AO TAXO DE LETRAS, TRAZ UM AMIGO.

 

Filomeno Pina *

filompina@hotmail.com

08.08.2011

Minhas caras amigas, amigos, compatriotas, famílias guineenses espalhadas pelo mundo inteiro, à boa gente que acolhe e ampara há décadas a Diáspora Guineense neste porto de abrigo, dando colo à inquietude daqueles que abandonaram o chão sagrado, fugindo e deixando a alma sepultada na saudade que fica, trazendo só o corpo para a vida, longe dos avós que não sabem dos netos, espalhados em busca de paz, trabalho e da felicidade possível, enquanto aguardam o reencontro com a mãe, terra sagrada.

As ferramentas da comunicação são espaços que fazemos nossas casas, como este Taxo de Letras, sempre cheio a transbordar, com muita gente à volta do cheiro das tintas, em histórias de vidas passadas, recordadas com amor ou tristeza, livremente, sem receios ou manias de perseguição, maltratados física e psicologicamente com a censura. Estamos num berço criativo da livre informação, a nossa casa de criatividades da informação, da manifestação cultural e da festa da palavra, prontos para o intercâmbio de ideias e experiências pessoais, colectivas, neste berço destinado a acolher e partilhar ideias, sem fronteiras, credos, ideologia política ou religião. O berço onde podemos deixar o nosso contributo e conviver na tolerância e respeito mútuo.

Neste espaço livre ao serviço da cidadania dinâmica e activa, do conhecimento, da sabedoria, usos e costumes, na sua experiência cultural e científica, temos um Taxo de Letras que nos traz muito que partilhar, cruzar informação ou simplesmente contar, escrevendo ou ditando, para chegar até onde Deus quiser, no lugar da palavra, aqui onde estamos, no lugar onde podemos dar o nosso contributo, dizendo o que sabemos, quando queremos informar e ser informados, livremente através da informação séria e verdadeira (preto no branco) que entra e sai, trazendo sempre algo que “cura” a curiosidade ou a ignorância em relação ao que queremos saber ou acrescentar ao nosso conhecimento  pessoal…

Qualquer voz solitária é demasiado curta para tão grande caminhada, caindo sempre perto, sem nunca chegar a todo lado, mas, este Taxo de Letras, é berço de afectos, há-de substituir esta impotência que teima em separar-nos e, ligar-nos através de contactos, numa velocidade luz até cada um de nós, ligando-nos um no outro, de mar a mar, notícia a notícia, recados para dar com sentimento e ligados com longevidade infinita, chegando onde não sabemos medir o quanto andamos para poisar e, onde paramos.

Com esta ferramenta das letras, podemos reunir vezes sem conta, basta clicar e deixar um olá, um pensamento, uma história verídica ou de ficção, expressar livremente sem  pré-conceito nem censuras. A nossa opinião vale muito, a responsabilidade ainda muito mais.

As vozes unidas passam a ser mais fortes, construindo e transcrevendo literatura oral, fazendo história da  cultura de afectividade do povo Guineense, longe de casa. Esta literatura oral que navega de boca em boca, sem fronteiras, fazendo eco, exprimindo um infinito de emoções, esculpindo ideias, caminhos, deixando testemunhos vivos do uso da palavra, também fundou culturas antigas, desde que o homem usa da palavra. Vamos falar, escrever e contar histórias reais ou de ficção, ao redor de um Taxo de Letras, esteja onde estiver e querer é só escrever e acrescentar ao caldo. Com palavras simples, transparentes, vivas, cheias de verdade para dar e, cuidarmos da liberdade de expressão justa e responsável de cada um de nós.

Toda a voz que sai, entra, levando e trazendo, da nossa imaginação, palavras. Podem ser usadas para travar e não se repetirem coisas menos boas do nosso conhecimento. Então, sempre há esperança em modificarmos o que está mal, o que periga a nossa existência humana, o que é injusto, desumano, doentio ou desonesto, simplesmente a partir da palavra escrita ou falada, dizer basta. Porque quem tem voz deve falar, usar o magnetismo da voz e escolher a direcção. Há quem saiba imitar quase todas as vozes e peque por não ter voz própria, Eu, Tu, e Nós, temos voz própria, temos nome e uma palavra a dizer ou a escrever. Nada nos calará se assim quisermos, sem imitações estranhas chegaremos tão perto como longe, mais longe do que a própria voz física alcance...

Neste mundo em convulsão vamos dar voz de protesto, bem forte (uma sugestão) a título de exemplo, todos por um e vamos "gritar" bem alto: não à guerra pelo poder do Crude, esse fóssil que andamos a retirar do subsolo planetário, deixando um imenso buraco negro e vazio em vários pontos do planeta, sem sabermos das consequências físicas para a humanidade. Hoje esta voz faz pouco eco, não se ouvindo quase nada, sabemos que sim, mas amanhã, quase de certeza temos um coro suficiente para fazer chegar qualquer mensagem, acredita. Fala, diz, escreve, não se cale! Para quando esta voz de protesto, este coro em sintonia se levanta ou deita-se para sempre? Receio o silêncio da voz profunda e boa conselheira, receio o silêncio da voz afinada e melódica, da voz que ascende e transcende limites do belo, que trespassa tocando corações, mentes virgens, fazendo mover o espírito do homem bom, em vez de montanhas, auto-estradas, barris de petróleo, carros blindados, aviões de combate, mentalidades perversas e retrógradas, mercenários, repetições  do poder da alienação, da mentira e calúnia, receio as vozes do mal, vozes assassinas a ouvirem-se desafinadas ou disfarçadas, receio a voz do engano, da desumanidade, da mediocridade de eleição, receio a voz da corrupção, receio perder a contra-voz, receio que Tu te cales, porque queremos a voz crítica, do bom senso, de harmonia, receio o silêncio da voz da inteligência, da paz e do amor à terra, da nossa pátria amada, queremos voz própria a dizer o que cada um sente pela terra amada, queremos a voz da verdade e, que seja dita sempre, por uma Guiné-Bissau verdadeiramente livre, a ombrear com países livres e democráticos.

