Antevisão

 

Fernando Casimiro (Didinho)

Didinho

17.06.2005

Este trabalho não deve ser visto como reflexo de algum pessimismo em relação à conjuntura actual da Guiné-Bissau.

Trata-se, isso sim, da interligação de situações do dia-a-dia e da análise de encaixe das mesmas num quadro político-social "nublado" desenhado e pintado por artistas e admiradores, em simultâneo, numa conjugação perfeita de tendências manifestamente assumidas e, propícias a um ajuste de contas há muito "anunciado" ainda que sem data e hora marcadas.

O país está calmo diz-se. Aparentemente calmo digo eu.

 Observadores internacionais chegados ao país congratulam-se com o clima pacífico da campanha eleitoral em curso. O Secretário Geral da ONU bem como o Presidente em exercício da União Africana felicitam o Presidente da República interino e o Chefe do Estado Maior General das Forças Armadas pela forma tranquila como tem decorrido a campanha eleitoral. Mas o que pensam os guineenses sobre estas eleições e sobre os inúmeros cenários possíveis ou previsíveis, no rescaldo do acto eleitoral e com o anúncio do novo Presidente?

Pude trocar impressões com inúmeras pessoas, pude recolher opiniões de várias sensibilidades.

As grandes conclusões a que cheguei são estas:

 Nunca o país esteve tão dividido como está neste momento!

 A manipulação aliada à ignorância está presente e em força.

Há um vazio de referência e preferência pelos candidatos.

 

Há uma convicção profunda de que estas eleições nunca chegarão a ser festejadas seja quem for o seu vencedor porque o ajuste de contas, há muito que está traçado como profecia para o país. 

A Guiné-Bissau viverá de novo momentos conturbados, atravessará um período de letargia, mas ressurgirá iluminada por uma outra profecia; A profecia do reencontro definitivo entre irmãos.

 

A estas eleições presidenciais continuo teimosamente a associar o caso "06 de Outubro de 2004 "!

Um associar não no sentido de alguma interferência directa nos pressupostos estipulados pela Carta Nacional de Transição com vista às eleições presidenciais, mas sim aos factores estranhos que possibilitaram em tempo útil, toda a movimentação que desse forma a uma grande jogada estratégica que permitiu a João Bernardo Vieira "Nino", apresentar-se como candidato independente a estas eleições.

Como escrevi anteriormente, Nino Vieira é o rosto principal do "06 de Outubro", que continuo a dizer tratar-se de um golpe de Estado noutros moldes que não o habitual. Este golpe de Estado fomentou situações de anarquismo, tendo-se aproveitado das eleições presidenciais marcadas para 19 de Junho para possibilitar o regresso de Nino Vieira à Guiné-Bissau sem ter que ser julgado pelos crimes que cometeu, e  fazer dele um candidato, por forma a estar "limpo" perante a Comunidade Internacional, tendo caminho aberto para continuar no terreno a estratégia golpista em curso.

Nino Vieira "investiu" tudo para regressar ao poder na Guiné-Bissau. Sabe que se perder estas eleições  tornar-se-á vulnerável, até porque o exílio terminou e o seu julgamento seria apenas uma questão de tempo, quer fosse em Tribunal, quer fosse na praça pública!

Ora é precisamente por isso que este homem vai marcar o país uma vez mais pela negativa, porquanto se considerar já "presidente da Guiné-Bissau", estando apenas à espera dos votos, ou, em último caso e como recurso, usar a força caso a votação não lhe ser favorável.

Quero alertar para o facto de toda a elite de comando das Forças Armadas guineenses, afecta a Nino Vieira durante o conflito militar de 98/99 estar de regresso à Guiné-Bissau, depois do "exílio forçado" na República da Guiné-Conacry. O regresso destes militares foi negociado pelo próprio Nino Vieira e o actual Chefe do Estado Maior General das Forças Armadas da Guiné-Bissau Tagme Na Waie.

De uma coisa Nino Vieira não tem dúvida: O objectivo é o poder, custe o que custar. Só que, é preciso continuar a mostrar que ele Nino Vieira, é o mais interessado na reconciliação dos guineenses e, por isso, não ser sinónimo de instabilidade!

Este é o ponto de partida para uma abordagem realista do perigo que a candidatura de Nino Vieira constitui para a Guiné-Bissau.

 Nino Vieira vai perder nas urnas. Entretanto, continuo a dizer que está em execução um golpe de Estado concebido e dirigido por ele e que condicionará os resultados das eleições presidenciais de 19 de Junho.

 E se ele ganhar nas urnas, perguntarão alguns...?

 Remotamente isso é possível, mas seria muito mau para o país:

1- Fazia cair o governo de imediato. Qualquer pretexto seria válido.

2- Ao mesmo tempo que derrubava o governo, iniciava o ajuste de contas, sendo extensivo às Forças Armadas, às Forças de Segurança, à sociedade civil e às populações. Todos que não fossem a favor dele era porque eram contra ele e por isso teriam que ser  eliminados.

3- O próprio PAIGC seria rebaptizado e readaptado a um novo formato.

4- O país teria de novo um dono, passaria a ser outra vez um bem pessoal de Nino Vieira.

Em caso de derrota nas urnas, Nino Vieira activaria o sistema golpista usando a força para tomar o poder, estando os ensaios concluídos e os seus súbditos preparados para as operações que se seguiriam.

Estaríamos perante um golpe de Estado assumido, que  a Comunidade Internacional não se atreveria a dizer: Consumado!

Quer queiramos quer não, Nino Vieira é a figura destas eleições. Uma figura pela negativa, onde o simbolismo que representa é o de traidor da pátria, que em boa verdade, lhe assenta na perfeição!

Os guineenses têm a palavra!

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