AOS PAIS GUINEENSES

 

 

 

Cadija Mané

Cadija Mané

19.03.2009

Hoje 19 de Março, o dia em que se comemora o dia do Pai, quero dedicar as seguintes linhas ao meu pai, meu papy Bacar Mané.

Falo-vos de um homem, que dedicou mais de 20 anos ao Estado da Guiné-Bissau como motorista/chauffeur dos n’s embaixadores acreditados em diferentes países representando o Estado.

Meu pai sempre exímio, opinião de muitos cidadãos que frequentaram aquela Embaixada do Restelo (Portugal), homem humilde e sempre disponível a facilitar a entrada e a saída de vários documentos das várias pessoas que lhos solicitavam. Não era visto só como um simples motorista, foi mais do que isso, ajudou tantas pessoas, umas conhecidas e chamadas na praça de Bissau, estas mesmas pessoas de quem ele precisou um dia e simplesmente lhe viraram as costas!

Um dia qualquer do mês de Junho de 1998, recebemos do Banco uma ordem de despejo, porque havia já um ano ou mais que a Embaixada da Guiné-Bissau não pagava a renda de casa (na altura, a embaixada tinha o encargo de pagar a renda de casa dos seus funcionários), desse dia até ao momento presente tudo tem sido por nossa conta, a embaixada nunca mais acarretou com nenhuma responsabilidade. Muitos dos funcionários que lá estavam abandonaram os seus cargos e foram tentar algo melhor, mas o meu pai, sempre firme, acreditando em dias melhores, mas esses dias nunca mais chegavam...O que chegou foi uma triste constatação e desilusão que lhe tomaram conta da alma e veio a reforma. Decidiu reformar-se, viu que muitos anos da sua vida se foram, sobrando apenas com algumas migalhas que servem de alimento para os imensos pombos do Rossio!

Antes do findar do ano cessante (2008) decidiu e porque era a única solução, reformar-se do Estado guineense, e quer queiram ou não, digo-vos, que a única coisa que a Embaixada da Guiné-Bissau em Portugal, pôs à sua disposição, foram uns quantos bilhetes de passagem caso ele e a sua família quisessem regressar às origens, eu disse bilhetes de passagem! Um pai de família com 5 filhos (já crescidos é verdade), mas 5 filhos e muitos anos dedicados, iria regressar ao seu país com algumas malas e com alguns bilhetes de passagem, uma vez lá, ele que se desenrascasse... O meu pai tem anos e milhões de francos CFA, como crédito de salários a receber do Estado guineense, até hoje não vimos nenhuma nota arosada ou azulada ou verde desse dinheiro, eu mesma, meses e meses no Ministério dos Negócios Estrangeiros e nas Finanças ate à data presente a conversa é a mesma: ‘dinhero ka ten ou kusas ka regularisado’. Ele esteve em Bissau em 2006, após anos de ausência, pensou que falando com as ditas personalidades conhecidas e influentes, que ele conhece dada a sua profissão, mas, como se diz na gíria, ‘o tiro saiu-lhe pela culatra’, não viu nada, porque ninguém teve a dignidade de o ajudar, ficou tão desiludido que voltou doente para Lisboa, tantos anos de salário em atraso, o que é seu por direito, de quem se levantou várias vezes entre as 5/6 da manhã para ir receber alguém ao aeroporto, anos de salário em atraso para quem muitas vezes chegou a casa altas horas da madrugada porque esteve com esta ou aquela delegação, este homem só queria recuperar o que é seu para poder levar uma vida digna, porque ser emigrante, como sabemos, não é assim tão fácil!

Meu pai tem um sonho, acredito que semelhante a muitos dos pais guineenses que se sacrificam ou que se sacrificaram para dar às sua famílias o mínimo indispensável. O seu sonho de levantar alicerces e de construir uma casa na sua pátria, onde ele possa morar com a sua família, um lugar onde ele poderá fechar os olhos um dia e descansar! E para realizar este sonho, mesmo contra a nossa vontade, nós os filhos, ele partiu para Londres, está a trabalhar numa fábrica porque quer juntar alguns tostões para começar a construir...

Esta é talvez, a história de muitos homens guineenses. Este é o respeito que o Estado da Guiné-Bissau e os seus sucessivos governos têm pelo funcionário guineense.

Não quero e nem posso deixar de aqui mencionar a minha mãe, ela como mulher, esposa e mãe, sempre forte, corajosa e determinada, enquanto crianças e adolescestes nunca nos faltou nada e graças a ela, tenho hoje uma parte da minha formação concluída. A actual realidade do país revela que na maior parte das casas guineenses a fonte de rendimento vem das mulheres, elas têm sido o pilar das suas casas. Às mulheres guineenses um bem-haja.

Aos meu pais, como filha que sou, tenho a desejar-lhes mais anos de vida e saúde para que um dia possam dizer que valeu a pena todo o esforço e que eu e os  meus irmãos possamos ainda lhes compensar por tudo o que fizeram e fazem por nós!

Feliz Dia pais!


PROJECTO GUINÉ-BISSAU: CONTRIBUTO - LOGOTIPO

VAMOS CONTINUAR A TRABALHAR!

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