Apontamentos do facto 21
Ernesto Dabó 05.11.2012
Como se de uma disposição convencional se tratasse, mais um fim-de-semana foi perturbado no país, pela sobreposição de sons de disparos de armas de fogo, a sons das discotecas cheias de nossos filhos a tentarem divertir-se sem se darem conta que gente que se julga adulta e responsável, estava a cometer mais um atentado ao seu futuro. Enquanto não se faz a devida luz sobre o que se passou na noite de 21 de Outubro, proponho-me apontar e ponderar alguns factos disso decorrentes: - O quartel dos Pára-comandos, é nosso, do Estado da Guiné-Bissau ; - Os Pára-comandos, são filhos da Guiné-Bissau; - Os mercenários que tentaram o assalto, são filhos da Guiné-Bissau; - Os seis jovens que perderam as suas vidas ingloriamente nessa loucura, são filhos da Guiné-Bissau; - Os dirigentes políticos que foram espancados e atirados ao mato como se de sub-humanos se tratasse, são filhos da Guiné-Bissau; - Os que os espancaram, são filhos da Guiné-Bissau; -Os que foram vítimas de incómodos e, alegadamente, de atrocidades, nomeadamente em Bolama, consequentes da operação que levou à captura do alegado chefe dos assaltantes, são filhos da Guiné-Bissau; - Os que realizaram a operação, são filhos da Guiné-Bissau; - A indignação e condenação do criminoso atentado ao processo de estabilização, pretendida com a tentativa mercenária de 21 de Outubro, são maiores e definitivas em toda a Guiné-Bissau; - O irresponsável aproveitamento desse vil ato para motivar o crime maior e potencialmente mais sanguinário, de instigar ódios e conflitos entre guineenses, pretensamente por razões tribalistas, também foi feito por filhos da Guiné-Bissau; - Que disso tenhamos consciência ou não, todos os filhos da Guiné-Bissau foram responsáveis e vítimas da traição cometida nessa ininteligente e fatídica ação terrorista, contra o interesse comum e vital para todos e toda a Guiné-Bissau, de nos colocarmos definitivamente na via da construção da paz e desenvolvimento. - Todos nós temos como lugar de nascença e Pátria, esta Guiné-Bissau, infelizmente, ainda não amada como merece, por todos os seus filhos e “enteados”, alguns dos quais, até se negam a nobreza de dizer poesia de boca fechada, conspurcando os ares com o atrevido ar de ingratos, considerando o seu Estado um “narco-Estado”. Cada facto que apontei, tomado por si ou conjugado com os restantes, prova que a nossa crise é cultural antes de ser de outra natureza. Manipular ou deixar-se manipular para fins ignóbeis como os de destruir vidas humanas e bens públicos ou particulares, visando uma suposta defesa de interesses desta terra que nos viu nascer, é gritante demonstração de falta de cultura; Ignorar ou desconhecer que a Guiné-Bissau, por tudo o que nos dá, apenas nos pede em troca que nas nossas relações nunca nos esqueçamos que dela temos o apelido comum de GUINEENSES, que devemos sempre dignificar, é gritante falta de cultura patriótica. Confesso a minha vergonha pela parte da responsabilidade que me cabe das nossas derrotas. Reitero solenemente seguir combatendo as minhas fraquezas, de forma a melhor contribuir para as nossas vitórias. Paz às almas das vítimas mortais, justiça aos ofendidos e, compreender e educar os que não compreendem a infinita pobreza do crime e da guerra. Ernesto Dabo
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