ÁFRICA DEVE CRIAR MELHORES CONDIÇÕES PARA AS SUAS POPULAÇÕES!

 

A fome em África

Por: Fernando Casimiro (Didinho)

17.09.2006

VOZ DO SANGUE  www.zemanel.com

Quando digo África, refiro-me obviamente a todos os países africanos que têm sofrido o efeito da fuga de cérebros, ou simplesmente da deserção da sua força de trabalho.

Abordar este assunto nos dias de hoje, torna-se numa questão lógica, tendo como base de sustentação a problemática da imigração clandestina oriunda de África, com destino à Europa.

A globalização permitiu uma maior aproximação entre os povos, quer no aspecto do relacionamento intercultural quer na redução da distância geográfica através dos recursos tecnológicos existentes.

Essa aproximação no entanto é variável nos dias que correm consoante a conveniência dos espaços geográficos que recebem as correntes de imigrantes, no caso, chegados de África.

Escrevo este texto não no sentido de condenar a forma como o espaço europeu, através da União Europeia tem conduzido o processo de busca de soluções que minimizem a perda de vidas humanas, ou que possibilitem o direito à vida com dignidade aos meus irmãos africanos que têm sido apanhados nas malhas da imigração clandestina.

Escrevo este texto, no sentido de juntar uma ideia às várias ideias que têm sido apresentadas nas várias conversações bilaterais e multilaterais entre países africanos e países europeus.

Julgo que esta questão da imigração clandestina passa pelo diálogo, mas não só pelo diálogo restrito entre os países europeus afectados e os países africanos que acolhem ou de onde são originários os imigrantes ditos ilegais.

Esta questão deve ser lançada ao debate global, deve ser lançada no âmbito das Nações Unidas.

No meu ponto de vista, muitos problemas que afectam o continente africano derivam essencialmente de 2 posturas distintas de relacionamento entre os países africanos e a Europa (referência que pode ser aplicada à América, ou à Ásia noutros contextos)e prejudiciais sobretudo aos povos africanos.

São essas posturas:

1- A postura do complexo que a Europa ainda tem em relação ao passado colonial em África.

2- A postura da intolerância perante o efeito sombra do poder colonial que persiste na memória dos africanos.

Estas 2 posturas são colocadas a nível de decisão, ou seja das estruturas do poder quer na Europa quer em África e são caracterizadas na prática da seguinte forma:

A Europa tem conceitos definidos sobre por exemplo o que é a democracia. Insiste na sua aplicação no espaço europeu, independentemente da concepção ideológica que esteja no poder, seja em que país europeu for.

A Europa tem conceitos definidos sobre o que é a liberdade, os direitos humanos etc. e faz questão que esses conceitos sejam observados no seu espaço.

Em suma, a Europa cumpre com os princípios que constam na Carta das Nações Unidas.

A África teoricamente tem conceitos definidos sobre por exemplo o que é a democracia. Não insiste na sua aplicação no espaço africano.

A África teoricamente tem conceitos definidos sobre o que é a liberdade, os direitos humanos etc. mas não faz questão que esses conceitos sejam observados no seu espaço.

Em suma, a África não cumpre com a Carta das Nações Unidas.

Na relação intercontinental entre a África e a Europa, não se abordam assuntos como direitos humanos, liberdade, democracia etc. porque de um lado os europeus têm complexos que os africanos lhes chamem de colonialistas ou neocolonialistas, ou que lhes digam que não aceitam ingerência nos seus assuntos internos!

Da parte africana, há uma postura de intolerância na apreciação de uma abordagem sobre a democracia, liberdade, direitos humanos etc. como que uma caracterização da aculturação que o efeito sombra do poder colonial quer reintroduzir.

Este antagonismo passou a ser evitado, prejudicando nitidamente os povos africanos, que continuam privados do essencial: a liberdade de facto!

Poder-se-á dizer inclusivamente que há um cinismo nas relações entre a Europa e a África, relações essas que sobrevivem única e exclusivamente com base na procura e na oferta conforme os interesses de parte a parte.

É com base neste cinismo que os povos africanos continuam a não conseguir libertar-se das ditaduras que têm desgraçado o continente negro apoiadas pelo silêncio da Europa numa cartada estratégica de conveniência.

África, continente riquíssimo não consegue que a produção das suas riquezas sirva para melhorar as condições de vida das suas populações, tudo porque a grande maioria dos regimes no poder funciona com base na ditadura e na corrupção.

Continua a haver pouca liberdade, poucas escolas, poucos hospitais, falta de apoio médico, fome, falta de água, falta de cuidados sanitários, falta de quase tudo.

Continua a haver guerras devastadoras, perseguições, torturas, assassinatos. Continua a haver práticas de crime contra a Humanidade.

 A Europa e o Mundo sabem que assim é. Evitam colocar isso nas grandes agendas mundiais. Ninguém quer perder os direitos nos negócios existentes.

Ora os africanos não se sentindo bem no seu próprio espaço, visto não haver condições de respeito pela dignidade humana, cada vez mais procuram fugir, sair dos seus países, em busca de melhores condições de vida, tendo como meta a Europa numa primeira fase e os Estados Unidos como um sonho posterior.

Hoje em dia quer a Europa quer a América (Norte e Sul), contam com os préstimos de milhões de africanos nos mais diversos sectores de actividade.

Numa altura que se discutem ideias sobre a imigração ilegal oriunda de África, penso que se deve abordar a questão do relacionamento intercontinental numa perspectiva ousada mas saudável, de se pôr fim aos complexos que têm atrofiado acima de tudo o progresso do próprio continente africano através do apoio e sustentabilidade das ditaduras.

Não me venham falar em eleições em África como sinónimo de democracia!

O poder em África deve saber que tem que criar condições para que as populações se sintam bem onde vivem.

O poder em África deve saber que a riqueza deve ser aplicada em benefício dos povos africanos.

O poder em África deve estimular o desenvolvimento do continente, fazendo com que os africanos não sintam a tentação de fugir do continente!

 A Europa, por sua vez, tem que assumir colaborar na mudança de uma nova postura de governação em África, sem paternalismos nem complexos e com base na interpretação da Carta das Nações Unidas sem se deixar impressionar ou influenciar pelos argumentos de sempre: Não ingerência nos assuntos internos de cada Estado!

Há que considerar o seguinte: para que o Mundo esteja bem, é preciso que África também esteja!