A OPINIÃO DE NORBERTO DE CARVALHO " O COTE"

 

18.09.2006

Caro Didinho,

Independentemente do que nos diz o Sr. Umaro Djau (que não tive a oportunidade de conhecer) aprecio o tom (a forma) da sua linguagem. Também acho que, por vezes, não vale a pena levantar a voz para se fazer entender. O respeito deve ser o princípio de base em qualquer tipo de comunicação. E em situações de flagrantes desacordos (como é o caso das tuas trocas de palavras com o Sr. Filinto Barros - ("De-Gaulle") este princípio deve ser observado ainda com mais rigor. Esta atitude, o respeito, não prejudica em nada as bases do desacordo, antes pelo contrário, dá-lhes mais ênfase enobrecendo-as. Claro que por vezes é difícil controlar-se, sobretudo quando se está em presença de décadas de frustrações que se tenta banalizar. É óbvio que tais atitudes não devem ser caucionadas mas combatidas.

Também creio que a democracia, num país como o nosso, não se pode medir só pelos resultados das urnas (ventre affamée n'a point d'oreille!). Os que participam nos teus "Dois dedos de conversa com o Filinto Barros", foram inequívocos quanto aos critérios necessários à classificação de uma sociedade de democrata. Na verdade, é arriscado afirmar que na Guiné-Bissau já existe democracia só porque os observadores da ONU acharam que os resultados das últimas eleições presidenciais foram "justas e transparentes". Vindo da parte de um intelectual avisado como o "De-Gaulle", é curioso. Mas talvez não seja fruto do azar. A verdade é que, quanto a mim, a intelectualidade guineense, - representatada numa certa época pelo Dr. Vasco Cabral, Dr. Filinto Barros e muitos outros - sempre teve um comportamento estranho no processo evolutivo da Guiné-Bissau. Creio que o verdadeiro debate é mesmo o papel desta classe no processo do desenvolvimento da Guiné-Bissau. Pois, tudo leva a crer que, raras vezes, decidiu implicar-se de maneira construtiva no processo, preferindo muitas vezes o comodismo, correndo o risco de renegar o papel motor que o Amilcar Cabral preconizara para ela. Para ter uma ideia mais precisa da implicação de grande parte da intelectualidade guineense no saque a que o país foi submetido, sobretudo, sob a pilotagem desastrosa do Sr. João Bernardo Vieira (1980-1998), sugiro a visualização de uma reportagem da SIC, realizada em Bissau em 1993, sob fundo de uma entrevista com o Presidente da República, o mesmo Sr. João Bernardo Vieira, onde se abordou largamente a questão da corrupção nas altas esferas do então poder guineense e na escandalosa promiscuidade entre o poder político e o poder económico. Os factos revelados pela SIC não combinam com o desejo de construção de uma sociedade democrática...  O alinhamento incondicional de intelectuais ao lado de um poder corrupto, vem de longe. O Filinto Barros deve saber qualquer coisa sobre esta questão. Termino, encorajando os participantes deste "fórum" a deixarem exprimir o ex-dirigente guineense, é dos raros testemunhos que dão a cara o que é importante e exemplar. E se o Filinto Barros me permitir, incito-o também, como mais velho, a perceber as necessidades da nova opinião política guineense representada por uma nova geração que aí no terreno luta dia a dia na balizagem do processo democrático e pelos que, como o iniciador e os participantes nestes "Dois dedos de conversa...", alimentam o desejo ardente da justiça para o desenvolvimento económico e o progresso social na Guiné. Proponho a todos que as opiniões tenham mais sentido do que força. Pois vê-se que de qualquer maneira o facho da luta pela verdade, pelo verdadeiro perdão e pela reconciliação na nossa terra é irreversível. Mantenhas.


A resposta de Fernando Casimiro à opinião do Norberto de Carvalho "O Cote"

 

Caro "O Cote",

Diria estar totalmente de acordo com a sua opinião, não fosse esta passagem:

"Também acho que, por vezes, não vale a pena levantar a voz para se fazer entender. O respeito deve ser o princípio de base em qualquer tipo de comunicação".

Creio que nem "O Cote", nem o Umaro Djau souberam interpretar a forma de expressão por mim utilizada e que volto a fazer referência aqui conforme já tinha feito em relação à opinião do Umaro Djau.

  A escrita tem vários estilos bem como formas de interpretação. O Umaro sabe-o perfeitamente. Tenho procurado criar um estilo próprio, uma forma própria de escrever, à minha imagem e que contemple os princípios e valores que defendo. Posso não estar no caminho certo, mas foi o caminho que escolhi e é por ele que trilharei. Se um dia tiver que escrever romances, por exemplo, talvez me molde às exigências e condicionalismos que isso implica. Hoje estou numa luta. A minha forma de escrever simboliza uma luta. Não poderia fazer esta luta com uma filosofia que não a minha. Reconheço alguma agressividade na forma de escrever, mas não associo essa agressividade à falta de respeito a quem quer que seja.

 "O Cote", sabe e muito bem que, por exemplo, aquando da existência do fórum africamente, secção relativa à Guiné-Bissau, eu fui quase sempre insultado e ameaçado à letra (!) simplesmente por defender as convicções que defendo.

 "O Cote" sabe que dou oportunidade a todos para se exprimirem e foi nessa base que o "lancei" no debate sobre a Guiné-Bissau, facto aproveitado por muitos para um ataque à minha pessoa tendo como argumento, o passado do "O Cote" apresentado em várias versões, como tendo pertencido à Segurança do Estado durante o regime de Luís Cabral.

Eu justifiquei que era e é preciso dar voz às pessoas, pois só assim podemos saber o que elas têm para nos dizer, pese embora a análise ser nossa, ou seja, de cada um.

Independentemente do que cada um pensar pelo facto de lhe ter dado essa oportunidade, colocando as suas opiniões no espaço "Nó djunta mon", aproveito para dizer que esta atitude é um princípio alargado a todos, independentemente do nome e do estatuto social de quem quiser emitir a sua opinião sobre que assunto for.

Com o Filinto de Barros o princípio é o mesmo, cabe a ele decidir se quer ou não participar no debate sobre o país.

Cabe a cada um que se lança no debate, compreender que não se pode querer moldar os tons de expressão, por conveniência, argumentando a questão da falta de respeito pela utilização de termos expressivos que se encaixam no chamado "Dicionário Político" e que fazem parte do Dicionário da língua portuguesa, ainda que extensivos a interpretações várias, mas que se enquadram nos propósitos do próprio debate.

Vamos continuar a trabalhar!

Fernando Casimiro (Didinho)

 

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VAMOS CONTINUAR A TRABALHAR!

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