A OPINIÃO DE UMARO DJAU
02.09.2006
Também eu arrisco-me em entrar neste debate não como defensor de ideologias, mas como um possível dissuasor.
Acho que julgar o Sr. Filinto de Barros desta maneira dignifica um pouco este fórum que o meu amigo Didinho quer promover. Assim, em vez de trocarmos impressões e respeitar ideias contrárias, paulatinamente corremos o risco de alienarmos os que são ou seriam leitores e participantes deste fórum.
Na minha nobre opinião, é preciso muita tolerância, consideração e o respeito ao próximo -- como aliás manda a tradição guineense (baseando-se no pressuposto de que devemos dar o benefício de dúvidas aos mais idosos). Com isto não quero dizer que uns devem submeter-se aos outros, mas devemos saber fazer um ponto final nas discussões, sempre que as mesmas nos levem ao ponto de ruptura.
Aprendi há já algum tempo de que quando se discute na tentativa de ridicularizar o próximo ou pura e simplesmente para se tentar "ganhar" a discussão, as pessoas tendem a ser conduzidas pelos ânimos e não pela inteligência ou lógica.
De uma forma sucinta, gostaria de me referir à questão de ser-se "servidor do regime" guineense. Para mim, a maioria dos quadros guineenses que trabalharam na Guiné-Bissau caíram nesse dilema de servir o regime e não o Estado propriamente dito. E foram poucos os que questionaram a moralidade das suas práticas. Os exemplos são demasiados: instituições bancárias, finanças públicas, forças armadas e policiais, Juízes e Juristas, Diplomatas, Jornalistas, Professores, Sindicalistas, etc., etc. Afinal de contas, o único empregador era o Estado guineense.
Realizações pessoais de lado, não seria um exagero afirmar que muitos quadros guineenses -- se não mesmo a maioria -- têm tido uma conexão com o passado "(in) dignificante" da história da Guiné-Bissau. São eles que se formaram à custa das influências dos pais; aqueles que tiveram acesso ao crédito (perdido) bancário; aqueles que ocuparam altos cargos político-partidários devido às influências dos amigos e familiares e aqueles que mais tarde "refugiaram-se" debaixo das instituições internacionais e das ONG's.
Dita de uma forma simples e retrospectiva, aqueles que estiveram ao lado de Luís Cabral, "comeram" com o regime e ignoraram as valas comuns; aqueles que estiveram (e estão) com Nino Vieira seguiram o mesmo caminho. O mesmo passou-se em relação à curta Presidência interina de Malam Bacai Sanhá auxiliado pelo falecido Ansumane Mané, cuja morte continua ainda por esclarecer. A história repetiu-se com o Dr. Kumba Yalá e a sua cúpula. Depois foi a vez de Veríssimo Seabra -- também morto em circunstâncias ainda por esclarecer -- que também teve aliados (incluindo muitos altos quadros que aliás foram os co-autores da chamada "Carta de Transição"). Conheço muitos, incluindo advogados, poetas e políticos.
Ainda assim, muitos orgulham-se das suas contribuições na edificação da sociedade guineense, mesmo que as heranças do passado não ofereçam razões para isso. Será esta uma atitude condenável? Talvez sim ou talvez não! Todavia, o importante é saber decifrar os erros do passado e começar a edificar uma opinião pública sã e capaz de fazer face aos desafios do presente e do futuro.
Mas, infelizmente, na ausência de um argumento sustentável, o guineense prefere "insultos" e "coba mal". Tentemos acabar com isto, amigo Didinho e o Sr. Filinto Barros. Se de facto, somos a classe intelectual guineense, devemos "liderar" os mais novos com exemplos de prudência, respeito e valorização de ideias contrárias.
Como se diz em inglês, "let's agree to disagree." Tradução: vamos concordar em nos discordar. Bem, como dizia o outro, os tradutores são traidores. Mas espero que tenham retido a ideia e a opinião.
Em prol do desenvolvimento da Guiné-Bissau, convido-vos a debater temas e projectos que favoreçam o erguer de uma sociedade sã, justa, democrática e viável.
Estamos juntos,
Umaro Djau
Caro Umaro,
Li atentamente a sua reflexão, que espelha uma opinião no sentido positivo de um debate saudável que se pretende entre guineenses.
Concordo plenamente com o princípio do respeito pelas ideias e opiniões divergentes que sublinhou e que também procuro sempre cumprir.
Compreendo e agradeço a sua preocupação na dignificação do espaço Guiné-Bissau: CONTRIBUTO, preocupação que também é minha e de muitos guineenses e amigos da Guiné-Bissau que se habituaram a frequentar o espaço.
Vejo esta sua mensagem como um contributo à moralidade, à ética. No entanto, sem querer me defender mostrando querer ser sempre dono da razão, julgo que há 2 factores que podemos considerar sobre este assunto:
1- Não estou a julgar Filinto de Barros neste espaço. Quem se está a dar a conhecer é precisamente Filinto de Barros, pelas suas próprias palavras e não necessariamente pelos meus comentários em relação à sua pessoa.
2- A escrita tem vários estilos bem como formas de interpretação. O Umaro sabe-o perfeitamente. Tenho procurado criar um estilo próprio, uma forma própria de escrever, à minha imagem e que contemple os princípios e valores que defendo. Posso não estar no caminho certo, mas foi o caminho que escolhi e é por ele que trilharei. Se um dia tiver que escrever romances, por exemplo, talvez me molde às exigências e condicionalismos que isso implica. Hoje estou numa luta. A minha forma de escrever simboliza uma luta. Não poderia fazer esta luta com uma filosofia que não a minha. Reconheço alguma agressividade na forma de escrever, mas não associo essa agressividade à falta de respeito a quem quer que seja.
Vamos continuar a trabalhar!
Um abraço
Didinho
VAMOS CONTINUAR A TRABALHAR!
Projecto Guiné-Bissau: CONTRIBUTO