Uma "balança-avariada" que tem sido ferramenta responsável pelo afastamento do bom senso, pelo atraso de desenvolvimento científico e cultural, pela corrupção e desvio de um rumo certo no desenvolvimento sustentado do País, implantou o receio do uso da liberdade de expressão, prejudicando o nosso processo de desenvolvimento que poderia com certeza trazer um bom ritmo, toda a sua evolução possível é influenciada. Simplesmente porque passamos a medir, pesar e ajuizar, mal, perdendo toda sensibilidade e perícia em reconhecer valores, o sentido de justiça, a razão pura e dura do que é e deve ser superiormente aceitável ou não. Este defeito tem vários rostos, o culto da vingança, da arrogância de poder, da falsidade e sua conduta indisfarçável, imoralidades, falta de ética, injustiças cometidas, os enganos e vícios cometidos a partir da orientação, análises e avaliações, executadas a partir de uma " balança-avariada", que teima em ser “modelo” da verdade da mentira. Como qualquer ferramenta inspirada do mal, acaba sempre mal, prejudicando objectivos fundamentais de um projecto global, deitando por terra a esperança de muita gente em reconhecer a médio prazo avanços.

O responsável maior de todos os males, ontem, hoje e no futuro, será este perfil de “balança”, se não mudarmos a peça avariada, por uma nova ou outra pouco usada, continuará a fazer estragos muito sérios. Há que cultivar uma balança cega/não viciada e que pode ser lida por qualquer um, facultando leitura justa e transparente ao serviço da verdade e justiça social. Queremos igualdade de circunstância e de condições para todos, sem desequilíbrio de valores por alienação, sem destruir as liberdades de pensamento e da acção, da criatividade, dos critérios que contemplam qualidade e diferenças, na arte, cultura e nas sociedades, acabando com a perseguição, o medo e, dando lugar à liberdade e a criatividade neste processo de desenvolvimento que se pretende harmonioso e global da nossa sociedade, sem recearmos o poder da inspiração criativa, da invenção, da critica, da investigação que ponha em causa outros valores ou critérios, sem recear o convívio com as diferenças na base da tolerância e respeito pela pessoa humana.

Há sentimentos que ocorrem só em pensamento, que nunca chegam à superfície por palavras para se manifestarem, se unirem a outros pensamentos ou pessoas, com ideias parecidas ou diferentes. Imagino que aconteça por receios, complexos de culpa, desconfiança pessoal, também pela ausência de hábito em expressarmos o que sentimos, pela simples razão do próprio desejo viver preso aos sentimentos inibidos, colados ao inconsciente, habituados à solidão, ao silêncio mortificante, mantidos no compromisso com a mentira da verdade. Mas, paradoxalmente, todo o sentimento crónico traduzido em palavras, só tem um caminho a seguir, sair pela boca fora e manifestar-se, bater de frente com a sua alma gémea ou rival, através do uso da palavra escrita ou da oralidade. O Taxo de Letras é ponte de ligação entre o corpo e a alma, entre a liberdade e a criatividade, entre transparência e a objectividade, entre fronteiras inter-continentais e culturas, entre religiões e os homens. É a luz, a claridade, a transparência desejada no uso das palavras, que está ao dispor de todos nós, aberto há novas ideias. É a liberdade de expressão viva entre todos os seres humanos que queiram partilhar neste convívio de dar e receber novas do mundo inteiro onde pisa a Diáspora Guineense...

O Taxo das Letras tem colo grande, veio em boa altura, cabemos todos, não tira os dentes para descansar, é como o Elefante, dorme, acorda e levanta-se com os dentes, não os descansou desde que se viu obrigado a traze-los à frente dos olhos, cuida-os.

É mais um caminho a seguir que culmina com a rua da liberdade de expressão, das palavras soltas, do pensamento livre, vamos usar com liberdade e responsabilidade, só.

Aqui deixo no Taxo de Letras, algumas palavras como contributo para o engrossamento deste caldo, aproveito homenagear aqueles que há muitos anos nos têm brindado com o seus trabalhos de investigação jornalística e de informação (exemplo de bom jornalismo) como o nosso camarada, Fernando Casimiro (Didinho), com contributos notáveis do ponto de vista da observação, investigação e transcrição de histórias de vidas, não só por este profissional, como também outros nomes notáveis do jornalismo, espalhados pelo mundo, que têm deixado os seus testemunhos sobre a Guiné-Bissau e não só, com vários trabalhos publicados (de jornalismo e também de investigação científica). Quero agradecer publicamente o vosso esforço e dedicação profissional, contribuindo deste modo para reaproximar o nosso País dos seus filhos e amigos. Um bem-haja a todos, votos e continuação de um bom trabalho, estudos e progressos profissionais.

Um abraço Guineense.

Filomeno Pina.

* Psicólogo clínico

ESPAÇO PARA COMENTÁRIOS AOS DIVERSOS ARTIGOS DO NÔ DJUNTA MON


VAMOS CONTINUAR A TRABALHAR!

associacaocontributo@gmail.com

www.didinho.org

   CIDADANIA  -  DIREITOS HUMANOS  -  DESENVOLVIMENTO SOCIAL