transcendental (ontológico) de Aristóteles. Para Parmênides o Ser é e não pode não ser, porque ele é sempre presente e nega o passado e como conseqüência o porvir. Deste modo, baseado na verdade Aristotélica e de Parmênides podemos dizer que existem duas espécies de verdades, sendo uma a verdade lógica, isto é, a verdade dos nossos conhecimentos, que consiste na conformidade da nossa inteligência com o objeto, e a verdade ontológica, isto é, a verdade das coisas, que consiste na sua conformidade com a inteligência divina. Podemos, pois, definir a verdade como sendo uma relação de conformidade entre o que o espírito julga, e o que de fato é.

Do ponto de vista espiritual e teísta, de acordo com FADISTA (2006) , o mundo se confronta com as quatro nobres verdades entre elas a Verdade do Sofrimento, que é quando ao ser humano associa-se às quatro fases da vida: o nascimento, a velhice, a doença e a morte, sendo que a esta última fase trata-se de um sacramento que encerra em si o mistério que a só Deus cabe decifrar.

Os cientistas falam da morte e da vida das células animais e vegetais, mas isto apenas explica a transmutação das células e não a transmigração da alma (espírito) do corpo. Em síntese, chama-se assim porque entende-se que à vida envolve-se sempre sentimentos de desejos e de angústia;

A Verdade da Causa do sofrimento, esta verdade está na causa do sofrimento humano por ela se encontrar, segundo o mesmo autor, nos desejos do corpo físico e nas ilusões das paixões mundanas que estão apegadas aos instintos físicos. Por exemplo, o desejo de ter e não conseguir ou até o desejo de não querer ver chegar, mas impossível evitar, ou seja, a morte. Ainda, ele explica que se o desejo que está na raiz de toda a paixão humana, puder ser removido, então extinguir-se-á esta paixão humana e, por conseqüência desaparecerá todo o sofrimento humano. A esta verdade dá-se o nome de a Verdade da Extinção do Sofrimento.

Quanto à última verdade, a Verdade para a Extinção dos Desejos e das Paixões, ela apenas se materializa quando se atinge um estado de tranqüilidade, em que não há desejo nem sofrimento, deve-se disciplinar a mente, de modo a desenvolver a percepção, o pensamento, o comportamento, o meio de vida, o esforço, a atenção e a concentração de forma correta (FADISTA, 2006)

A busca da verdade nos leva à várias reflexões sobre o conhecimento deste nobre sentimento. Os Sufis[1] costumam associar esse conhecimento à fixação e o entendimento do significado dos noventa e nove nomes de Deus, sendo que o centésimo, o conhecimento supremo da VERDADE é facultado apenas àquele que domina o eu pessoal e as impressões dos sentidos, notem bem a denominação àquele no singular, pois só conhecemos uma Pessoa no mundo que teve os atributos divinos de fazer milagres e ressuscitar os mortos – Jesus Cristo. Àquele em quem Deus colocou todo o seu enleio. E só a ele foi dado Alfa e Omega ao mesmo tempo. Nasce-se com Alfa e atinge-se Omega pelo aperfeiçoamento espiritual. Mas esses mesmos Sufis explicam que quem apenas aprendesse e conhecesse os noventa e nove nomes de Deus ganharia o Paraíso. Segundo Buda, esta procura encaminha para a Paz Suprema no Nirvana. Para PINHEIRO (2004), A verdade é a expressão do próprio Deus. Segundo ele, certa feita, perguntaram ao Mestre (Jesus Cristo) o que era a verdade e ele calou-se. Calou-se porque sabia que o homem terrestre não tinha ainda a condição de entender o que ele próprio entendia a respeito do assunto. Portanto, “A verdade é como a luz do sol, que cada um percebe à sua maneira e em intensidade variada. Cada um tem a sua parcela da verdade, que por si mesma transcende os conceitos e opiniões dos homens terrenos”.

Para a Maçonaria a busca constante da verdade é um dos princípios sagrados. Ela é algo que começa com a Iniciação, mas nunca alcança a sua suprema ainda que se percorre todos os caminhos que levam ao amadurecimento do aprendizado, isto é, o alcance dos mais altos graus da Ordem Maçônica. Por isso ela deve ser sempre buscada com o espírito de tolerância.

A maçonaria ensina através de seus símbolos e alegorias que a Verdade é um atributo da Divindade, por isso, só pelo trabalho das asperezas do seu caráter, com base no estudo e meditação profunda, além do uso da moral e da razão, o maçom poderá alcançar a luz e deste se aproximar da Grande Verdade que é o G.: A.: D.: U.:.

Somente pela Verdade a mente do homem é purificada (BLAVASTSKY, 1999.)

Salvador-BA, 28-09-2007

 

[1] Os sábios muçulmanos que estudam a harmonia entre o mundo físico e o mundo espiritual.

 


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